Tic
tac tic tac cada segundo que passa tic tac tic está
perdido... versos que escrevi na infância, lembra? Eu já sentia que o tempo
passa e não tem jeito, passa, e está perdido.
Acho
que escrevi estes versinhos depois de ler o romance
O tempo e o vento, de Érico
Veríssimo. Ele dizia que o tempo custa a passar quando a pessoa espera,
principalmente quando venta. Mas é só uma miragem.
Na
verdade, o tempo sempre passa depressa demais, e é breve
a nossa vida. E jogamos tanto tempo fora, Ah eu podia ter feito isto e não fiz,
ah eu podia não ter feito aquilo, e fiz, Ah como perdi meu tempo!
Aproveitar
o tempo é uma arte difícil. Exige atenção, controle de si,
disciplina, e é preciso aprendermos uma espécie de arte da escolha. Isto sim,
isto não, isto talvez...
As
delícias do mundo são amigas do tempo, e inimigas de quem
quer fazer alguma coisa em sua vida. Tantas ofertas, tantas obrigações, tantas
responsabilidades... Perdemos tanto tempo com mundanismos que queremos e não
queremos!
Quem
não prefere passear na praia, tomar um vinho com
amigos, ou uma boa mesa de conversas, e outros prazeres? Melhor do que
enfrentar uma página em branco, ou uma decisão complicada, ou um olhar sobre si
mesmo.
O
tempo passa depressa demais e a cada dia passa mais
e mais depressa, quanto mais temos memórias, menos prestamos atenção ao momento,
e nos perdemos nos rios de lembranças e nas gavetas das recordações, e nas
janelas abertas para o amanhã. E assim, não vemos o dia passar.
Vemos
apenas o tempo que já passou. Tic tac e se foi. Temos um
relógio de cuco em nossa mente. Quando o passarinho canta, canta o tempo que
passou. Adeus, dia. Mas o tempo da vida não pode ser medido nos relógios.
Acreditamos
no amanhã. E o amanhã se torna ontem. O tempo passou e nem
percebemos, quando nos damos conta, o dia já se foi, e nem sabemos quanto tempo
ainda temos. Vamos entrar em 2018! Quando eu era mocinha e queria dizer que
algo estava tão longe que talvez jamais acontecesse, dizia: Só no ano 2000.
Ainda
bem que existe o tempo literário. No tempo literário,
nem sempre as coisas acontecem na ordem do tempo ou do espaço. Leio a última
página hoje, amanhã releio o começo do livro: tudo recomeçou.
O
maravilhoso escritor argentino e universal, Jorge Luís
Borges, escreveu uma narrativa em que mostra os descendentes de Kafka. Só que
muitos desses descendentes, escritores com uma literatura intensamente
kafkiana, viveram séculos antes de Kafka. Mas se tornaram descendentes de Kafka
pela força da sombria atmosfera kafkiana.
Isso
quer significar: eu posso ser neta de meus netos ou avó
de meus avós. Uma outra contagem de tempo, não cronológica. O tempo da vida não
se passa nos relógios tic tac tic tac... Mágica.
Também
nosso pensamento não se passa cronologicamente e somos,
mesmo, capazes de mudar a ordem dos fatos em nossa memória. O que aconteceu
antes passa a acontecer depois.
“O
tempo passa depressa demais e a vida é tão curta.
Então — para que eu não seja engolida pela voracidade das horas e pelas
novidades que fazem o tempo passar depressa — eu cultivo um certo tédio.
Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da
eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto (Clarice, no
romance Um sopro de vida).
Mas,
como viver muitos minutos num só minuto? Tenho um plano para
aproveitar o tempo: todos os dias, preciso realizar algo, seja uma página
escrita, um desenho, ou a resolução de um problema. Modesto consolo, pequena
ilusão.
“Cada tic
tac é um
segundo da vida que passa, foge, e não se repete. E há nele tanta intensidade,
tanto interesse, que o problema é só sabê-lo viver. Que cada um o resolva como
puder”. Palavras da artista Frida Kahlo, um quase poema, parecido com o meu,
porém, mais vivido.
O
tempo resolve! Dizia meu pai, quando aparecia um
problema que ninguém conseguia resolver. O tempo vai resolver! O tempo passa,
mas tudo pode ser inesquecível. E a lembrança recolhe o tempo, o tempo retorna,
e não passa mais.
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