sábado, 4 de março de 2017

"Tratado de como não se deve tratar a história e a cultura no país", case do programa #Partiu


Poeta e historiador Nicodemos Araújo, de Acaraú

Dimas Carvalho, poeta, contista e sério estudioso das coisas das letras e da história, em depoimento distribuído nas redes sociais nos ensina e prova que “de boa intenção, o inferno está cheio”. Poderíamos intitular “Tratado de como não se deve tratar a história e a cultura no país”.
Alguns documentaristas e/ou programas de TV, com a boa-fé de realizar um produto de importância cultural, pela falta de uma consultoria competente e qualificada e com tempo sempre reduzido, acabam por distribuir um monte de lixo em embalagem de luxo. Como a maioria de seu público é não leitor e desconhece de sua própria história, passa a engolir aquilo tudo como se assim ela fosse, acreditando que aquilo só pode ser verdade, pois assistiu na TV. Ou seja, essas emissoras prestam um grande DESSERVIÇO à cultura. No caso, o programa “#Partiu” da TV Verdes Mares, canal 10.
FUNDAMENTAL: essa não é uma crítica pela crítica, mas uma chamada de atenção a todas e qualquer emissora bem intencionada. Nesse quesito, não vale de jeito nenhum a expressão “é melhor do que nada”. Ao contrário, nesse caso, vale mais o silêncio. Essa chamada de atenção é válida não apenas para a Verdes Mares, mas a qualquer outra emissora de TV ou veículos impressos, eletrônicos e radiofônicos no Ceará e no Brasil.
Leiam a seguir a análise do programa “#Partiu” veiculado no sábado, dia 4 de março de 2017, no qual Dimas foi um dos entrevistados:
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Como alguns amigos e amigas me telefonaram perguntando porque a entrevista que eu dei ao programa "#Partiu", da TV Verdes Mares, veiculado hoje, não apareceu no supracitado programa, creio que devo esclarecer o fato em epígrafe, o que passo a fazer agora.
01) TODAS as informações sobre a História do Acaraú que o repórter falou, inclusive com os nomes e as datas precisas, foram dadas por mim, na entrevista que realizou, com mais de uma hora e meia de gravação, na minha residência;
02) Os erros crassos e ridículos cometidos pela professora (?) Márcia Andrade, atual Secretária de Cultura do Acaraú, tal como dizer que o padre Antônio Tomás NUNCA PUBLICOU os seus poemas e que dona Dinorá Tomás Ramos, sobrinha do padre, ainda está viva em Sobral, quando na verdade ela já morreu há mais de 20 anos, apenas revelam o despreparo e o analfabetismo da dita professora(?). O padre Antônio Tomás NUNCA permitiu que se reunisse a totalidade dos seus poemas em livro impresso, mas SEMPRE publicou os seus poemas nos jornais da época, tanto do Acaraú, quanto de Fortaleza e de Sobral. Aliás, esta informação consta do livro "Padre Antônio Tomás: Princípe dos Poetas Cearenses", publicado em 1951, por ocasião dos dez anos de morte do escritor, e que teve duas edições posteriores, cuja autora é exatamente a sobrinha predileta do poeta, que com ele conviveu por vários anos no Acaraú, Dinorá Tomás Ramos. O que demonstra cabalmente que a professora(?) Márcia Andrade sequer se deu ao trabalho de ler o livro que ostenta na entrevista. O padre Antônio Tomás era tão modesto que deixou em testamento o pedido para nunca publicarem LIVRO QUE REÚNA TODA A SUA OBRA, coisa que a dona Dinorá acatou, excluindo do livro alguns de seus poemas.
03) Também errônea é a informação dada pela Secretária da Cultura (“oh tempora oh mores”, diria Cícero, o maior dos oradores latinos), de que o padre Antônio Tomás tenha vivido na clausura, pois só quem vive na clausura, palavra latina que significa "fechamento", são os frades e as freiras, e não os padres ditos seculares, que administram paróquias, como foi o caso do padre Antônio Tomás, que NUNCA foi frade ou monge, mas sim pároco do Acaraú e do Trairi. Ele inclusive foi pai de uma filha, chamada Maria Celeste Peixoto, cuja assinatura eu possuo no antigo Livro de Atas do Recreio Dramático Familiar, clube diversional e teatro do Acaraú entre 1915 e fins da década de 60.
04) Também causa estranheza não ter sido citado uma única vez o nome do homem que escreveu toda a História do Acaraú e da Região, o poeta e historiador Nicodemos Araújo, amigo e sucessor do padre Antônio Tomás na áurea dinastia da poesia acarauense. Nicodemos Araújo, meu avô, publicou 28 livros, pertencia à Academia Cearense de Letras e à Academia Sobralense de Estudos e Letras. É o autor do Hino e também da Bandeira do Acaraú. Figura, portanto, inescapável, quando se trata da História do município.
05) Não bastando a queda, o coice: o cozinheiro do restaurante "Castelo" afirma que o Brasil foi descoberto pelas naus Santa Maria, Pinta e Nina: confundiu Pedro Álvares Cabral com Cristóvão Colombo, descobridor da continente americano.
06) Concluindo, para não me deter nos outros numerosos erros cometidos pelos entrevistados, acho que este programa "#Partiu", que falseou totalmente a História do Acaraú e a História do Brasil, serviu pelo menos para uma coisa: mostrar ao povo acaruense e cearense a inépcia, a ignorância e a falta de conhecimento que norteiam a atual gestão (?) da Cultura e do Turismo do meu amado, querido e tão maltratado torrão natal. Tenho dito!

Dimas Carvalho

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