Bolão, Azeitona e Reco-Reco, de Luiz Sá, no traço de Guabiras
A primeira grande manifestação das
histórias em quadrinhos do Ceará se deu com Luiz Sá (1907-1979), desenhista,
caricaturista, ilustrador, quadrinista, pintor, cenógrafo e publicitário. Luiz
era filho e neto de desenhistas (o avô, também Luiz Sá, foi o único desenhista
e pintor entre aqueles que fundaram o movimento de letras e artes conhecido
como Padaria Espiritual, e a sua mãe, Francisca Sá de Araújo, professora de
desenho na Escola Normal) e, ainda enquanto estudante do Liceu, elaborava um
jornalzinho a mão, denominado Charleston.
Antes de partir para o Rio, por volta de 1928/29, na busca de “tentar a vida”,
ainda trabalhou como gravador de clichê em jornal e colaborou em revista
humorística em Fortaleza.
No Rio de Janeiro, passou por maus
bocados até conseguir publicar na “Tico-Tico”, a primeira revista em quadrinhos
do país, em que nasceram seus mais famosos personagens: os “redondos” Reco-Reco,
Bolão e Azeitona. Daí, não parou mais, aventurando-se, inclusive, pelo cinema
de animação, sendo um dos pioneiros no Brasil, ilustrando panfletos e cartilhas
do Serviço Nacional de Educação Sanitária – onde trabalhou por 12 anos –, aberturas
de jornais cinematográficos e das emissoras de TV Rio, Continental e Globo, e
até desenhando ao vivo para plateias de programas de auditório da Rádio Globo.
Em 1938, Luiz Sá, que daqui saiu
anônimo, sem lenço nem documento, visitaria agora a sua Fortaleza, em breve
passagem de “celebridade”, sendo anunciado por João Jacques no jornal O POVO: “conhecido
a princípio através do trabalho que o granjeou apenas franquia nas páginas da
imprensa diária e das melhores revistas do país, já é agora um ilustrador
disputado, um colaborador cuja assiduidade todos desejam sem restrição.”
Naqueles tempos, assim como ainda hoje na provinciana terrinha, os artistas têm
que ser validados pelos cariocas e/ou paulistas para ser “disputado” por aqui,
já que a crítica local, seja ela de qual linguagem for, inexiste, sendo
exercida em passant apenas por amigos
e bajuladores.
Assim, no dia 7 de fevereiro de 1938, às
19h, após visitar a redação de O POVO e conversar com seus redatores, seria
aberta a sua exposição (a “Feira Artística”), como de costume na época, no hall
do Cine Moderno, na praça do Ferreira, sob o patrocínio da Sociedade de Cultura
Artística. Eram cerca de 20 quadros, dos quais mais da metade foram vendidos
para famílias cearenses. Onde estarão? Ainda existem?
No dia 12 de março, véspera de seu
regresso pelo paquete “Almirante Jaceguai”, amigos e admiradores lhe ofereceram
um jantar no restaurante do Baquial Hotel, na Praia de Iracema, “regado a vinho
e cerveja”. Entre os presentes, Florival Seraine, Renato Soldon (que discursou
em nome do grupo) e Paurillo Barroso. Não encontramos mais nenhum registro de vindas
de Luiz Sá ao Ceará*, desde então, e, após 41 anos, 14 de novembro de 1979,
nosso caricaturista faleceria em Niterói, vitimado por complicações pulmonares,
sequelas de uma insistente tuberculose adquirida ainda nos primeiros dias de
fome e de sufoco em terras guanabaras. Morre o quadrinista... a sua obra morre
com ele?
(*) Depois de publicado esse artigo, conseguimos registro oral da vinda de Luiz Sá a Fortaleza em fevereiro de 1976, três anos antes de seu desaparecimento.
(*) Depois de publicado esse artigo, conseguimos registro oral da vinda de Luiz Sá a Fortaleza em fevereiro de 1976, três anos antes de seu desaparecimento.
IMPORTANTE:
Para quem ainda não sabe, a Fundação
Demócrito Rocha, com apoio da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza,
realiza, desde 9 de agosto, o projeto HQ
Ceará, composto de diversas ações. Entre elas, o Curso Básico de Histórias em Quadrinhos (GRATUITO, a distância, com
12 fascículos encartados no jornal O POVO, às terças-feiras, e 12 videoaulas
exibidas pela TV O POVO, também às terças, às 13h, e/ou fascículos em PDF e
videoaulas também no site fdr.org.org.br/uane/hqceara) e os 9 (nove) Cursos e Oficinas em HQs (GRATUITOS e
PRESENCIAIS) que acontecem no Espaço O POVO de Cultura & Arte (de 12 de
agosto até o dia 6 de setembro), além de palestras, lançamentos, documentário,
shows etc.
Quem tiver o interesse de participar, de
saber mais sobre os 9 cursos/oficinas, de divulgar para amigos, familiares ou
alunos de sua escola, acompanhe a fan page da Fundação Demócrito Rocha no
Facebook e/ou se inscreva gratuitamente no Canal
dos Quadrinhos do Ceará:
fdr.org.br/uane/hqceara
Vem
com a gente que é sucesso!
Opa, Raymundo Netto, Luiz Sá ainda retorna a Fortaleza em 1976 e 1978. No catálogo da exposição em comemoração ao centenário dele que realizamos no Centro Cultural Banco do Nordeste, em 2007, consta isso.
ResponderExcluirWeaver Lima
Oi, Weaver. Sim, hoje mesmo eu consegui um registro de entrevista com ele em 1976. A passagem em 1978 eu não conheço. Tem algum documento, registro de imprensa ou coisa do tipo?
ExcluirTem sim, e ele presenteou muitos familiares e amigos com desenhos originais assinando "Luiz Sá CE 1978".
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