Ilustração: Rafael Limaverde, para o projeto Enem Projeto de Vida: profissão & carreira, da FDR
“Faço
parte do mundo e no entanto ele me torna perplexo”.
Charles
Chaplin
Viver
é um ato de resistência. A cada instante somos forçados a tomar decisões. Há
uma colisão, a rua fica interditada. Como pedestres, ciclistas, motociclistas,
passageiros ou motoristas devemos chegar aos nossos destinos. Assim, por razões
alheias ao previsto, decidimos: a) ficar parados; b) encontrar uma rua
secundária para continuar o nosso caminho.
Se
ficarmos parados, nada muda. Só ouviremos as buzinas, a espera interminável
pela perícia e pelos guinchos. Viver é conviver com o imprevisto. Ao concluir o
ensino médio, somos orientados por pais e professores a fazer escolhas. Eles
nos sugerem o que acreditam ser o melhor para o nosso futuro. Mas, e a vida é
cheia de “mas”, nós devemos – e precisamos – com a inexperiência de
adolescente, refletir se o indicado é aquilo que realmente queremos.
E,
cá para nós, é muito difícil fazer escolhas fundamentais em qualquer tempo de
nossas breves, médias ou longas vidas. Não temos binóculos para ver o futuro, tampouco
sabemos aonde a decisão nos vai levar. Entretanto, se tivermos lido bastante,
poderemos seguir, talvez com menos riscos, o caminho novo que se nos abre, a partir
das informações e das simulações mentais feitas instintivamente.
Depois
da escolha, admitindo que fomos persistentes, estudiosos ou nem tanto, nos
deparamos com o primeiro fim de linha. Agora, deixei de ser estudante, tenho
uma profissão que escolhi e preciso fazer dela o meu meio de vida. E aí você
fica só. A solidão é a companhia dos que procuram tomar decisões para continuar
e não ficar engarrafados pelas colisões que o destino nos impõe a cada dia.
Assim,
emergimos como profissional ou colaborador de empresa ou órgão governamental. Meio
sem bússola vamos procurando o que fazer, como fazer, quando fazer e por que
fazer. Não há no mundo real um GPS a indicar aonde chegar. Tudo é tentativa e
erro. Nada que a tecnologia da segunda metade do século passado ou o seu
emergente aprimoramento nestes primeiros 15 anos dessa nova centúria que é o 21,
possa nos dar certeza.
A
vida não oferta certezas. Ela sugere opções múltiplas. Temos, com o nosso
cabedal de conhecimentos, um samburá para depositar nossas quase vitórias, as
muitas desditas e os poucos acertos. O tempo não é aliado de ninguém. Ele
simplesmente vai indo. Segundo a segundo, minuto a minuto, hora a hora, dia a
dia.
Entre
cada novo dia há uma noite em que, bem ou mal, paramos para refletir e dormir.
Das reflexões e dos sonos emergem os sonhos. Os sonhos até hoje não foram bem
explicados por neurologistas, psiquiatras, psicólogos e psicanalistas. Nem eles
entendem os deles. Tanto é verdade que, de tempos em tempos, “a interpretação
dos sonhos”, escrita por Sigmund Freud, sábio, mas conflitado, vai sendo
alterada por tantas quantas são as correntes do pensamento científico ou
humanístico.
Neste
momento brasileiro, em que cada dia surge nova e alarmante revelação, não há
como não entrar em engarrafamentos mentais, pois fomos nós os que colocamos os falazes
que estão aí. Ou somos os que não fomos suficientes coesos para impedir as suas
escolhas. Agora, não importa. O passado sempre chega com os seus fantasmas, as
suas cobranças e as muitas mídias querem decisões e soluções que custam a
chegar. Quando chegam.
Enquanto
isso, porque não podemos parar para nos descobrimos com as manhãs que nos
impõem agir com um mínimo de certezas e um balaio de dúvidas. Infelizmente, não
possuímos a ventura de, como fez o poeta Fernando Pessoa, criar heterônimos
diferentes para dividir e traduzir os nossos múltiplos humores, conflitos e
sentimentos. Somos um só e já basta.
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