Estava eu de bobeira, acompanhando
um grupo masculino —
para não falar em "roda" — de amigos escritores, quando papo vai e
papo vem alguém desfiou no centro da toalha vermelha da mesa o nome "Viagra".
Como toda conversa besta regada à cerva
nem tem começo nem fim, e por motivo nenhum precisa ter nenhum motivo,
perguntei se algum desses confrades já havia provado da tal lendária e fabulosa
pílula azul.
A resposta não surpreendeu. Quase num
clamor de hino em dia de decisão de campeonato de futebol, sentenciaram:
ninguém nunca havia sequer chegado a ver a cor, aliás, ter ciência da sua
diamantina cor azul niágara, disseram-me, já comprometia a reputação do ora
escrevinhador dessas perfeitas e digitalmente traçadas linhas.
Entretanto, curiosamente, após
disfarçadas risadas, um de cada vez começou a relatar, com certo ar de
sobriedade, que, apesar de nunca de jeito nenhum e jamais ter sabido o que
diabo era aquilo ou o que fazia, todos, vejam só, todos conheciam alguém que já
usara daquele recurso para não ficar literalmente na mão. Um ou outro ainda
arriscou a confissão de que pensara um dia em fazer um teste... Só pra ver no
que dava, porque precisar, precisar, precisava não... Foi quando um deles levantou-se,
de repente, para atender na esquina o telefonema da esposa cobrando a sua hora
de chegar em casa.
A vítima de suas histórias passava
sempre pelas beiradas. Era um vizinho de endereço do passado, um primo distante,
um amigo cujo nome não se lembrava, um cidadão que cruzava a calçada ou dividia
um assento no ônibus... Enfim, o que importa era a narrativa sempre introduzida
pelo assim dizer: "Eu vi aquele negócio e não sabia o que era. Foi quando ELE
me disse que era o diacho do Viagra. Falou que funcionava..." Daí, se
soubessem, aproveitavam o silêncio do imaginário libidinoso alheio e largavam outras
aventuras que não ouso repetir aqui, apenas porque mentira não se repete, de
extraordinárias orgias, bacanais e outros eventos quiméricos de deixar o nosso queixo
caído pela cara de pau de tamanha gabolice.
No mais, a maioria da plateia era severa:
felizmente, nenhum deles precisava daquilo. Eram resolvidíssimos. Graças a Deus
ou ao Diabo, nisso não estavam tão bem resolvidos, "davam no couro".
Os mais antigos entre nós na convivência com o planeta, os denominados "conselheiros"
ou "primeira divisão", extrapolavam: "podiam vir quente que já
estavam fervendo!" Era quando alguém, por maledicência, soltava ao ouvido
mais próximo: "Essa fervura não dá caldo, é só banho-maria..."
Entre nós, um mais calado, lembrou-se da
história de uma senhora, já idosa, que sentindo a falta do vigor do esposo,
hoje um retrato na parede de Itabira, procurou um médico que sugeriu que ela
oferecesse a pílula azul ao companheiro. Ela pulou para trás. Ora se ele não
tomava remédio nem pra dor de cabeça. Era um orgulhoso, um cabeça-dura!
O médico, astutamente, falou para colocar
a pílula dentro do lanche que o velhinho mais gostava. E assim, soube depois, a
senhora o fez. Porém, ela confessou: estava super arrependida. "Não funcionou?"
Ah, funcionou, sim. E até demais, doutor! Ali mesmo tive a melhor transa de
minha vida, mas acho que depois daquilo nunca mais nós poderemos colocar os pés
no shopping...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirFantástico rir sozinha aqui na minha sala de mais uma dessas delícias que você escreve. Meu Cheiroooo te alcance neste momento! Lovyu!!!
ResponderExcluirBem oportuno ! Muitos falando sobre a pílula miraculosa......
ResponderExcluirAbração
Boa, Raymundo Neto! arrasou, como sempre. Meu amigo Zé do Horto me disse que também nunca precisou da propalada pílula mas me confidenciou que um amigo usou e disse que era algo sensacional e daí admitir a possibilidade deu qualquer dia desses, fazer uma experiência, "só pra ver"; tipo aquele colega nosso que na juventude fumou um baseado, só para saber dizer alguma coisa quando o papo-cabeça rolasse sobre o assunto. Zé é macaco velho!
ResponderExcluirNetto, você está cada dia mais comédia...
ResponderExcluirBj
Aninha, que legal. Obrigado.
ResponderExcluirBel, sempre bem-vindos os seus comentários. Abração.
ResponderExcluirNatércia, que bom "vê-la" por aqui... Essa semana eu darei notícias, tá? Bj.
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