terça-feira, 25 de outubro de 2011

"Personal Person", crônica hilariante de Ronaldo Monte



A coisa começou com a invenção do personal training. Ser uma celebridade e não ter o seu personal training era quase um pecado mortal. Como eu tenho uma propensão natural para a maldade, acho que isso foi invenção da mulher de algum endinheirado que descobriu uma forma segura de descolar uma grana para o seu jovem e atlético amante. A partir daí a moda pegou e começaram a aparecer as mais diversas variações de assistência pessoal. Tem o personal care, destinado ao consolo das senhoras da terceira idade. Tem o personal wear, para sugerir as esquisitices que as dondocas devem usar em situações específicas. Tem até o personal dog, que não é exatamente um cachorro de estimação, mas um cuidador de lulus e totós das madames que não têm mais tempo além do que gastam no cabeleireiro (personal hair, eu suponho) e na academia.
Pois bem, para não parecer um retrógado ressentido, venho me lançar no mercado como Personal Person. E o que vem a ser exatamente um personal person? Trata-se, obviamente, de uma pessoa (eu, no caso)  que se propõe a agir como um ser humano comum, sujeito a variações de humor e condições de saúde. Isto é bom, porque oferece o elemento surpresa, o cliente nunca sabendo exatamente como eu vou chegar. Pode me pegar de bom humor  ou completamente sorumbático, o que irá definir o tipo de assunto a ser conversado. Podemos falar de trivialidades, como o mais novo CD da Lady Gaga, ou pegar pesado com as previsões recentes sobre a economia global.
Como personal person posso ser usado numa fila de banco, na sala de espera do médico ou nos intervalos cada vez maiores das novelas. Mas o meu melhor aproveitamento será numa mesa de bar ou restaurante. Aí é que se disporá de um tempo agradável de espera, entre o pedido ao maitre  e a vinda do garçom. Nada de self-service, portanto. Será aí, na penumbra e ao som de um piano que o  seu personal person exercerá todo o encanto  de uma pessoa ao mesmo tempo comum e diferenciada. Desde que seja pago por isso. Regiamente pago, bem entendido, como todo personal-qualquer-coisa que se preza. 

Fonte: recebido de Ronaldo Monte

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