Meu lado ficcionista, de leitor de clássicos, quadrinhos e
muita ficção científica, não me deixa assombrar pela guerra microbiológica
atual. Aliás, durante a vida inteira, essa era uma das certezas – ou pelo menos
potencial possibilidade – que trazia na vida, além da outra, a morte, aquela hoje
noticiada como novidade, quando a novidade mesmo é o nome do algoz, pois a
morte vitima milhares de pessoas diariamente por motivos mais banais (acidentes
de trânsito, ausência de socorro e atendimentos em hospitais) ou mesmo absurdos
e inaceitáveis (assassinatos, guerras, violências, fome), sendo que muita
gente, em condições privilegiadas e seguras, nunca deu a menor importância a
isso – até agora!
Alguém,
antes da decretada quarentena, me disse frio ou insensível diante do coroado
monstro, mas não é nada disso. Assisto a noticiários, mais de um, todos os
dias. Leio notícias em portais seguros e confiáveis pelas redes sociais – evito
assistir a vídeos e mensagens sem fontes que se alastram mais do que a curva
pandêmica –, mantenho o isolamento social e me previno como posso, seguindo
protocolos de higiene, também preocupando-me e aconselhando cuidados a amigos e
familiares que, espero, ultrapassem mais essa crise sem sequelas.
Contudo, o
mais importante: tento não introjetar esse quadro em mim. Nem o vírus nem o
pânico e muito menos a contagiante morbidez propalada.
Vejo
diversas pessoas adoecidas pelas redes sociais, gente que não está conseguindo manter
a sanidade mental, tomada pelo pavor e pela insegurança, distribuindo-os aos
mais próximos. Deprimidas, esgotadas e intranquilas, não conseguem aproveitar
para fazer planos, executar aqueles projetos impedidos pela rotina antiga,
fazer exercícios (ou amor), jogar com familiares, ler bons livros ou assistir a
filmes, pois a cabeça não consegue concentrar-se em mais nada que não seja a
lista de infectados e mortos no mundo.
Eu, do meu
lado, vivo o hoje, um dia por vez – hábito que trago há anos –, não exigindo
muito do futuro, agradecendo por acordar e estar com aparente saúde, por ter
condições tecnológicas para conseguir realizar o meu trabalho com a máxima atenção
e zelo possíveis, imaginando algo que vai nascer em meio à treva quarentena,
mas que em breve será luz e beleza. Tudo passa, como diz o Alencar.
Mesmo
ciente do número de pessoas que não têm recursos e condições para atravessar
essa chuva com a mesma tranquilidade, sei que não posso deixar-me ser tomado
por essa angústia. Se eu puder ajudar, ajudo, contribuo, não me esquecendo de
que me lembro dessas mesmas pessoas sempre, inclusive na hora do voto, cujo
resultado faz toda a diferença em momentos como esse ou de outros que,
certamente, virão.
Tenho
esperança, não a largo por nada, e a minha crença na vida, não no ser humano,
mas na vida, a nossa maior aliada para a construção de um novo mundo, um lugar
onde não predominem tantas injustiças, desigualdades, sofrimentos, doenças e
mentiras. É por isso que pretendo continuar acreditando, até a última chama ou
lágrima, no que há por vir.
Excelente análise da situação atual !
ResponderExcluirAmei, tudo muito bem colocado. É nem podia ser diferente vindo do Raymundo Netto.
ResponderExcluirBeth, grato pela gentileza da leitura, minha amiga.
ExcluirUm voto a favor da vida, sobretudo dessa consubstanciada nesse ser humano de carne tenra, osso rijo e alma esperançosa.
ResponderExcluirSe Lázaro ilustrou, por ação do criador feito homem, a prevalência da vida sobre a morte, essa crônica ilustra, pela capacidade criativa de seu autor, a prevalência da generosidade da vida sobre a mesquinhez do ser humano. A vida contém o ser humano; por que esse , por atos, omissões ou pensamentos, a reduz a seu acanhado egoísmo? Tanta vida: em chamas, em lágrimas, em risos. O que haverá está por vir, assim cronica Nettotustra.
Nettotustra foi ótimo. Adorei, embora longe das profecias poéticas daquele outro...
ExcluirO seu pensamento também é o meu.Quero poder contribuir para a construção de um mundo melhor para que um dia possamos viver dias melhores em um lugar com menos injustiça, sem violência,sem fome.... Espero viver o suficiente.
ResponderExcluirisso, Ângela, que façamos isso amém e que amem... rsrs Obrigado pelo comentário colaborativo.
ExcluirO seu pensamento também é o meu.Quero poder contribuir para a construção de um mundo melhor para que um dia possamos viver dias melhores em um lugar com menos injustiça, sem violência,sem fome.... Espero viver o suficiente.
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