Em outubro de 1985, com
ares da “Nova república”, surgia a revista de humor underground Chiclete com Banana, um sucesso
inquietante que chegou a vender cerca de 3 milhões de exemplares em suas 24
edições (a última em novembro de 1990) por todo o país e talvez até em Vênus (o
planeta, e não a camisa).
Eu
tinha 18 anos, havia há pouco ingressado na faculdade (Fisioterapia), e apesar
de ler esporadicamente uma coisa ali e acolá que saía nos jornais (no “Ilustrada”
da Folha de S. Paulo, por exemplo) ou
em pequenas coletâneas, respirando formóis da Ana(tomia) e nas fileiras do
movimento estudantil, só viria conhecer a revista em si muito mais tarde, juntamente
com a Animal: feio, forte e formal, Lúcifer, Striptiras, Piratas do Tietê,
Níquel Náusea e as coletâneas geniais
de Calvin & Haroldo, entre tantas
outras.
De
resto, guardo essa coleção/antologia lançada em 2007 (e umas 10 a 15 edições
originais), que traz alguns dos melhores momentos da produção desses sempre
heroicos quadrinistas brasileiros em 16 edições (tenho apenas 8).
No
editorial da revista (ou seria gibi?), Angeli declarava o seu objetivo: “Queremos
apenas beliscar a bunda do ser humano para ver se a besta acorda.”
Irreverentes,
criativos, inigualáveis, iconoclastas e demolidores eram os “titios” da Chiclete com Banana: Angeli (o grande e
original líder dessa bagunça toda), Laerte, Luiz Gê, Fernando Gonsales, Edi
Campana, Rui Resenha, Cacá Rosset, Christiane Tricerri, Toninho Mendes, Gonçalo
Júnior, Paulo Caruso, Sérgio Machado, Glauco Mattoso, Marcatti, Furio Lonza e
blá-blá-blá.
Ali,
cabia de tudo, quadrinhos, resenhas, fotonovelas, charges, entrevistas
(fictícias ou não), gurus, punks, hippies, junkies, revolucionários, sexo,
drogas, rock’n’roll, cultura pop, solidão, política (e podridão) e o mais ridículo
que poderia existir na sociedade e caber no olhar desses criadores.
Não
há dúvida de que esse legado Chiclete com
Banana, e não aquele outro que precisava de trios elétricos e encheu os
bolsos do BEL vil metal, foi, de fato, revolucionário, delirante e
transgressor, apesar de ter sofrido da mesma anemia pecuniária infinita que a
arte e acultura brasileira traz em seus genes.
Viva
a cultura da liseira (ou a liseira da Cultura?)
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