quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

“Pretende Ser Escritor?”, de Rinaldo de Fernandes para o “Rascunho”


Publicado originalmente no jornal Rascunho, edição de janeiro/2021.

 

A escrita literária nunca resulta só do impulso, da inspiração. Precisa também de processos racionais, de técnicas, enfim, de uma elaboração consciente. O escritor que se apressa em publicar, sem lapidar ou pensar exaustivamente o seu texto, corre o risco de apresentar para o seu eventual leitor material de pouca ou nenhuma qualidade.

Não se faz literatura só com os sentimentos, com as emoções, mas sobretudo com a linguagem, com a palavra bem pensada, com muita elaboração textual. Todo escritor, por outro lado, precisa ter como base a obra de outros escritores. Ser influenciado por um bom autor, pelo menos no início da carreira, é positivo. Depois é preciso encontrar uma dicção própria.

Para o jovem que pretende se enveredar pela ficção, por exemplo, ler Graciliano Ramos poderá ser muito proveitoso. Graciliano é um autor de estilo conciso, de frase enxuta, sem derramamentos. Também será extremamente benéfica a leitura de Machado de Assis, autor de estilo clássico, límpido, comunicativo.

Outro autor de prosa enxuta, elíptica, é o contista paranaense Dalton Trevisan. É muito importante para quem escreve ter boas ou consagradas referências literárias. E sempre estar lendo certos autores contemporâneos ou mesmo relendo seus autores preferidos.

Por fim, a questão do prazer da escrita. Além de lidar com a materialidade da língua, de se expressar através das palavras, há ainda, para o ficcionista, o imaginário, a fantasia com que ele trabalha. Manejar palavras é algo de fato trabalhoso, mas que dá muito prazer ao ficcionista. Assim como é prazeroso mobilizar a fantasia, coabitar os mesmos ambientes de seus personagens, entrar na pele de cada uma das figuras que ele cria em suas ficções.



 

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