Ilustração: Carlus Campos
Temos um sesquicentenário: Adolfo
Caminha, que nasceu no Aracati em 29 de maio de 1867, honra as letras de sua
terra, e veio a falecer no Rio de Janeiro em 1º de janeiro de 1897, portanto
antes de completar trinta anos de idade.
Notável
ficcionista, dois livros seus, A Normalista (1893) e Bom-Crioulo (1895),
garantem sua presença na literatura brasileira.
Foi oficial da
Marinha, fez parte do Centro Republicano do Ceará e, apesar de ter tido uma
polêmica com Antônio Sales, foi convidado por Sales para ser um dos membros da
Padaria Espiritual, o mais original dos grêmios cearenses do século XIX. No
jornal do grupo, O Pão, escrevia a
secção “Sabatina” com o nome de guerra Félix Guanabarino.
Mas antes disso
foi protagonista de um escândalo, ao se ligar a uma mulher que o amava, mas que
era casada, e com um alferes do Exército. Depois de idas e vindas, como seus
superiores quisessem mandá-lo à Europa, decidiu se demitir e foi ser funcionário
do Tesouro.
Começou romântico
na literatura, mas seu primeiro romance, A
Normalista (1893), é obra naturalista, como o segundo, Bom-Crioulo (1895), tendo este último sido traduzido para o inglês,
o francês, o alemão, o turco e não sei mais quais idiomas...
Para dar uma
ideia de sua prosa, leiamos o início d’A
Normalista: “João Maciel da Mata Gadelha, conhecido em Fortaleza por João
da Mata, habitava, havia anos, no Trilho, uma casinhola de porta e janela, cor
d’açafrão, com a frente encardida pela fuligem das locomotivas que diariamente
cruzavam defronte, e donde se avistava a Estação da linha férrea de Baturité.”
Várias edições
desse livro foram publicadas com alterações indevidas, mas, com a ajuda do
saudoso José Bonifácio Câmara, pude preparar em 1998 uma edição com base na
primeira, de 1893.
Aliás, o Armazém
da Cultura, dirigido por Albanisa Lúcia Dummar Pontes, está editando esse
livro, assim como a 3ª edição de Adolfo
Caminha: vida e obra, escrito por mim em homenagem a esse escritor, que é o
Patrono da Cadeira nº 1, que tenho a honra de ocupar na Academia Cearense de
Letras.
O escritor
publicou ainda um livro de viagem, No
País do Ianques (1894) e um de crítica, Cartas
literárias (1895). Após sua morte saiu, com a data de 1896, Tentação, seu último romance.
Graças a Ítalo
Gurgel, a Coleção Nordestina publicou, pela UFC, a 2ª edição das Cartas literárias (1999) e o livro Contos (2002), com onze narrativas do
escritor.
Sânzio de Azevedo
Doutor em Letras pela UFRJ;
membro da Academia Cearense de Letras
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