13 de abril, aniversário de Fortaleza,
291 anos.
Conto “O Homem que virou relógio”, de
Raymundo Netto,
para Os
Acangapebas (2012),
ganhador do Edital de Literatura da SecultFOR (2007)
e do Prêmio Osmundo Pontes de Literatura
da Academia Cearense de Letras
(2011).
Cruzava a praça da igreja matriz quando,
súbito, estacou e dali não mais deu único passo.
As pessoas o viam,
perguntavam “passa bem?”, ele de apenas tiquetaquear palavras mecânicas, quase
absurdas.
Os dias passaram. Ele, inda imóvel na
praça, empoleirado por pássaros e pombos. Movimento apenas o de sua sombra a
alongar-se pelos mosaicos de cimento, servindo de relógio aos moradores da
cidade.
Com o tempo e o costume, aperfeiçoou-se
na função: anunciava as horas, aniversários e datas festivas, cantava músicas
de meia em meia hora, enfeitava comícios, despertava a cidade, acalentava os bêbados
dela aos seus pés.
Levou um tempo. As crianças e a cidade
cresceram. Aquele homem no meio da praça parecia antiquado à modernosidade
invadida e dominante da região. As mentalidades ditavam-lhe o futuro de consumo.
Tempos-há, olhavam-no com desdém, logo aqueles
que, há pouco, lhe precisaram tanto.
De outro lado, não era mais o mesmo...
atrasava!
Os mais saudosistas inda tentaram,
levaram-lhes medicamentos, assistência médica, mas era de certo a sua
debilidade. Sabia-se ser o rastro das horas implacável até com quem devotara a
própria vida à sua causa.
Dia, à tristeza de alguns — poucos —,
operário veio à praça e o picaretou a não deixar-lhe sequer lembrança.
Noutro, muito rápido assim, rapazinho
de pele úmida surgia e se fixara em semelhante local.
Olhos brilhantes, digitais, e lume no
sorriso, anunciava de o tempo não poder parar, ao final, é do futuro chegar
sempre, devastando o entulho da humanidade.
Pena que um relógio do tipo carrilhão "cante" de 15 em 15 minutos, marcando as horas a cada 3/4. Isso arrebentou com o miniconto!
ResponderExcluirHein? relógio do tipo carrilhão? Miniconto? Hein?
ResponderExcluirMaravilha de conto (ou crônica?)!
ResponderExcluirÉ um conto, Filipe, mas para mim essa distinção didática nem é tão importante. Basta ler Nelson Rodrigues, Stanislaw Ponte Preta e Luís Fernando Veríssimo e dá para entender isso.
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