sábado, 16 de abril de 2016

"Se Gritar 'Pega Ladrão'"..., de Raymundo Netto para O POVO


...não fica um! Talvez melhor que não ficasse mesmo. De certo, não é novidade nenhuma, o Brasil é o país do futebol, no qual também há corrupção, mas poderia ser o país das bibliotecas, como a Colômbia, sempre achincalhada pela nossa boçalidade, mas que tem mais leitores do que nas terras da colônia ararajuba.
A corrupção nesse país abençoado por Deus só não dói mais do que a impunidade que chega de braços dados com a ignorância (a nossa), mas curtindo viagens pelo mundo afora em pequenos banquetes gourmet a preço de meses do suor do trabalhador brasileiro. Digo trabalhador me referindo àquele que trabalha, pois às vésperas dos 49 anos já deu para entender que nem todo empregado é trabalhador, assim como nem todo empresário é capitalista.
O povo brasileiro, não todo, felizmente, é corrupto. Quer fazer só o que quer, pensando apenas na própria cauda: atravessa sinais vermelhos, não respeita a faixa de pedestres, guia em alta velocidade e/ou embriagado, fura filas, empurra as pessoas nos ônibus, inventa formas engenhosas de não pagar algum item na conta de bar ou restaurante e de receber seguro-desemprego, sonega impostos, mente, assedia funcionários, joga lixo nas ruas, não devolve troco errado, não paga condomínio, falsifica carteira ou documentação para pagar meia entrada em cinemas e casas de espetáculos, sai para passear com seu cachorro e não coleta seus dejetos e cumpre mais uma série de outros delitos, para ele pequenos, praticados quase que religiosamente, se esse é o termo mais adequado a se empregar aqui.
Entretanto, julga o outro, cujos pecados são sempre maiores. O outro é o grande culpado de nossa infelicidade. O outro não presta. É ladrão. Ademais, sente-se um obscuro prazer nesse julgamento: “Ladrão!”
A corrupção enfeita todas as praças brasileiras. Seja no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Quem faz as nossas leis são pessoas escolhidas pelo povo. E essas pessoas são corruptas, escolhidas por uma gama de pessoas sem educação – não confundir instrução com educação. Que raios de leis podemos esperar? Quem julga e defende essas leis vende habeas corpus, recebe propina, troca ou atrasa processos e pratica uma coleção de ações, quase um segundo código civil, de artimanhas e manobras caras para privilegiar aqueles que têm dinheiro para comprar o sistema, seja inocente ou não, afinal, não se quer a justiça, mas o direito... ou o esquerdo, se esse pagar melhor. Aliás, é grande o número de pessoas que cursam o direito para aprender como burlá-lo.
Em meio à crise econômica e política, encontramos a crise moral, de interesses mesquinhos, senões e sem-razões a traçar uma realidade incontestável: se não houver uma reforma política já, o país vai-se por água abaixo, no nosso caso, quase sem água, mas no fundo do poço e na lama.
Vivemos um momento de constrangimento. Exposta a cozinha brasileira para o Mundo. Os líderes das grandes casas, os seus integrantes, quase todos envolvidos em processos nebulosos diante de uma justiça tendenciosa, desacreditada, e todos com carta branca para derrubar uma presidente eleita pelo voto popular. Vergonha é pouco, mas nos resta o consolo: temos o que merecemos!



3 comentários:

  1. Excelente reflexão, Raymundo Netto. Estávamos à beira do abismo e ontem demos "um passo a frente". Agora, estamos em queda livre. Um abraço.

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    1. Obrigado, Klistenes. Ah, e se segure para não se machucar muito. rsrs

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    2. Obrigado, Klistenes. Ah, e se segure para não se machucar muito. rsrs

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