Sânzio de Azevedo
Falo de um marco esquecido da literatura cearense.
Crítico literário, estudioso da gramática
portuguesa e romancista, Abdias Lima
deixou obra vasta, mas a cultura do Ceará ainda não lhe fez justiça.
Quero destacar dele aqui um livro praticamente
desconhecido, que está completando 70 anos, pois é de 1946. Falam os intelectuais do Ceará é um
inquérito com escritores do Estado, “de julho de 1944 a fevereiro de 1945”,
sendo um retrato do pensamento de 24 escritores na época da Segunda Guerra
Mundial. Só tem precedentes nos livros Enquete
sobre a evolução literária (1891), de Jules Huret, na França e, no Brasil, O momento literário (1908), de João do
Rio. Abdias Lima contempla poetas, ficcionistas, sociólogos, jornalistas etc.
Para não citar os 24 autores, direi que são poetas
Cruz Filho, Filgueiras Lima, Otacílio de Azevedo e Artur Eduardo Benevides;
jornalistas João Jacques, Paulo Sarasate, Perboyre e Silva; contistas, Eduardo
Campos, Braga Montenegro; filólogo, Martinz de Aguiar; sociólogo, Joaquim
Alves, e assim por diante.
Amigos meus do Grupo Clã (que firmou o Modernismo
no Ceará) costumavam dizer que o grupo era de 1942; para mim, o grêmio ganhou
maior força em 1946. Por isso, exultei quando li, no livro de Abdias Lima,
entrevistas com Braga Montenegro, Joaquim Alves, Eduardo Campos e Artur Eduardo
Benevides, e nenhum deles se refere a um grupo chamado Grupo Clã, o que é
sintomático.
Na abertura do livro, põe o autor as entrevistas
entre 1944 e 1945. E acrescenta: “O mundo estava mergulhado em sangue e por
toda a parte, desde as planícies geladas da Rússia às terras generosas da
América, só se ouvia a voz do canhão.”
E no final da “Apresentação” diz o escritor:
“Sabemos que há falhas nesse inquérito. Que a crítica honesta as emende, ‘não
murmurando em sua casa porque desfaz em si’.”
Como me informou a filha do escritor, professora
Claudete Lima (que foi minha colega quando eu lecionava literatura na UFC),
Abdias Lima nasceu em Massapê, Ceará, no dia 29 de janeiro de 1911, vindo a
falecer na Capital cearense no dia 6 de julho de 2004, com 93 anos de idade.
Sânzio de
Azevedo é doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ) e membro da Academia Cearense de Letras.
Contato
com o autor: sanziodeazevedo@gmail.com
Conheci o Sânzio através da minha amiga Cearense Márcia de Oliveira. Por estar trabalhando num projeto dum estudo (ou ensaio) sobre a Padaria Espiritual e a Semana de Arte Moderna de 22, foi agraciado com os livros A Padaria Espiritual e o Simbolismo no Ceará - e, Breve História da Padaria Espiritual. Agora, espero que, seguindo Blog do Raimundo Neto, certamente conseguirei avolumar meus conhecimentos a respeito da Cultura Cearense. E, aproveito para solicitar a permissão para colocar um link deste Blog no meu blog Retalhos do Modernismo.
ResponderExcluirGrande Abraço e congratulações pelo excelente Blog.
Luiz, o prazer é todo meu. Fique à vontade de divulgar o conteúdo de nosso blog. O AlmanaCULTURA agradece a sua atenção e gentil leitura. Cordial abraço.
ResponderExcluir