segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

"Trem Noturno para Lisboa", uma forma cultbook de mudar de vida! (23.12)

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Pois é que acabei embarcando no "Trem  Noturno para Lisboa" (2013), filme baseado na obra homônima (lançada em 2004) do filósofo suiço, de Berna (1944), Peter Bieri, que assina Pascal Mercier, que, dizem, já vendeu mais de 2 milhões de exemplares no mundo.
Fui assisti-lo sem expectativa nenhuma, coisa a nos permitir a visita da surpresa, o que de fato aconteceu neste filme cujo elenco é formado por Jeremy Irons (Inglaterra), Melánie Laurent (França), Jack Huston (Inglaterra), Bruno Ganz (Suíça), August Diehl (Alemanha), Marco D'Almeida (Moçambique), contando com a participação não só da voz, mas do, também inglês, sr. Lee, Cristopher (bom saber que ainda está vivo... ou quase, ou não, afinal, ele é o Cristopher Lee).
Enfim, o filme nos mostra Raimund (somos tantos os raimundos) Gregorius (Jeremy Irons), um professor de Latim, Grego e Hebraico, residente em Berna, que, numa manhã chuvosa, salva a vida de uma jovem suicida em uma ponte sueca. Ela o acompanha até a sala de aula e depois desaparece, deixando para trás um casaco vermelho e um mistério. Inquieto, ainda em sua aula, Raimund pega o casaco e sai atrás dela, mas não a alcança. Mesmo assim, o professor não volta, pois, nos bolsos do casaco, um livro póstumo, Um Ourives das Palavras, do desconhecido poeta e médico português Amadeu de Almeida Prado (segundo a irmã, a tiragem do livro fora de apenas 100 exemplares). Numa breve leitura, identificou-se no texto, e descobriu entre suas páginas uma passagem de trem para Lisboa. Sem pensar, coisa difícil para quem lê demais, esquece dos alunos a esperá-lo e, com a roupa do corpo, salta no trem e começa a sua aventura em busca da vida do poeta. A fotografia do filme é belíssima, e os cenários: Berna, Lisboa e Salamanca.
Em dias em Lisboa, descobre a participação de Amadeu no movimento de resistência contra a ditadura de Salazar, conversa com familiares, amigos e correligionários, numa ânsia inexplicável de saber mais, por meio de uma narrativa delineada em flashbacks que vão, aos poucos, apresentando toda a história de vida do poeta: ideologia, amigos e amores. Aliás, é tão raro ver um filme onde o "mocinho" passa os dias com um livro nas mãos. É inspirador e já mostra a que veio o filme, cuja principal falha, a meu ver, é não ter utilizado da língua portuguesa nas cenas em Lisboa. Seria muito charmoso, mais verdadeiro e, para nós, auditivamente, uma delícia.
E, por falar em delícia, para mim foi inevitável a lembrança horaciana de "Carpe Diem", centelha arrebatadora de outro sucesso de bilheteria de mais de 20 anos: "Sociedade dos Poetas Mortos".
O filme carece de atenção, observação e pensamento. Para assisti-lo sem preconceitos, precisamos de profundidade e de espírito. Nele, sem pieguices ou efeitos especiais gratuitos, há uma rota de autoconhecimento e de autorreflexão, além da sua humanidade, sem muito enfeite para falar da sem-gracice da vida, mesmo no Velho Mundo, o que me atraiu muito (não vou mentir: surpreendi-me ao ver tantas paredes maravilhosas pichadas, ou seja, nada de enrolação e maquiagem).
O personagem principal é um sujeito solitário, que alega que seu casamento acabou porque a mulher o considerava "um chato", como devem ser (e defendem esse direito) os professores de latim (e, certamente, os escritores). Por outro lado, sendo tão metódico e maçante, surpreende a sua explosão em busca de um desconhecido do qual apenas ouve (lê) a voz (ponto para a literatura).
"O Trem...", acima de tudo, fala de escolhas e de seus resultados, nem sempre felizes, nem sempre tristes, porém, fatalmente humanos e, portanto, imperfeitos (quase feios). É um filme incômodo, certamente, por isso, poético, menos pela poesia de Amadeu, mais pela mente desesperada de um afogando Gregorius (talvez outro suicida não exitoso) a pedir socorro em passos pelas ruas de calçadas velhas lisboetas:
“Quando deixamos determinado lugar, deixamos para trás um pedaço de nós, permanecemos lá, apesar de partirmos. E há coisas em nós que só podemos recuperar se voltamos para lá.” (Amadeu Prado)

Recomendo demais!

2 comentários:

  1. Muito clara a sua visão do universo que se descamba nesses passos, por aqueles lugares, ladeiras olindianas e outras, porém em Lisboa, berço de urdiduras de conquistas, inclusive de identidades alheias, misteriosas... No filme tudo parece talvez mais fácil, porém o livro traz insights de Amadeu que são como raios relampejando ideias transversais ao seu tempo. Pois é, foi excelente vê-lo na sala de projeção e traçar vislumbres de pensamentos e épocas consigo, a partir de tão elevadas fontes. Abraço!!!

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  2. Muito legal, Max. Vamos nos falando. Um 2014 super-hiper-plus. rsrs Grande abraço.

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