Desligado que sou, ando frequentemente no mundo da lua
(mesmo debaixo deste calor causticante da nossa loirinha desmazelada pelo sol)
quando tomo conhecimento de fatos e pessoas que faz tempo são muito conhecidos
dos outros, e tomo da surpresa um susto, lendo a página na internet do mestre
Ronaldo Salgado, descubro que existe um Dia da Saudade, paro o dedo nervoso de
passeador de internet e quedo pasmo a ler a pequena pérola:
“AH,
SAUDADE! QUE MODOS DE EXISTIR?
Tenho
alguns amigos que costumam me cutucar com vara curta como se eu fosse onça
pintada. Falam em alto e bom tom: "Cara, tu sempre quer um motivo pra
beber!" Essa não é uma verdade nem absoluta nem relativa. É simplesmente
uma verdade, entre tantas espalhadas por aí. Mas hoje, quando se comemora o Dia
da Saudade, alguém aí tem o destempero de me criticar porque vou brindar a
saudade? Du-vi-d-o-dó! Saudade é copo cheio de memória. E com memória não se
brinca! Tenho até desconfiança de que uma e outra são retroalimentadoras entre
si. Ora, a gente sente saudade do que viveu... Isso não é esteio de memória? E
a gente guarda na mente e no peito esquerdo lembranças, reminiscências e
recordações do que vivemos... Isso não é leitmotiv de saudade? Embaralha as expressões
verbais para ver o que acontece! Saudade de pessoas, de datas e épocas
importantes, de beijos e abraços fervorosos debaixo de sol quente ou de chuva
indômita. Saudade de canções cantadas ou não em serenatas ao luar. Saudade de
livros, filmes, discursos, gols, gestos, atitudes, carícias e carinhos,
segredos e aventuras... Ora, pois tá! Até de bancos de praça onde se trocou o
primeiro e interminável beijo sente-se saudade – pergunte a Ronnie Von, que
cantou aquela música que nunca me sai da memória. Vixe, olha a memória aí de
novo, juntinha com a saudade. É, gente, saudade é de vida e de morte. País,
mães, avôs, avós, irmãos, irmãs, filhos e filhas, netos e netas, amigos,
amigas, heróis de carne e osso e representacionais, ídolos... Eu tenho saudade
até do Zé Pilintra, que eu não conheci, mas não sai do meu 1/4 de Bar – Terraço
Poeta Sales! Pois taí um brinde à Saudade!”
Pronto,
passei o dia inteiro a cometer saudades, não uma só, que sou repleto delas,
vivo em faltas de dinheiros, vontades, coragens, mas empanturrado de
recordações e saudades – o pensamento voou ao passado (tem razão o bardo da comunidade
das Quadras da Aldeota: passado e saudade andam de mãos dadas sempre).
Lembrei-me
devagarinho a infância, corri para os campinhos de futebol improvisados no meu
Alto das Pedrinhas, lá pelo Tamboril de antigamente, mas não só os três ou
quatro recantos que marcávamos entre grotas e areias e pedras, mas os dos
bairros vizinhos dos Pereiros e Praça 11, onde disputávamos nossas primeiras
pelejas mais organizadas; de lá a memória (e a saudade!) vagaram pelo campinho
triangular da Rua de Baixo (que por ser caminho do cemitério, certa vez paramos
o joguinho para que desfilasse rua abaixo um enterro: porém antes que o cortejo
triste dobrasse à esquerda na Ponte da Mijada já recomeçamos a partida no mesmo
local e lance onde havia parado), dali para o estranho campo do Morro do Tetéu,
e recordei que lá de uma trave não se avistava a outra, seguia a lembrança para
o Campo do Juremal, quando me dei conta já umas lágrimas me embaciavam os
olhos.
Então
lembrei que não deveríamos ter apenas um dia da saudade, mas um ano talvez, um
mês, quiçá uma semana... Talvez bastasse alguns minutos por dia! E já que as
saudades são infinitas, deduzo que – na verdade – jamais poderíamos delimitar
um tempo para sentir saudades.
Só tem uma coisa que sinto.mais do que saudade nestes últimos tempos. Mas nem quero falar. rrss
ResponderExcluirSe for "liseira", Zélia, estamos juntos. rsrs
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