14 de abril de 1888.
Nascia em Caravelas, Bahia, “terra de pescadores, donos de coqueirais e
madeireiros”, o menino Demócrito Rocha. Antes dos 5 anos perdera o pai João e a
mãe Maria da Glória, sendo criado, assim como o irmão Heráclito, pela avó Ana e
tios, sem muitas condições financeiras, de modo que, aos 12 anos, trabalhava
como operário-torneiro em uma oficina de reparação de locomotivas. Cresceu. Aos
19 anos, passou a viver em Aracaju, com a tia Delfina, que forneceu recursos
para que estudasse em bons colégios, apaixonando-se pelo Esperanto, pela
Filosofia e Literatura e logo ingressando na Faculdade de Odontologia, curso
que só concluiria em 1921, em Fortaleza, pois prestara concurso para os
Correios e Telégrafos, e, sendo aprovado, em 1912, pelas vagas na Ponte
Metálica, chegou e passou a residir na cidade. É a partir daí que a história de
DR dá um salto. Conhecedor de outras línguas, recebia vasta correspondência –
colecionava selos –, informava-se telegraficamente, reunia-se em diversos
grupos, passou a colaborar em pequenos jornais, casou-se com Creusa em 1915. Em
1916 nasceria Albanisa e no ano seguinte Lúcia. Com pouco, envolveu-se na
política, outra de suas paixões, sofrendo vários reveses na sua vida de
servidor público (nos Correios), professor na Faculdade de Odontologia e
dentista.
Em
1924, ao lado de Tancredo Moraes, Adília de Albuquerque Moraes (esposa de
Tancredo) e Orlando Luna Freire, funda a Ceará Illustrado, revista
originalíssima (trazia “clichês”/fotos, coisa rara na época) que, segundo
Otacílio de Azevedo, distribuía de mão em mão na praça do Ferreira. Justamente pelo
seu espírito gregário e sua ótima relação com os intelectuais da cidade chamou
atenção de Júlio Matos Ibiapina, fundador do jornal O Ceará, criado em
1925, e que traria como redator e diretor literário o “Barão de Almofala”, um
dos pseudônimos de DR. Ali nasceriam, em um tempo sem rádio ou TV, alimentando
as noites familiares e de correligionárias em serões, as suas famosas “Notas do
Dia”. Neste mesmo ano, seria um dos fundadores da Associação Cearense de
Imprensa (ACI). Em 1º de junho de 1927, ao final da tarde, na praça do Ferreira,
sofreu uma emboscada de 12 oficiais da Polícia Militar, a mando do governador,
que não apenas o espancaram violentamente, mas fizeram questão de levá-lo
ensanguentado à Photo Salles para provar com retrato o seu grande feito. Este
fato teve imenso impacto na cidade, reunindo jornalistas, políticos,
intelectuais e artistas em sua defesa e para a glória de celebridade que DR já
alcançara na época.
Sete
meses depois, há 95 anos da graça dos tipos, em 7 de janeiro de 1928, soava-se
uma sirena na praça dos Leões e urgiria, pela voz incômoda e saudosa dos
gazeteiros, o anúncio de um novo vespertino, nascido de uma impressora de
segunda mão e a 200 réis, “com 44cm de altura por 31cm de largura, 16 pág. e 64
gramas”: O POVO, em pouco “o jornal das multidões”, fonte inesgotável de toda a
história cultural do Ceará desde então.
Em
1988, durante o Centenário de Demócrito Rocha, A Fundação, que leva o seu nome
(e os seus ideais), juntamente com o Instituto Histórico do Ceará, Assembleia
Legislativa e a Secretaria da Cultura do Ceará, lançaram a biografia “Demócrito
Rocha: uma vocação para a liberdade”, de Paulo Bonavides, no Plenário da
Assembleia.
Em
2023, a Fundação, por meio de suas Edições Demócrito Rocha e da gentileza do
deputado Guilherme Sampaio, voltará em sessão solene na Assembleia Legislativa
para comemorar agora os seus 135 anos, com o lançamento de “Notas do Dia”, obra
inédita, o primeiro livro (crônicas) publicado de autoria de Demócrito Rocha,
que, já dizia Rachel de Queiroz, ser “a parte mais importante de sua obra literária, lida
avidamente pela cidade inteira”. Pois que esta cidade receba de volta a voz
imortal de um de seus maiores defensores e admiradores: Demócrito Rocha. Viva!
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