domingo, 9 de abril de 2023

"135 anos de Demócrito Rocha", de Raymundo Netto para O POVO


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14 de abril de 1888. Nascia em Caravelas, Bahia, “terra de pescadores, donos de coqueirais e madeireiros”, o menino Demócrito Rocha. Antes dos 5 anos perdera o pai João e a mãe Maria da Glória, sendo criado, assim como o irmão Heráclito, pela avó Ana e tios, sem muitas condições financeiras, de modo que, aos 12 anos, trabalhava como operário-torneiro em uma oficina de reparação de locomotivas. Cresceu. Aos 19 anos, passou a viver em Aracaju, com a tia Delfina, que forneceu recursos para que estudasse em bons colégios, apaixonando-se pelo Esperanto, pela Filosofia e Literatura e logo ingressando na Faculdade de Odontologia, curso que só concluiria em 1921, em Fortaleza, pois prestara concurso para os Correios e Telégrafos, e, sendo aprovado, em 1912, pelas vagas na Ponte Metálica, chegou e passou a residir na cidade. É a partir daí que a história de DR dá um salto. Conhecedor de outras línguas, recebia vasta correspondência – colecionava selos –, informava-se telegraficamente, reunia-se em diversos grupos, passou a colaborar em pequenos jornais, casou-se com Creusa em 1915. Em 1916 nasceria Albanisa e no ano seguinte Lúcia. Com pouco, envolveu-se na política, outra de suas paixões, sofrendo vários reveses na sua vida de servidor público (nos Correios), professor na Faculdade de Odontologia e dentista.

Em 1924, ao lado de Tancredo Moraes, Adília de Albuquerque Moraes (esposa de Tancredo) e Orlando Luna Freire, funda a Ceará Illustrado, revista originalíssima (trazia “clichês”/fotos, coisa rara na época) que, segundo Otacílio de Azevedo, distribuía de mão em mão na praça do Ferreira. Justamente pelo seu espírito gregário e sua ótima relação com os intelectuais da cidade chamou atenção de Júlio Matos Ibiapina, fundador do jornal O Ceará, criado em 1925, e que traria como redator e diretor literário o “Barão de Almofala”, um dos pseudônimos de DR. Ali nasceriam, em um tempo sem rádio ou TV, alimentando as noites familiares e de correligionárias em serões, as suas famosas “Notas do Dia”. Neste mesmo ano, seria um dos fundadores da Associação Cearense de Imprensa (ACI). Em 1º de junho de 1927, ao final da tarde, na praça do Ferreira, sofreu uma emboscada de 12 oficiais da Polícia Militar, a mando do governador, que não apenas o espancaram violentamente, mas fizeram questão de levá-lo ensanguentado à Photo Salles para provar com retrato o seu grande feito. Este fato teve imenso impacto na cidade, reunindo jornalistas, políticos, intelectuais e artistas em sua defesa e para a glória de celebridade que DR já alcançara na época.   

Sete meses depois, há 95 anos da graça dos tipos, em 7 de janeiro de 1928, soava-se uma sirena na praça dos Leões e urgiria, pela voz incômoda e saudosa dos gazeteiros, o anúncio de um novo vespertino, nascido de uma impressora de segunda mão e a 200 réis, “com 44cm de altura por 31cm de largura, 16 pág. e 64 gramas”: O POVO, em pouco “o jornal das multidões”, fonte inesgotável de toda a história cultural do Ceará desde então.

Em 1988, durante o Centenário de Demócrito Rocha, A Fundação, que leva o seu nome (e os seus ideais), juntamente com o Instituto Histórico do Ceará, Assembleia Legislativa e a Secretaria da Cultura do Ceará, lançaram a biografia “Demócrito Rocha: uma vocação para a liberdade”, de Paulo Bonavides, no Plenário da Assembleia.

Em 2023, a Fundação, por meio de suas Edições Demócrito Rocha e da gentileza do deputado Guilherme Sampaio, voltará em sessão solene na Assembleia Legislativa para comemorar agora os seus 135 anos, com o lançamento de “Notas do Dia”, obra inédita, o primeiro livro (crônicas) publicado de autoria de Demócrito Rocha, que, já dizia Rachel de Queiroz, ser “a parte mais importante de sua obra literária, lida avidamente pela cidade inteira”. Pois que esta cidade receba de volta a voz imortal de um de seus maiores defensores e admiradores: Demócrito Rocha. Viva!







 

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