quinta-feira, 2 de agosto de 2018

"Teatro B. de Paiva", em 3 atos, por Ricardo Guilherme



TEATRO B
Teatro B. de Paiva. Era este o título de um artigo meu, publicado pelo jornal O POVO, em 23 de janeiro de 2011. Reivindicava essa denominação para o Teatro situado entre as duas salas de cinema do Centro Cultural Dragão do Mar, espaço que, aliás, ainda em 2018 continua sem um nome específico.
Porém, agora, com a instalação do projeto Porto Dragão nas dependências do antigo Sesc Iracema (Rua Boris) a figura de B . de Paiva é lembrada para denominar a sala de espetáculos que Dane de Jade e eu implantamos em 3 de outubro de 2005, com material cênico oriundo do Teatro Radical que encerrara atividades em 2000. Nesta data encenei ali o solo “A Divina Comédia de Dante e Moacir” e no dia seguinte iniciei sob o patrocínio do Sesc um projeto de orientação de dramaturgia e encenação denominado Interlocução Teatral
A homenagem ao teatrólogo cearense B. de Paiva procede. E recomendável seria que o Governo do Estado pudesse comprar o prédio, pois a sua ocupação via aluguel não garante de todo a sobrevivência da iniciativa.
B. DE PAIVA
B. de Paiva (de 1932) é de Fortaleza. Em Teatro, sua trajetória começa nos anos 1940, como ponto, soprando as falas dos atores no Conjunto Sacro-Dramático do velho Rufino Gomes de Matos. Era, então, àquela época, apenas o Zé Maria da dona Mazé do Seu Paivinha. A denominação B. de Paiva surgiria na década 1950, sob a inspiração de Cecil B. de Mille. Antes, José Maria Bezerra Paiva, aquele Zé franzino, da perna torta, uma espécie de Mané Garrincha do teatro, vivia mambembeando pelos círculos operários, como um aprendiz de Dionisos.
Gerado na escuridão dos porões da ribalta e parido pelo ventre iluminado à meia luz do buraco do ponto, esse dramaturgo, ator, diretor teatral esteve de 1954 a 1959 trabalhando com Paschoal Carlos Magno no Rio de Janeiro, e, em 1960, voltou à sua pátria-cidade para criar o Curso de Arte Dramática da UFC. Aqui, dirigindo o Teatro Universitário e a Comédia Cearense, liderou não apenas o movimento das artes cênicas do Ceará (até 1967), mas também o processo pela criação em Fortaleza da primeira Secretaria da Cultura do Brasil. Depois, outra vez radicado no Rio, fez-se diretor do Conservatório Nacional de Teatro e, posteriormente (1974-1977), reitor da FEFIERJ (berço da UNI-Rio), quando então tornou-se um dos precursores da implantação do ensino universitário de Teatro.
No início dos anos 1980, e por toda a década seguinte, o nosso B. passou a viver em Brasília onde dirigiu a Fundação Brasileira de Teatro, implantada por Dulcina de Moraes.
B. de Paiva protagonizou, no início do século XXI, ações culturais da Universidade Federal do Ceará e também dirigiu, por certo tempo, o Colégio de Direção do Instituto Dragão do Mar de Arte e Cultura que agora o homenageia.
ACERVO
Atualmente B. De Paiva reside em Fortaleza. Seu acervo (livros, fotos, filmes, vídeos, documentos, cartazes, programas etc.) continua, no entanto, encaixotado no Distrito Federal. Deveria ser assumido pelo Estado, via Secretaria da Cultura. Poderia até estar exatamente no mesmo centro cultural que agora sedia o Teatro B.de Paiva.

Ricardo Guilherme
ator, dramaturgo, contista e pesquisador da memória do teatro


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