segunda-feira, 13 de junho de 2016

Lançamento "Meus Qu(eros)", de Ângela Escudeiro (15.6)



Lançamento
Meu Qu(eros)
poemas de Ângela Escudeiro
Data e Horário: 15 de junho (quarta), às 19h30
Local: Theatro José de Alencar
Atração:
performance poética com Raffael Barroso, Mara Nívia, Mai Puig, Renato Severo e os alunos do curso de teatro do Cuca Mondumbim
Sessão de autógrafos durante coquetel.

“Cuspi na face da lembrança o batom dos teus beijos/ E risquei no ar a mágoa com lápis de sobrancelha/ No sumidouro do palco de rua.” (Ângela Escudeiro)

Quero.
Querer é um ato de busca de completude. Quem quer algo ou alguma coisa se sente metade, ou menos do que isso, ou um pouco mais, e busca no objeto/ser querido preencher um vão qualquer entre as suas necessidades, sejam elas físicas, espirituais, compulsivas ou compulsórias.
Afirmar um “querer”, geralmente embaciado em um renque de escolhas, pode não ser fácil, e compreender o porquê desse querer se torna, quando estamos atentos, um disciplinar exercício de autoconhecimento.
A querência desenfreada pode, ainda, torturar, quando o objeto desejado carimba na alma o estigma do proibido ou do não dizível, o que faz esse querer parecer quase um crime ou uma obscenidade, entretanto encoberto na camisa de força da gula insaciável de diabéticos.
Vem-me daí a desassossegada lembrança de Pessoa: “Querer é não poder. Quem pôde, quis antes de poder só depois de poder. Quem quer nunca há-de poder, porque se perde em querer.”. Junto eu aos autos ou baixos da questão a mesma declarada impossibilidade do autor de percorrer a vida por inteiro, de ter a experiência de todas as coisas, lugares e de todos os sentimentos vividos.
Os versos de Ângela Escudeiro nos chegam no calor do seu instante, colhidos numa luminosa manhã de gostosa exaustão, com toda a intimidade de cobertas brancas, amarfanhadas, a revelar o colchão arfante de molas que expressam em gozo, a certeza de que “palavras às vezes queimam queimaduras em terceiro grau”.
E são justamente entre palavras tecidas e costuradas que encontramos a voz feminina de poeta independente na busca de seu prazer, a versar sobre seus quereres e querismos, a princípio em composições sensuais, com matizes de erotismo, “desalinhando sensatez dos pensamentos”, evocando e imprimindo sensações muito próprias do acolher ao peito – em um abraço “a abrir-se em pétalas” – à despedida: “Quero/Nesse dizer urgente/Qual carvão incandescente/ Riscar com giz a partida”.
A atriz-bonequeira, arte-educadora, escritora e diretora teatral, sentada à janela de sua Casa Creme, apresenta-nos seus qu(eros) em acervo rendoso e inumerável, sem ater-se a estéticas, métricas, ritmos, rimas, correntes ou pretensões, seguindo apenas, assim nos parece, o querer de um espírito absolutamente confessional: “Se não explodir/Sem rumo, voarei perdida/Qual gordo balão colorido/ E sem vida”.
O querer da poesia em si viola a vida – e que bela imagem poética seria violar a vida, não no sentido de violentá-la, transgredi-la, mas de colocá-la em viola –, ao tempo em que a humaniza, se for isso possível, assim como se fora possível haver a expressão da liberdade a partir da linguagem e do uso de palavras, que são “lavas que escorreram da boca de um humano vulcão”.
De cadeiras em espera à margem do riacho que percorre a obra, podemos observar vezenquando as estrelas, a montanha verde, a areia da praia, os peixes no mar, o céu em todas as suas tonalidades, as folhagens, o luar, a chuva, os bombons de marula e a sua nudez, a natureza inteira cantada e decantada pelo um seu coração que “bem que podia pelo menos ser de pedra-sabão”.
Para mim, não há dúvidas de que as mãos que apontam o caminho desses versos são manobradas por um coração calejado – isso, claro, se ele for apenas um, o que duvido muito –, sem temor, sem pejos e sem horas. Há muito mais por trás do escrito, como afagos, dor, ausência, tangerinas, lágrimas, dedos acariciados delongadamente, despedidas demorosas em tardes chuventas ou em bancos de praça, no mirar do revoo dos pombos despertados.
Para o leitor, buscando revolver em si as camadas das areias de sua rotina árida e apoética, no “infarto frio dos dias”, será possível se encontrar, deixar-se levar (também) pelo revoar das memórias esquecidas (ou esquecentes), com “fartura nas veias”, pelo desejo de querer querer e querer mais uma vez, nunca sem querer, como em viniciana sentença de que amar “é querer estar perto, se longe; e mais perto, se perto”
É querer, e... eu também QU(EROS)!

Raymundo Netto
leitor




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