Lançamento
Meu
Qu(eros)
poemas
de Ângela Escudeiro
Data
e Horário: 15 de junho (quarta), às 19h30
Local:
Theatro
José de Alencar
Atração:
performance
poética com Raffael Barroso, Mara Nívia, Mai Puig, Renato Severo e os alunos do
curso de teatro do Cuca Mondumbim
Sessão
de autógrafos durante coquetel.
“Cuspi
na face da lembrança o batom dos teus beijos/ E risquei no ar a mágoa com lápis
de sobrancelha/ No sumidouro do palco de rua.” (Ângela Escudeiro)
Quero.
Querer
é um ato de busca de completude. Quem quer algo ou alguma coisa se sente
metade, ou menos do que isso, ou um pouco mais, e busca no objeto/ser querido
preencher um vão qualquer entre as suas necessidades, sejam elas físicas,
espirituais, compulsivas ou compulsórias.
Afirmar
um “querer”, geralmente embaciado em um renque de escolhas, pode não ser fácil,
e compreender o porquê desse querer se torna, quando estamos atentos, um disciplinar
exercício de autoconhecimento.
A
querência desenfreada pode, ainda, torturar, quando o objeto desejado carimba
na alma o estigma do proibido ou do não dizível, o que faz esse querer parecer quase
um crime ou uma obscenidade, entretanto encoberto na camisa de força da gula
insaciável de diabéticos.
Vem-me
daí a desassossegada lembrança de Pessoa: “Querer é
não poder. Quem pôde, quis antes de poder só depois de poder. Quem quer nunca
há-de poder, porque se perde em querer.”. Junto eu aos autos ou baixos da
questão a mesma declarada impossibilidade do autor de percorrer a vida por
inteiro, de ter a experiência de todas as coisas, lugares e de todos os
sentimentos vividos.
Os versos de Ângela Escudeiro nos chegam no calor do seu instante,
colhidos numa luminosa manhã de gostosa exaustão, com toda a intimidade de cobertas
brancas, amarfanhadas, a revelar o colchão arfante de molas que expressam em
gozo, a certeza de que “palavras
às vezes queimam queimaduras em terceiro grau”.
E são
justamente entre palavras tecidas e costuradas que encontramos a voz feminina
de poeta independente na busca de seu prazer, a versar sobre seus quereres e
querismos, a princípio em composições sensuais, com matizes de erotismo,
“desalinhando sensatez dos pensamentos”, evocando e imprimindo sensações muito
próprias do acolher ao peito – em um abraço “a abrir-se em pétalas” – à
despedida: “Quero/Nesse dizer urgente/Qual carvão incandescente/ Riscar com giz
a partida”.
A
atriz-bonequeira, arte-educadora, escritora e diretora teatral, sentada à
janela de sua Casa Creme, apresenta-nos seus qu(eros) em acervo rendoso e
inumerável, sem ater-se a estéticas, métricas, ritmos, rimas, correntes ou
pretensões, seguindo apenas, assim nos parece, o querer de um espírito
absolutamente confessional: “Se não explodir/Sem rumo, voarei perdida/Qual
gordo balão colorido/ E sem vida”.
O
querer da poesia em si viola a vida – e que bela imagem poética seria violar a
vida, não no sentido de violentá-la, transgredi-la, mas de colocá-la em viola –,
ao tempo em que a humaniza, se for isso possível, assim como se fora possível
haver a expressão da liberdade a partir da linguagem e do uso de palavras, que
são “lavas que escorreram da boca de um humano vulcão”.
De
cadeiras em espera à margem do riacho que percorre a obra, podemos observar vezenquando as estrelas, a montanha
verde, a areia da praia, os peixes no mar, o céu em todas as suas tonalidades,
as folhagens, o luar, a chuva, os bombons de marula e a sua nudez, a natureza
inteira cantada e decantada pelo um seu coração que “bem que podia pelo menos
ser de pedra-sabão”.
Para
mim, não há dúvidas de que as mãos que apontam o caminho desses versos são
manobradas por um coração calejado – isso, claro, se ele for apenas um, o que
duvido muito –, sem temor, sem pejos e sem horas. Há muito mais por trás do
escrito, como afagos, dor, ausência, tangerinas, lágrimas, dedos acariciados
delongadamente, despedidas demorosas em tardes chuventas ou em bancos de praça,
no mirar do revoo dos pombos despertados.
Para o
leitor, buscando revolver em si as camadas das areias de sua rotina árida e
apoética, no “infarto frio dos dias”, será possível se encontrar, deixar-se
levar (também) pelo revoar das memórias esquecidas (ou esquecentes), com
“fartura nas veias”, pelo desejo de querer querer e querer mais uma vez, nunca
sem querer, como em viniciana sentença de que amar “é querer estar perto, se
longe; e mais perto, se perto”
É
querer, e... eu também QU(EROS)!
Raymundo Netto
leitor
Nenhum comentário:
Postar um comentário