sábado, 27 de novembro de 2010

"Canto de Temporal", poema de Raymundo Netto


Canto de Temporal

Raymundo Netto

Em estado de algofilia...

Só tem explicações para tudo

Aquele que não vive nada!

Emoção confusa,

Mente obtusa

Em campos de concentração.

A imagem candente serpeia imprudente

No seu instante ocular.

Combalida, sofrida, esquecida

E inconstante em seu arfar,

A visão impudente

De sua vida celulada

Compõe a terra azul,

Fogosa em seu abrigo,

Ao cigarro amigo,

Ao vinho de caju.

Desaparece a sua fragrância no espaço...

Seus ensaios, em circunlóquio,

Reportam-se em beijos no mar.

Mundo desnaturado, morto de vidas, desencantado.

Caíra no chão pela última vez a voz

O coração sangrando sucumbe a só

A ilusão do pulsar que irradia.

Caíra no chão e pela ultimenésima vez a voz vocifera

Calara a quimera, mal que impera na dor que ardia.

2 comentários:

  1. Eitaaa! *_* Forte, viu? Como uma "Bofetada" na cara pra acordar! "Só tem explicações para tudo / Aquele que não vive nada!" é um aforismo à altura do Oscar Wilde :)

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  2. * No Nada

    Quando percebi, estava ali, no mar
    Olhando o luar, tímido, calado
    Pasmei. Fiquei pequena a meditar
    A grande obra divina, o inacabado

    Entrei no abismo, dádiva da mente
    No rastro, nada eu vi, tudo obscuro
    Janelas que batiam vazio pertinente
    Senti no nada a soma do futuro

    Desperdiçado, quase que sofri
    A lágrima cadente, o mal persiste
    Regado pelo bem, ao mal que vi

    Quisera ter a força dos extremos
    Pintar amor, que ao tempo não resiste
    Nutrir do nada, o tudo que não vemos

    sonianogueira

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