segunda-feira, 20 de outubro de 2025

"Maravilhamento: ler é isso!", de Armando Lucas


“Temos direito à fabulação é uma necessidade humana, parte constitutiva da sua realidade.”

 

Árvores centenárias desenham no chão da praça oásis de frescor. Nessas manchas temperadas, mesas se alinham ao longo do passar da gente.  Variam em quantidade de segunda a sexta.  Mas todas têm o mesmo tamanho.  E todas têm duas cadeiras que se entreolham por sobre toalhas de diferentes estampas, de bordas rendilhadas, que colorem os dias do amanhecer ao entardecer.

Agora, as cadeiras esperam e as mesas descansam. Elas, como as pombas da praça, saíram em revoada na busca das mãos que erram neste lugar de passagem.

Ele chega.  Puxa a cadeira.  Senta-se à mesa que tem um vaso ao centro, a única. 

Ela chega. Afasta o vaso para um lado, ajusta-se na cadeira e pede-lhe as mãos.  Ele pousa as mãos com a palma voltada para a estampa da toalha, acendendo-lhe as cores que se refletem em arco-íris nos olhos dela. Ela toma uma das mãos, a que está à sua direita; desemborca.

Suas costas caem no encosto da cadeira.  Logo seu tronco se volta pra frente e ela toma a outra mão. A cadeira cai de pernas pro ar.

De pé, ela anuncia:

- Ele voltou!

As outras acorrem. “A palma das mãos dele", ela aponta.

Todas olham; e todas veem; e todas leem; e todas exclamam com olhos acendidos de maravilhamento arco-íris; e todas anunciam, em regozijo:

- Ele voltou!




 

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