“Temos direito à fabulação é uma
necessidade humana, parte constitutiva da sua realidade.”
Árvores centenárias desenham no chão
da praça oásis de frescor. Nessas manchas temperadas, mesas se alinham ao longo
do passar da gente. Variam em quantidade
de segunda a sexta. Mas todas têm o
mesmo tamanho. E todas têm duas cadeiras
que se entreolham por sobre toalhas de diferentes estampas, de bordas
rendilhadas, que colorem os dias do amanhecer ao entardecer.
Agora, as cadeiras esperam e as mesas
descansam. Elas, como as pombas da praça, saíram em revoada na busca das mãos
que erram neste lugar de passagem.
Ele chega. Puxa a cadeira. Senta-se à mesa que tem um vaso ao centro, a
única.
Ela chega. Afasta o vaso para um
lado, ajusta-se na cadeira e pede-lhe as mãos.
Ele pousa as mãos com a palma voltada para a estampa da toalha,
acendendo-lhe as cores que se refletem em arco-íris nos olhos dela. Ela toma
uma das mãos, a que está à sua direita; desemborca.
Suas costas caem no encosto da
cadeira. Logo seu tronco se volta pra
frente e ela toma a outra mão. A cadeira cai de pernas pro ar.
De pé, ela anuncia:
- Ele voltou!
As outras acorrem. “A palma das mãos
dele", ela aponta.
Todas olham; e todas veem; e todas
leem; e todas exclamam com olhos acendidos de maravilhamento arco-íris; e todas
anunciam, em regozijo:
- Ele voltou!

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