No
sertão cearense dos Inhamuns,
abençoado por Nossa Senhora da Purificação, encontra-se hoje a ainda pequena
Saboeiro do Ceará.
Cruzando o pátio rústico da igreja
matriz, com detalhes coloniais, cercada de coloridas casas geminadas e beirando
o mercado municipal, Almir Mota, um menino falante de olhos miúdos, aos
seis anos, impressionava o populacho a já contar causos que ouvira de seu pai
Osmir e de sua vó Canela, a dona do sítio Cabeça do Boi.
Com pouco, partiria de sua terra natal
para residir em Iguatu, onde aos 16 anos estrearia no jornal literário O
Tostão com o poema “Pai Democrático”, uma homenagem a Tancredo Neves. Aquela
simples publicação “ficou para a vida toda”, e ele não parou mais.
Logo, reuniria um grupo de amigos e
juntos produziriam folhetos de poesia mimeografados. Mais tarde, saraus
itinerantes, vendendo os seus folhetos, então, impressos em gráficas, o que
continuou mesmo quando Almir deixou o interior para aventurar-se na capital.
Em Fortaleza, ingressou no grupo
Metamorfose de teatro amador, seria um dos criadores da Cia. Estripulia de
Teatro de Bonecos (no futuro, também dirigiria o grupo Garunjos), criaria a
Fundação Terra e trabalharia como gestor cultural. Até que, em 1999, publicaria
a sua primeira obra literária para crianças: O Cavalinho Amarelo.
Ele acredita: “Para escrever para
criança, você tem que se divertir como criança” e que a criança “é um leitor
mais exigente, porém, mais honesto”.
Após “O Cavalinho...” publicaria mais
de 25 livros para esse público que adora ler e vê-lo a contar as suas
histórias, sendo muitas dessas obras publicadas por diversas editoras e adotadas
em escolas de muitos estados brasileiros há anos.
Em 2009, iniciou as atividades da Casa
da Prosa, sua editora e produtora cultural, no mesmo ano em que seu livro A
Fera do Canavial (para jovens e adultos) recebeu o prêmio nacional
“Literatura Para Todos” do Ministério da Educação.
O Almir, que não se restringia a
escrever e a contar suas histórias, cresceu ainda mais como produtor cultural e
militante das causas do livro, da leitura, da literatura e das bibliotecas,
desenvolvendo projetos reconhecidos pelos seus resultados e seu poder de
agregar artistas, professores e leitores. Entre eles: a Escola da Natureza, A
Casa do Conto, a Feira do Livro Infantil de Fortaleza (em 7 edições) e a Feira
da Literatura Cearense, a Bolsa de Letrinhas (Bolsa Funarte de Circulação
Literária), Lamparinas de Histórias e o Baú de Leitura – ação que já
beneficiou, com doações de livros, mais de 500 bibliotecas e espaços de leitura
no Ceará, Piauí, Bahia e Minas Gerais.
Todos esses projetos são marcados pela
sua liderança, competência e com muito humor, mesmo quando diante das
adversidades que os artistas são obrigados a enfrentar se quiserem continuar no
ramo, no qual ele traz 40 anos de contínua atuação.
Contudo, como é apaixonado por
paisagens, é um viajante incansável, ao lado da esposa, Júlia Barros,
uma excelente contadora de histórias (a melhor), já tendo divulgado o seu
trabalho também no exterior, como no México, Colômbia, Costa Rica e Portugal.
Em 2025, Almir Mota chega aos 58 anos trazendo
consigo uma marca e um currículo admirável de produções e de muita resistência,
além de reforçar as visitas às escolas para divulgação de sua extensa obra,
agora também reimpressa.
Assim, durante a celebração do Dia
da Literatura Cearense, 17 de novembro, dedico minha homenagem a Almir
Mota, um menino grande que cedo descobriu na vida o encanto das palavras e a
esperança de mundo melhor em uma sociedade leitora.

Oxe, eche minino é virado na gota serena! Pense num cabra desenrolado. Uma crônica merecida!
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