Demócrito Rocha: 130 anos
Quando professor de Literatura
Cearense no Curso de Letras da UFC, ao falar do Modernismo, o nome que eu
mais destacava era o de Demócrito Rocha,
o poeta de “O Rio Jaguaribe é uma artéria aberta”, que assinou (como a todos os
seus poemas) como Antônio Garrido. Ao incluir o poema na minha Literatura Cearense (1976), pensei em
pôr o pseudônimo, mas era tarde: todo mundo sabia quem era o autor dos versos:
“O Rio Jaguaribe é uma artéria aberta / por onde escorre / e se perde / o
sangue do Ceará. / O mar não se tinge de vermelho / porque o sangue do Ceará /
é azul.”
Se formos pinçar os termos científicos
do poema, veremos que são muitos, como artéria, plasma, hemoglobina, sístole,
aneurismas, rede capilar, carótida, injeção de soro, células, protoplasma,
cromatina, etc., mas vamos ver que os vocábulos, lidos ao longo do texto, se
diluem na eloquência que povoa os versos, razão de ter sido um dos poemas preferidos
pelos declamadores.
Esse baiano de Caravelas, que veio ser
jornalista no Ceará, fundando em 1928 o jornal O POVO, merecia ser mais lembrado. Raymundo Netto, notável
trabalhador intelectual, escreveu uma série de textos sobre ele, mas suponho que
não foram enfeixados em livro. Mas um dia desses ele, Netto, lembrou que este
ano de 2018 marca os 130 anos do
escritor.
Nesse artigo, em que faz justiça ao
homem de letras, Raymundo Netto afirma: “Quem conhece um pouco da história do
Ceará sabe que é impossível se passar pelas décadas de 1910 a 1940 do século XX
sem tocar no seu nome.”
Meu Pai, o poeta e pintor Otacílio de
Azevedo, que conheceu de perto esse intelectual, ao lembrá-lo no livro Fortaleza Descalça disse ter sido ele
“talvez o maior dos jornalistas de nossa terra”.
Sânzio de Azevedo
Doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, membro da Academia
Cearense de Letras e, ainda hoje, o maior pesquisador da literatura produzida no
estado do Ceará.
Nenhum comentário:
Postar um comentário