Jáder de Carvalho, por
Audifax Rios, para O Canto Novo da Raça
O
escritor, poeta, político e jornalista Jáder de Carvalho é um
dos maiores nome da história da literatura cearense, seu poema “Terra Bárbara”,
indispensavelmente evocado quando se pensa e discute a identidade do povo do
Ceará é a síntese de um sertão que não existe mais, e que, no entanto permanece
vivo em muitas marcas e símbolos.
Jáder
de Carvalho era quixadaense, nasceu na Serra do
Estevão em 1901, e mudou-se para Fortaleza em 1915, no ano da grande seca que
inspirou o romance de Rachel de Queiroz. Jornalista combativo, fundou o jornal A Esquerda, depois foi preso por 364
dias durante o Estado Novo (1943) implantado por Getúlio Vargas. Logo que
conseguiu liberdade fundou o jornal Diário
do Povo (1947). Esse período é estudado pelo historiador João Alfredo Montenegro
no livro Jáder de Carvalho e o Diário do
Povo (2011).
Hoje em dia muitos dos livros que
publicou precisam ser reeditados. Dos seus romances apenas Aldeota consegue ser encontrado com certa facilidade em sebos e
livrarias. De vasta produção poética, é apontado como um dos precursores do
modernismo nas letras cearenses, com a publicação em 1927 do livro Canto Novo da Raça, em parceria com
Franklin Nascimento, Sidney Netto e Mozart Firmeza. Porém o poema que mais
gosto de Jáder de Carvalho, e que parece ser também um dos que o próprio poeta
mais gostava, é de outra safra, e trata-se de “Em Louvor de Quixeramobim”, na
qual a voz daquele que confessadamente foi “um menino lírico” consegue misturar
seus sentimentos e impressões ainda vivos da infância com personagens e
passagens da história da cidade:
“Não quero gravata. Não me tragam o
relógio de pulso. Quero o gibão, quero as perneiras. Quero o chapéu de couro.
Quem vai a Quixeramobim não é o professor, o bacharel, o jornalista Jáder de
Carvalho.
Quem vai é o neto de vaqueiro, o menino
que não esqueceu o pátio das fazendas.
Quem vai é o rapaz que, longe do mato,
longe do Banabuiú, punha o ouvido na areia da capital e ouvia (ah, como ele
ouvia!) o tropel de certo poldro ‘Andorinha’.
O mugido da vaca ‘Esperança’.
O mugido da vaca ‘Esperança’.
Quixeramobim, fala do coronel Jucá!
Fala de Antônio Conselheiro!
Conta-me a história do infeliz Luciano e
da famosa Joana Batista Barreira! (Aqui no ouvido, Quixeramobim: Estavas no
juízo, quando no papel, destronasse o imperador Pedro I e, de uma pernada só,
derrubaste a dinastia de bragantina e proclamasse a república em 24)
Olha, no chão, que os teus gados pisam
com ternura andou o pé revolucionário do meu bisavô João Aires de Olival.
Rapazinho, vindo do sertão para o Liceu,
não vi nada de novo nos teus rios, nas tuas serras, nos teus campos. Tudo era
conhecido velho. Até a cruz, gravada na pedra, perto do trem, me pareceu
familiar. Eu não vira a todos, com antecipação de quase um século, pelos olhos
de João? Às vezes, pego a pena e me sinto o padre Mororó, Às vezes, de
pálpebras fechadas, sou um vaqueiro de Muxuré. Às vezes, ardo em rancor: limpo
então o bacamarte, selo o cavalo, sou um Maciel a quem tomaram a terra. Um
Maciel a quem mataram um parente. Ah, Quixeramobim, eu adivinho poesia, Até na
vida dos teus ladrões de gado! Até na vida dos teus escravos! Até no adultério
das senhoras das casas grandes! Até na sentença de morte dos teus primeiros
jurados! Até nos despachos – ásperos e rápidos despachos – do juiz leigo, meu
parente capitão Antonio Duarte de Queirós! Até na tosse dos tísicos que te
procuram!
Chegou a hora, outra vez chegou a hora
de pôr o ouvido no chão da capital: lá vem o tropel do podtro ‘Andorinha!’. Lá
vem os aboios dos vaqueiros do Muxuré e do Logradouro, Lá vem a súplica do
matador de Luciano ao pelotão de fuzilamento:
– Meus amigos, eu só peço que não me
deixem sofrer!
Lá vem mais perto o poldro ‘Andorinha!’,
Meninas, tragam o meu gibão! Tragam as perneiras! Tragam as esporas! Tragam o
meu chapéu de couro! É assim eu vou a Quixeramobim.”
Sobre o poema acima transcrito, o
próprio Jáder Carvalho comentou depois o seguinte: "[...] eu amo esse
poema por dois motivos: porque ele saiu do sertão, saiu da minha alma e foi
ouvido pela primeira vez em Quixeramobim numa festa centenária do município, em
que esse poema foi lido na rádio para todos os quixeramobienses que se
encontravam na cidade. É um poema consequentemente que tem sua razão de ser,
preso a minha vida, está preso à história do Ceará e que está dentro da emoção
do poeta, emoção que nunca morreu em mim"
Pois bem: a poesia da história se tece e
Jáder de Carvalho vive em poesia!
Bruno
Paulino, escritor
Meu tio Jáder, orgulho de toda a família, “cabra macho”❤️👏🏼👏🏼
ResponderExcluirOla, me chamo carlos magno e sou muito fã deste grande poeta!!!
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