Lutei
com as forças que me faltavam do meio ao final da década de 1990. Tudo estava
complicado para mim. No particular e no geral. O projeto e a execução do
Shopping Benfica não contaram com apoio de ninguém. Só me diziam: aqui não dará
certo. Parecia um mantra. Lembrei-me de uma frase do escritor Zuenir Ventura:
“inveja não é querer que o outro tenha.” Eu era o outro. Foram anos.
Um dia, cheio de problemas, resolvi marcar
a data: 30 de outubro de 1999. Aniversário de d. Margarida, minha mãe. Deu
certo. Assim aconteceu. Com foto e nome de todos os que trabalharam para que o
Shopping Benfica saísse do papel. Do servente ao engenheiro. Havia um buraco no
meio do caminho. O do Metrofor, à nossa frente.
Família, colaboradores, amigos,
autoridades e o reitor Martins Filho, refundador do bairro do Benfica, depois
esvaziado com a criação dos campi do Pici e do Porangabussu, estavam lá.
O sol
era forte. Ao redor, necas de edifícios. Tudo bem, seria assim mesmo, ao som da
Camerata da Universidade Federal do Ceará. Os tapumes das vazias lojas não
tinham disfarces, mas dezenas de pinturas grandes de artistas locais, em
concurso que marcava a criação da Galeria BenficArte. Ganhadores (Emília Porto e
Audifax Rios) com passagens para os Estados Unidos e Europa. Prometido e cumprido.
Manhã seguinte, véspera do Dia de Todos os Santos, bateu a realidade. Convocamos associações e órgãos de classe, e nada.
Cada um na sua. Foi aí que o meu espírito de trabalho, da cultura, da irreverência, das artes e, sobretudo, o da
responsabilidade social, se juntaram e deram-me força. Desculpem a primeira
pessoa, mas não tinha uma segunda.
O Metrofor, de esperança, transformou-se
em transtorno. Tive que dar parte do nosso terreno para a abertura da Estação
Benfica, só inaugurada nesta segunda década do século 21.
Chega de choro. No dia 30 de outubro de
2017, o Shopping Benfica completou 18 anos. Fosse uma pessoa, teria passado,
com folga no Enem, mas escolheria um curso deste Benfica, raiz e fundamento de
várias universidades, como a Federal do Ceará, a Uece, a IFCE e de cursos
superiores, de vários matizes, particulares.
Os nossos vizinhos tornaram-se amigos,
desde a construção. Batiam papo, coçavam a cabeça, perguntavam o meu nome, como
seria a obra e a conversa corria solta. Hoje, são clientes, porque já eram
amigos. São tratadas como pessoas solidárias que nos deram o azimute para os nossos sonhos não virassem pesadelo.
Estamos agora a arrumar este jovem
Shopping Benfica. Novas roupas, novas luzes, cara limpa, espelho d’água, jardins frondosos dão a animação
indispensável ao ethos que o distingue dos demais.
O Benfica foi o primeiro shopping do Brasil a obter a certificação ISO-2001, de acreditação da
Grã-Bretanha. Por diversas vezes fomos homenageados no Fórum de Líderes, em São
Paulo. A pergunta que nos vinha à mente, ao subir ao palco: o que faço no meio
desses “Tycoons”. Uns, quebraram. Outros…
Na área da cultura ganhamos, anos
seguidos, todas as premiações do “Selo Cultural”, em administrações diferentes
da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult). Ao final, fomos aquinhoados com o selo
“Diamante”, o único concedido, entre empresas públicas e privadas. Depois, o
selo foi extinto.
Não estamos bazofiando. Externamos apenas
para que a história o registre. No Ceará, tem disso. Os bem-vindos e os aquinhoados são os abençoados pelo BNDES,
isenções, refis, incentivos fiscais, renúncias fiscais, fundos de pensões, entre outros. Nós, nunca tivemos nada disso. Pagamos e temos certidões fiscais
do Município, do Estado e da União.
Depois de tantos percalços vencidos,
estamos aqui ao lado de milhares de clientes, lojistas locais e, imaginem, até
multinacionais, já se instalaram no Benfica. Quem diria! Deus sabe como foi
duro, mas tudo defendido pela nossa equipe cabeça-chata, pelos lojistas e por
nossa clientela, gente de bem, que conversa conosco, do mesmo jeito que o fazia
durante a construção.
Vida que segue. Deus nos abençoe. Obrigado
a todos.
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