Não
gosto nem entendo quando pessoas tomadas apenas por boa-intenção, mas com
péssimo argumento e vivência, afirmam “ninguém mais vai ao Centro” ou “temos
que vitalizá-lo”. Ora, o que não falta ao Centro é vida! Porém, é certo, deixado
de lado pela pirotecnia do “novo”, do imediatismo, do consumismo e pelo
deslumbre midiático que embaça a relevância da própria identidade, o nosso Centro
Histórico carece há anos de governantes que, com a participação efetiva da
comunidade, o insira no planejamento global da cidade, promovendo-o,
conferindo-lhe a devida visibilidade, reconhecendo e preservando os seus bens
culturais, materiais e simbólicos, mesmo daqueles esquecidos e em estado de
deterioração, mas que ainda nos murmuram o desenrolar essencial da nossa
formação enquanto cidade e enquanto povo. Aliás, nós, povo fortalezense, somos
os maiores culpados por este descaso. Não poderíamos dar as costas ao nosso berço,
o marco inaugural de nosso desenvolvimento, das atividades artísticas,
econômicas, administrativas e todas as demais que nos fizeram chegar até aqui e
ser o que somos.
Pergunto-me há anos: como despertar nos cidadãos
a percepção de pertencimento desse valoroso espaço urbano? Como fazê-los
reconhecer e se apropriar dos marcos afetivos, históricos e estéticos que dizem
da sua cidade e da sua história? Como pintar em seus corações a paixão e os elementos
indispensáveis de resistência ao esvaziamento do imaginário e da memória
histórica e identitária?
Vejo no Centro, não apenas o valor afetivo,
mas de fruição. Contudo, parece-me ser ele uma cidade desconhecida, quase como
submersa, assistida de perto apenas pelos escafandristas – historiadores,
memorialistas, curiosos e cronistas –, com riquezas a se decompor aos poucos, a
se aniquilarem e a se descaracterizarem pela erosão natural do tempo e pela
incompetência e passividade desses filhos ingratos, cegos ao passado e à sua
origem.
Ora, não existirá uma administração a se
deter à causa, se os cidadãos não a abraçam, não a elegem. Já nos foi provado
que não planejar uma transformação no macroespaço, mas apenas resguardar alguns
exemplos pontuais, monumentos, áreas ou edificações específicas (Theatro José
de Alencar e Carlos Câmara, Casa de Juvenal Galeno, Cine São Luiz, Sobrado Dr.
José Lourenço, praça dos Leões, Passeio Público, entre outros) não muda a
realidade. Pelo contrário, acabamos por condenar esses equipamentos a serem
subutilizados – por ora não falemos do descompasso governamental crônico pelo
fomento deles –, tratados quase como uma herança ruim, um oásis na aridez de um
deserto.
Feliz do bairro por ainda contar com uma
vocação comercial natural, fazendo com que os lojistas – mesmo quando mal
orientados e pouco estimulados – mantenham a tradição do comércio de rua,
assegurando a vida, o olhar a esse ponto da cidade, a manutenção dos costumes e
tradições fortemente representados ainda no Centro, mais do que em qualquer
lugar de nossa cidade que, se um dia foi loura, hoje se encontra numa veloz e
crescente perda de cabelos.
Por isso, tomemos para nós: a preservação
e a requalificação do Centro Histórico de Fortaleza e o seu destino cabem principalmente
à decisão e à mobilização do povo fortalezense.
Viva o Centro!
Publicado originalmente em jornal "Viva o Centro Fortaleza", Ano I, nº 2 - julho de 2017
Editores: Paulo Probo e Silvana Figueirêdo
Contato: vivaocentrofortaleza@gmail.com
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