A “Pedra Ferrada” de Itapipoca, em 1924, foi estudada por Carlos Studart
Filho, em seu conhecido ensaio “A propósito de uma petrografia encontrada na
fazenda do Mucambo em Itapipoca”, publicado pela Revista do Instituto do
Ceará, no qual destaca: “Apresentavam-se traçadas com tinta vermelha
[segundo Martius, uma mistura de barro vermelho com urucum e dissolvido em
azeite] sobre a parede de uma gruta bastante ampla e representavam numerosos grupos
de silhuetas em séries paralelas. [...] Além dos desenhos apontados [silhuetas
humanas], distinguia mais, perfeitamente nítida e clara, a silhueta de um
bovídeo a pastar; via-se também uma ave de longas asas abertas [...] E é para
servir aos profissionais que queiram lançar mão das petrografias para seus
estudos que deixo aqui assinalada a existência da Pedra Ferrada.”
Estrigas, décadas depois, observava que as pinturas
tinham dimensões distintas, assim como seu estado de vivacidade. Algumas permitiam
apenas perceber-se os traços de contorno que determinavam a forma. Em outras,
porém, tanto o contorno como a forma estavam bem mais nítidas, destacando-se
até pelo colorido diferenciado na rocha.
O pesquisador e artista, teórico em arte, em seu
texto, impressiona-se com os detalhes ainda perceptíveis, destaca a “composição
simples e de pureza transcendente”, assim como “a elegância e a graça que o
artista – considerava-o(a) um(a) colega – captou e refletiu dentro do
formalismo de atitude e de linhas reais do modelo”.
Cita duas figuras humanas que parecem estar
dançando, “com flexão de pernas e braços, e a elegância com que o fazem lembrar
as dançarinas de balé”. Outra figura humana, diferente das demais, têm traços
que impressionam, podendo ser interpretado como “a representação de um ser
misterioso, com caráter mágico ou feiticeiro, num flagrante exercício de suas
atividades.”
Uma observação feita ainda no estudo de Studart Filho é que, ao contrário do que se pensava, essas pinturas não eram feitas às pressas e sem intencionalidade, pois deveria ser bastante custoso e difícil o preparo dessas “tinturas”, sendo necessário um tempo maior para essa execução.
“Todos esses trabalhos – afirma Estrigas –, todos os seres ali pintados, parecem ter tido suas imagens apreendidas pelos sentidos do seu autor ou autores, em um momento vivo das atividades desses modelos, e, nessa atitude, foram aprisionados, em pintura, nas paredes da gruta. [...] Esses trabalhos de arte [...] constituem-se a nossa manifestação artística pré-histórica cujo local escolhido para a sua execução foram as paredes internas de grutas, e não restam dúvidas quanto às formas que representam e ao seu caráter de qualidade estética.”
Ao final de seu estudo, após uma análise da escultura pré-histórica em alguns
cachimbos de barro e de citar alguns outros sítios de pinturas e/ou gravações
rupestres cearenses, conclui desejando que o estudo e a investigação sobre
essas inscrições continuem e que se preservem os originais por meio de
documentos, antes que os próprios efeitos naturais do tempo os eliminem.
Qual o sentido desses sinais e a quem devemos atribuir a sua criação? Seriam indicativos de tesouros enterrados ou submersos por flamengos ou jesuítas? Marcos de cemitérios, terrenos sagrados de antigos povos indígenas? Foram desenhados por grandes pajés para defender seu grupo de demônios, ou foram eles, os próprios demônios, os gnomos ou gênios fabulosos os seus autores, daí o terror que causavam (ou causam) a supersticiosos? Certo mesmo é que eles estão por aí, em muitos lugares no Ceará e fora dele, e merecem, sim, a nossa atenção.
Para os mais curiosos, assistam: “Vestígios pré-coloniais cearenses”, de Roberto Bomfim e Augusto Bastos: https://www.youtube.com/watch?v=7Uo2tkrp85g&t=6s
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