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Pulsante, vigorosa, sensorial: é assim que se
afigura a poesia de Hermínia Lima. Em Sangria
Azul, seu primeiro livro de poemas, já celebrava a sensualidade do corpo, o
amor vivido, saciado, de modo que essa poesia amorosa, sensual, retomada nos
versos de Sendas do sacrário, já
constitui uma marca de sua poética e, nesse novo livro de poesia, confirma sua
capacidade de desnudar-se sem ser piegas, de decantar o erotismo sem ser
vulgar.
O erotismo
Praticada, pode-se dizer, desde sempre, a poesia
erótica tem belos registros em obras de poetas gregos e latinos da Antiguidade
Clássica; posteriormente a exercitaram poetas da lírica medieval e provençal,
do Barroco e do Arcadismo, seguidos pelos românticos e, mais tarde, pelos
modernos e pós-modernos.
Embora exercitada em quase todas as épocas, a
poesia do amor carnal é mais um estilo próprio de cada autor do que uma
característica marcante dos movimentos literários. No Brasil, José Alcides
Pinto, Hilda Hilst e Pedro Lyra são representantes do que há de melhor nesta
seara.
Para Hermínia Lima , são as ‘ardências do corpo’,
os desejos, fontes de inspiração. O sexo – “sentido de ser” – não é apenas
leitmotiv de versos, mas a própria poesia: (Texto I)Seus versos são
extremamente sensoriais, inspirados no(s) amor(es) vivido(s), degustado(s) e
eternizado(s) na pele das palavras, onde ele(s) não perecem. Sim, é pela
palavra que ela (re) constrói as imagens de carícias, toques, olhares e
explosões de prazer que sutilmente se desenham.
Outro livro
Sendas
do sacrário é
incontestavelmente um livro de amor. Divididos em três partes, os poemas
ilustram a mulher ativa, dona do seu corpo e do seu prazer, em busca do amor.
Seu eu lírico, notadamente feminino, não reduz sua poesia a meros devaneios
românticos de uma mulher. Como Hilda Hilst, ela ora celebra a posse, a carícia
concreta, ora projeta, idealiza e sonha com a chegada daquele que abrirá as
portas de seu santuário, como se lê em “Busca”:(Texto II)
Leitura do
poema
A promessa de futuro, seguramente anunciada,
mostra o poder da busca e a capacidade de transpor céus e terra pelo abraço
desejado. Embora o eu lírico não seja declaradamente uma mulher, vê-se nas
entrelinhas, a voz das Penélopes, claro, do nosso tempo, pois, em vez de fazer
e desfazer mantas, ela “cruza fronteiras” e “cumpre a saga” enquanto aguarda
seu “Odisseu”.
Sabe a hora do encontro, simbólico, nas chamas,
nas águas ou entre-palavras. Esse último reserva já a possibilidade de o amor
realizar-se apenas em forma de versos, como disse, na pele das palavras.
Singularidades
Pelo elemento fogo, ela é corpo em brasa, bacante vestal nos braços do seu homem, consoante os versos: (Aquecidos, a princípio, pela mistura insólita / de vinho e chocolate, ferviam agora, / na chama dos próprios corpos / que incendiava a cama, o quarto / e ameaçava incinerar o mundo inteiro (“Joinville” p.41).
Pelo elemento fogo, ela é corpo em brasa, bacante vestal nos braços do seu homem, consoante os versos: (Aquecidos, a princípio, pela mistura insólita / de vinho e chocolate, ferviam agora, / na chama dos próprios corpos / que incendiava a cama, o quarto / e ameaçava incinerar o mundo inteiro (“Joinville” p.41).
Nas águas, é sereia ardilosa, tomando posse do
seu Boto (Enquanto canto / encanto. / O canto, à cata / acha, em um canto, /
estrelas / e as cata / para o ato (“Sereia” p.57)) . Entre-palavras, é a mulher
que seduz pelo verbo encarnado, lúcida e visionária, segura do que tem e/ou
pode ter (Ah, santa e profana habilidade de tocar com as palavras! (“Divindade”
p. 70).
TEXTO I
Sobre um altar de linho, / Derramam-se os
perfumes da carne /// (Poemas pulam entre pernas / e pousam cansados / na
cintilante espera / do recomeço) (“Altar” p. 24)
TEXTO II
Abrirei estradas para o norte, / rasgarei a mata
catando loas, /e levarei o sol para secar florestas. /// Espreitarei os
vizinhos peruanos, /aprenderei os ritos dos povos bolivianos, / E cruzarei
fronteiras navegando o rio Acre. /// Decifrarei dialetos de todas as tribos, /
mergulharei no rito de pajelança da nação Kaxinawa, / e seguirei as águas,
morada de Cobra Norato. /// Boiúna será meu guia, / pirarucus e castanhas meu
alimento / pelas terras dos seringais. /// Enfim, cumprida a saga, /
suspenderei a chuva, / e nua caminharei pela mata, / sorvendo a taça do Santo
Daime, / enquanto espero a hora do teu abraço.
Algumas notas
sobre a autora e sua obra
Hermínia
Lima é professora da Unifor, doutoranda em
Linguística na Universidade Federal do Ceará, antes, lecionou Literatura
Brasileira em Cursinhos e Escolas Particulares, em nossa cidade, em turmas do
terceiro ano do ensino médio. De intensa produção literária, dedica-se,
sobretudo, aos gêneros poesia e ensaio; neste, contribui, com textos bem
elaborados e centrados rigor científico, para uma melhor compreensão das
produções artísticas da pós-modernidade; na poesia, é uma das vozes renovadoras
desse discurso.
Obrigada, Raymundo, pela divulgação e pelo carinho com o qual você trata a produção literária de um modo geral e a cearense em especial. Abraço.
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