A
Grande Beleza, título provocante da película
franco-italiana de Paolo Sorrentino, traz a história (num cenário fabuloso de sete colinas Romanas, a "cidade eterna") de Jap Gambardella, intrepretado
por um ótimo Toni Servillo, um escritor boêmio que, aos 65 anos, ainda usufrui
do sucesso e da popularidade de seu único livro: O Aparato Humano.
Vivendo uma vida regalada por bebedeiras,
drogas, músicas eletrônicas e passinhos ensaiados e patéticos de festas sociais
cheias de nadas e hipocrisias vestidas elegantemente decadentes, Jap descobre
que, na sua idade, não se vê mais obrigado a fazer o que não quer.
Incomoda-se com o pensamento de escrever
outra vez e cita Flaubert diversas vezes, na sua tentativa de escrever sobre o
nada. É isso, sua vida é nada! O livro já está escrito.
Com um ar indiferente e, por vezes patético, e vestido meio que à malandro carioca, porém sem ginga, reside numa mansão com vista para o Coliseu (outro local de conflitos). Numa perspectiva
raulseixiana, pergunta-se:
"Eu devia estar sorrindo e
orgulhoso por ter finalmente vencido na vida, mas eu acho isso uma grande piada
e um tanto quanto perigosa. Eu devia estar contente por ter conseguido tudo o
que eu quis, mas confesso abestalhado que eu estou decepcionado. Porque foi tão
fácil conseguir e agora eu me pergunto 'e daí?', eu tenho uma porção de coisas
grandes pra conquistar e eu não posso ficar aí parado..."
Como todo bom escritor, é cheio de
manias, neuras, paranoias e tem um grande amor na juventude... cuja reaproximação se dá quando da (incômoda) morte dela, pela revelação do viúvo: "Para ela eu sempre fui um bom companheiro,
mas você, Jap, foi o grande amor de sua vida!"
Isso acende em Jap uma série de dúvidas
espiraladas do tempo do sem jeito e ele se pergunta, então, "Por que ela
então me deixou? Foi ela que me deixou... por quê?"
Encontrando o sentido para vida na
questão existencial e amorosa, perpassa pelos truques que não percebera, em
lacunas do não-dito e não-sabido durante todo o longo filme que também ironiza
a arte, os artistas e o efêmero, de forma impiedosa, colocando no chão as
mentiras engolidas e consumidas no dia a dia de nosso nada coletivo, essa coisa mais parecida com vida que conhecemos.
Afinal, qual é a grande beleza do filme?
A metáfora, certamente, é uma delas.
Filme para assistir numa piazza ou cruzando o rio Aniene:
"Ci ho messo un ora di conoscervi e di un solo giorno mi ami. Ma mi ci vorrà una vita si può dimenticari."
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