sexta-feira, 26 de abril de 2013

"Dedo no Olho #1", de Guabiras para o mundo!



A Osama Fanzines, o atentado à cultura, esculhambadamente, apresenta a revista Dedo no Olho # 1, um produto genuinamente cearense até o talo.
Guabiras, o nosso cartunista (não quer dizer que eu o peguei) ordinário de sempre, de algum lugar da Groelândia cearense (leia-se Groenlândia ou Gronelândia ou Parque Manibura, do lado da sombra), assim apresenta o exemplar que adquiri durante uma distribuição com fins lucrativos. Não tenho medo de dizer que gosto muitão do traço e do trabalho de quadrinhista do cara, e faz tempo, antes mesmo de ele desenhar e enquanto lia o Chiclete com Banana e a saga mexicotupiniquim de Los Três Amigos. Entendam como quiserem, como dizia o filósofo Choppenrow: “quadrinhos bons são bons quadrinhos”.
Na revista, por meio da agência cearense de controle de pragas, o personagem bíblico Zé de Aurim envolve-se em suas trapalhadas atrapalhadas. Você poderá conferir também o último capítulo final e inédito de Rannibal (com a participação exclusiva, previamente autorizada por Roliúde, de Anthony Hitchcoke e Jodie Foxter). De grátis, ZERO: as mazelas do horário esnobe, o suplemento completo para cérebros desmembrados, a trazer o “Manual do Pirangueiro”, o “Guia Culinário Cearense”, os “Transformers Cearenses” (ambulância do SAMU e as hilux do Ronda, dentre outros), a seção “Prateleira Sebenta” (dicas para ver, ouvir e zoar), as “Aventuras de Harrison Fawcett”, que é a cara do Indiana; os “Caçadores do Tutano Perdido” e o “Dossiê Panelada” (tudo que você teria que saber antes, mas que nunca teve coragem de perguntar nem ninguém para responder) e os quadrinhos “Os Asilados por Panelada”, patrocinados pela Associação Cearense de Comidas Reimosas. Tudo isso, além de a “Memória Fotográfica” e os quadrinhos filiobiográficos para Luís Henrique Guabirinhas, com a colaboração e insana cumplicidade de uma ruma de desocupados: Fábio Lima, Rafael Oliveira, Richard Bittencourt, Jean Galvão, Juca, Luís Henrique, Carlus Campos, Tiago Amora, Denilson Albano, Ana Lívia, Júlio Gilson e Gabriel Renner
Melhor que isso, diz o editador Guabiras, “só arroz requentado com manteiga!”
Isso aí, se você circula na Região Metropolitana de Fortaleza, superconhece pelo menos cinco terminais da cidade, frequenta bar de copo sujo, e não foi ainda assaltado em ônibus nos últimos três meses, dá para adquirir uma revista, pelo menos... Entre em contato com o Guabiras, galera, e DIVULGAÊÊ!!!

guabiras@gmail.com e facebook.com/guabiras.cartunista

"Esse Chove-Não-Molha", crônica de Audifax Rios para O POVO (26.04)



De repente, não mais, todo o Ceará ficou totalmente encharcado pelas chuvas ditas/tidas torrenciais, a coisa começou no dia do índio, quem sabe o motivo não teria sido alguma pajelança digital já que fumaças hoje, de fé, só as há no Vaticano, mesmo assim de tempos em tempos, em tempestades mais divinais. É que São José havia batido fofo, roído a corda, não cumpriu o prometido equinocial e, resultado, umas migalhas d’água aqui e acolá, Cariri e Ibiapaba; no geral deixando tudo verdinho, certo, no entanto com o gado morrendo sobre o tapete verde dessa arena terrível prenunciando a ausência da safra tão necessária.
E na dita noite, então, despencou na capital e adjacências uma baita chuva de responsa, acompanhada de trovões raivosos e ensurdecedores; relampos que iluminavam o quarto de telha vã pelas duas peças de vidro, o aguaceiro borrifando respingos pelo recinto como outrora os padres espargiam água benta pelos vãos catedrais. E tomara que continue assim, talvez até seja nova tática celestial, já que o planeta está mesmo de ponta cabeça, que o digam tremores de terra, ondas gigantes, altíssimas temperaturas, açudes esturricados aqui, inundações nefastas alhures.
Fico a pensar se as famosas secas dos sete, a antológica do quinze, e mesmo a recente (?) do cinquenta e oito, foram mesmo essas calamidades tão propaladas nos cordéis, nos compêndios de história, nos livros de ficção. Naqueles tempos as comunidades eram bem menores, a população reduzida, os próprios rebanhos diminutos. Mal comparando, assim como o tal dilúvio universal. Dois rios bestas inundaram, o Tigre e o Eufrates, a Mesopotâmia, o único pedaço do planeta habitado nas priscas eras ficou debaixo d’água. Como acontece frequentemente com a ilha lá de Santana nas grandes cheias. O mundo habitado ficou submerso, o mundo de Noé acabou. Mas isso lá são elucubrações de quem não tem assunto para uma crônica chinfrim e lança mão do velho artifício de encher linguiça e a paciência do leitor.
Bom, é possível que quando o distinto apreciar estas mal-traçadas tudo já tenha retornado ao anormal, quer dizer, haja passado a chuva e tenha voltado o calor e a lamúria. Essas enchentes esporádicas tem o sentido daquela anedota das duas faces da medalha: a notícia boa e a ruim. A boa: o gramado da Arena Castelão e do Presidente Vargas não mais dependerão dos favores da Cagece. A ruim: a Presidente Dilma voltará com os alforjes abarrotados de reais pensando com seus botões vermelhos, “esses nordestinos tão é chorando de barriga cheia”.
No entanto, diante de tanto transtorno e decepção confiaremos de novo em José, o operário, que é reverenciado neste primeiro de maio, dia do trabalhador. Que se façam preces e procissões mas com certa parcimônia e prudência, evitar portar enxadas, foices e outros instrumentos agrícolas porque senão o cortejo, por mais bem intencionado, pacífico e santificado que pretenda, seja confundido com uma manifestação dos irmãos do MST e aí vai tudo, literalmente, de água abaixo.
É possível até que pare de chover em definitivo ao encerramento dessas divagações que serão publicadas de qualquer maneira mesmo em tempo seco. E se continuar a chover, alvíssaras, é a confirmação de que o inverno mudou de rumo, para nós cearenses não mais começará no dia de São José, 19 de março e sim no dia do índio, 19 de abril. Seja ele Cariri, Tremembé, Caratriú, Guanacé, Tupinambá, Pacaju, Quixelô, Genipapo, Quixeramobim, Icó, Anacé ou Canindé. Tudo é válido para reverter essa seca declarada em um inverninho pelo menos remediado. Que possa botar feijão e milho na panela do pobre e um peixinho como mistura. E que não esqueçamos de fazer uma peteca com a palha verde e jogar nas tardes escuras espantando tanajuras. Como nos invernos fartos dos nossos bisavós.

sábado, 20 de abril de 2013

Não perca tempo: leia "De Um Tudo" num só lugar, bem pertinho de você!


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Veio por meio de Audifax Rios, um dos nossos maiores, mais completos e queridos artistas brasileiros, o convite para o lançamento do DE Um Tudo: o almanaque da identidade cearense, publicação mensal da Oficina do Audifax, sob a responsabilidade jornalística de nosso não menos querido Tarcísio Matos e com projeto gráfico desenvolvido pelo João Rios, estrela oficial da Oficina.
E é isso mesmo: um almanaque, em pleno século 21! Audifax, que não é besta e tem mania de pesquisa, abre seu folheto com o editorial “O Fundo do Artigo”, uma breve história almanarquista (adorei), falando da volta do periódico, antes eletrônico, “agora à moda antiga, impresso em papel, com cheiro de tinta e o mesmo espírito simplório e inocente dos livretos premonitórios do tempo que norteavam a vida a partir de astros e raízes. Novidade, decerto, esperada ansiosamente por nossos fiéis legentes, como se dizia em priscas eras.” (...) um mensário da cultura inútil, em pleno reino da fuzarca (...)”
O almanaque, totalmente colorido e ilustrado, com conteúdo escolhido a dedo (no mais singelos dos bons sentidos), está em seu número 4 (embora seja a 5ª edição, pois teve início com o nº 0) e reúne, de fato, “de um tudo” de bom, em colunas fixas e desbundadas, distribuídas em suas 16 páginas, como a humorada “Ceará Moleque”, de Tarcísio Matos, “O Canto do Pardal”, contos e crônicas do prof. Pardal, “Cantarolando”, secção de curiosidades e dicas musicais, “Não Matarás”, charadas de Ernane Pinto, “Pitorescopa”, o futebol em todos os ângulos, por Airton Fontenele, “Cinematógrafo”, a maravilhosa e esculhambática “Miscelânea”, assinada pelo próprio editor (que sabe de cor histórias das quais não sonhamos...), “Tirando o Chapéu”, do amigo Léllis Luna, “Proscênio”, de Assis Martins, “Repentinadas”, o espaço do cordel, “Fortalezamada”, do querido memorialista-mor Nirez, “Olha o Passarinho”, por Antônio Duarte, “Horóscopo Falconético”, o guru brega-star do zodíaco, “Quadro Negro”, do professor BC Neto, em sua ½ figura, “Engenho & Arte”, “Lá de Santanas”, “Você Sabia?”, “Três Tempos”, de homenagens (até então: Airton Monte, Lustosa da Costa, Tarcísio Tavares, José Alcides Pinto e Barros Pinho), além de espaços diversos para artigos, matérias, poesias e outras memórias e a “Chronicando”, na qual, até então, participaram os “Netos” (ou “Nettos”) , João Soares e eu. As demais contribuições são inúmeras e amigas: Carmelita Fontenele, Kazane, Diogo Fontenele, Rouxinol do Rinaré, Serra Azul, Dideus Sales, Descartes Gadelha, dentre muitos outros.
É isso mesmo: entretenimento, música, cinema, literatura, história, memória e cultura, tudo pelas mãos ilustradas de Audifax Rios, detentor de excelente memória, pesquisador e produtor cultural, ilustrador, cenógrafo, escritor e artista plástico/gráfico.
O De Um Tudo vem “Com Tudo”.
Seja também um almanaqueiro como nós. E é baratinho. Compre o seu. Colecione. Faça assinatura. Anuncie. Compartilhe, meu irmão!

Contato: (85) 3044.2124 – João Rios
e-mail: almanaquedeumtudo@yahoo.com.br
https://www.facebook.com/groups/oficinadoaudifax/

quarta-feira, 17 de abril de 2013

"O POVO: 85 anos presente no Ceará VII", crônica de Raymundo Netto para O POVO (17.04)


A Rachelzinha, quando conheceu Demócrito Rocha

De Rita de Queluz a Rachel de Queiroz

“Minha graciosa Majestade: Quero primeiro dar-lhe os parabéns calorosos pelo triunfo que sua bela inteligência de mulher culta alcançou sobre a dolorosa mediocridade de nossas melindrosas. Nada mais justo que o ato das classes estudiosas do Ceará, elegendo-a. Mas, agora que vais ter sobre a fronte o diadema real, pergunto-me se são de fato os parabéns que lhe devo dar. Não os acha mal cabidos, dada a atual desvalorização do sangue azul? E já pensou quantos inconvenientes acarretam atualmente o cetro e a coroa?(...) É por isso que avento a ideia de lhe mudarem o título: e em vez de ser chamada ‘Sua Majestade Suzana I, Rainha dos Estudantes Cearenses’, proclamem-na ‘Chefe do Soviet Estudantal do Ceará’”
Rita de Queluz (O Ceará, 1927)

A “Rita”, ou melhor, Rachel de Queiroz, tinha apenas 16 anos. Enviara, de Quixadá, ao diretor literário de O Ceará, Demócrito Rocha, em seus 39 anos, uma “carta aberta”, datilografada em uma Corona, versando sobre a eleição da primeira Rainha dos Estudantes Cearenses, a também escritora Suzana de Alencar Guimarães — título este que seria concedido a Rachel, três anos mais tarde. Demócrito não somente a publicou, mas pediu mais, e ela mandou. A “Rita de Queluz”, como assinava, passou a ser frequente na folha. Na época, chegaram a crer tratar-se de um homem ou, quem sabe, uma das raras escritoras de Fortaleza, mas Jáder de Carvalho assegurava: “era a filha mais velha de Daniel e Clotilde!”
Um dia, Daniel levou a filha para conhecer a redação do dito jornal, localizada quase ao lado da Igreja do Patrocínio. Ela nos conta: enquanto seu pai conversava com o Ibiapina, se dirigiu devagarzinho pelos assoalhos do sobrado em direção a um “homem de cabelo revolto, olhos salientes, inteligentíssimo, boca de riso fácil”... era o “Barão de Almofala”, ou Demócrito — o mesmo que dizia que a autoridade maior do estado tinha a alma menor que seu pé; que criara o famoso bordão “Besteira, Jorge”, gozando o filho do rancoroso presidente, e que escrevia as “Notas do Dia”, as mesmas lidas pela família de Daniel todas as tardes: “Era só um jornal e, como todos queriam ler ao mesmo tempo, o problema se resolvia com a leitura feita em voz alta pelo mais velho” —, pensava, naquele momento em que ele se levantou da cadeira e, estendendo-lhe a mão, perguntou: “Então, você existe mesmo?”
Depois disso, não teve dúvida, seriam amigos. Ela já sabia que ele “era o padrinho, o irmão mais velho, o companheiro diário e o crítico condescendente de quase todos os aprendizes de literatura e de jornalismo em Fortaleza”. Daí passou a integrar a redação, sendo responsável pela página literária, a “Jazz Band”, feliz da vida, a tecer, inclusive, o folhetim A História de um Nome, até que O Nordeste, jornal da Arquidiocese de Fortaleza, crendo ser um escândalo a presença de uma mulher, principalmente tão moça, naquele “ambiente”, pôs-se a publicar artigos que fizeram Matos Ibiapina, em acordo com Daniel, tirá-la de lá, publicando ainda um perdão à família.
Demócrito não se conformou com aquilo e logo que criou o seu próprio jornal, meses depois, a convidou para escrever: “era com ele, agora!” E, de fato, foi O POVO, em 1928, a defender Rachel de Queiroz das novas críticas de O Nordeste à moral da professorinha recém-saída do colégio Imaculada da Conceição: “[...] Não estando no tempo inquisitorial, vivemos num regime de liberdade de crenças em que, portanto, o intelectual pode e deve ter o direito de externar as suas opiniões.”, gritava o editorial assinado por ele e outros intelectuais da época.
Demócrito reunia em torno de si os “modernos”, mas também se cercava dos “passadistas”. Rachel o ajudava nesse ponto, garantindo a sua presença, a princípio “arrastada”, aos serões do Salão Juvenal Galeno, um dos mais legítimos centros culturais cearenses.
Quando Demócrito criou a Maracajá, lá estava Rachel com seu “Se Eu fosse Escrever o meu Manifesto Artístico”, a defender que o artista tem de ser espontâneo e sincero e, para isso, tem que cantar o que sente a “sua raça”: “Eis porque eu canto o sertão e sol [...]”
Rachel lembra o dia em que conheceu o outro Demócrito, o “dentista”. Ele tratava-lhe um dente e, não se sabe como, deixou escapar o motor, tirando-o rapidamente de sua boca, mas ela, no susto, acabou mordendo-lhe ferozmente o polegar, que sangrou. Ficou envergonhada da reação, mas conta: “[ele] levou depressa à boca o seu dedo ferido, chupou o sangue e disse, piscando o olho, com aquele seu sorriso, como se contasse um segredo: Hummm... Tem gosto de cerveja...” Conta também que ele, mesmo com tanto tempo no Ceará, não se libertara do sotaque baiano de Caravelas, motivo de chacota de amigos quando ele dizia “oitcho” (oito), “lutcha” (luta), a ponto de, um dia, durante um efervescente comício, Demócrito terminaria assim o seu discurso: “A Bahia subiu no ‘conceitcho’ nacional!”. Ela, na plateia, batendo palmas: “Muitcho bem! Muitcho bem!”. Todos em volta riram, enquanto o orador descia em sua direção a puxar-lhe as orelhas.
Mais tarde, a moça escreveria O Quinze, um romance social — parecia natural sê-lo — recebido, por um lado, com críticas pesadas e desconfiança; por outro, com espanto e admiração. Muitas as conjecturas e a negação ao talento jovem e feminino. Entretanto, Rachel novamente encontrou abrigo nas páginas de O POVO, a divulgar fartamente as boas críticas e homenagens que a autora recebia no Ceará e, principalmente, de outros estados “inacessíveis” do país: “Desde o início, O POVO mostrou que viera para ficar. Foi a glória, o jornal criado na raça, na coragem e no talento [...] E a flama por ele lançada, passados já setenta anos [1997], continua impávida, luminosa, invicta. O POVO, já hoje venerando, é estrela maior na imprensa do Nordeste [...]”, afirmou, há 16 anos, Rachel de Queiroz, a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras e a receber o Prêmio Camões, dona de uma carreira e bibliografia invejável. Foi, assim, até morrer, colaboradora e defensora do jornal que foi a sua escola e, ao mesmo tempo, o seu jardim.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

"Fechamento do suplemento 'Sabático', do 'Estadão', por Felipe Lindoso para O X da Questão"



A notícia recente do fechamento do suplemento Sabático do Estadão acendeu a indignação de escritores, críticos e leitores que ali encontravam um produto cada vez mais raro na imprensa impressa: resenhas críticas que ultrapassem as limitações da simples notícia e, muitas vezes, análises mais detidas de fenômenos culturais importantes. 
O fechamento do suplemento, e a diminuição em geral do espaço destinado aos livros nos jornais diários não é, certamente, um fenômeno novo. Os chamados “rodapés”, as colunas na parte de baixo das páginas, ocupadas por críticos de imenso prestígio social e cultural (nomes como Tristão de Ataíde, Álvaro Lins, Agripino Grieco, entre outros tantos), que praticamente determinavam a aceitação ou o esquecimento de autores, foram as primeiras baixas. O domínio exclusivo de um grande nome pontificando em cada jornal foi exitosamente substituído em alguns dos grandes jornais pelos suplementos de literatura, onde havia uma pluralidade de colaboradores (embora geralmente a partir de diretrizes comuns). O “Suplemento Literário” do Estadão (1956-1967) e o “Suplemento Dominical” do Jornal do Brasil (1956-1961) são as lembranças mais recorrentes. Os dois foram substituídos pelo “Caderno Ideias”, no JB, e pelo “Cultura” e pelo “Sabático”, que agora se extingue, no Estadão. 
Mas o que importa aqui não é a história dessas publicações, e sim uma rápida reflexão sobre os que as fizeram desaparecer ou mudar, e que perspectiva se vê pela frente. 
As explicações mais recorrentes sobre o passamento dos suplementos literários/culturais fazem referencia à opção dos jornais por formatos que privilegiam a quantidade da informação em detrimento de sua qualidade. 
É uma conversa que vem desde o fortalecimento do rádio como meio de transmissão de notícias, passando pela televisão e culminando, nos últimos anos, com o desenvolvimento da Internet. Subjacente a ela, entretanto, há outro fator mais importante: todas essas publicações eram cronicamente deficitárias, considerando as receitas publicitárias dos jornais. 
A ausência de anúncios nesses cadernos sempre foi apresentada pelos departamentos comerciais às respectivas editorias como uma ameaça permanente. Os custos de produção, impressão e distribuição desses suplementos jamais foi coberto pela receita publicitária que geravam. 
Acompanhei esse lenga-lenga várias vezes. Os departamentos comerciais mostravam, principalmente, como os segmentos empresariais supostamente mais interessados na sua manutenção não publicavam anúncios. As editoras, de fato, raramente publicam anúncio. E, quando o fazem, sempre são minúsculos e ocupam, no conjunto, pouco espaço em cm/colunas. Os editores, os leitores e a “intelligentsia” retrucavam sempre que o prestígio dos cadernos compensava essa falta de anúncios. 
Os departamentos comerciais sempre ganhavam as paradas, e os suplementos fecharam. Até que outro diretor se iluminava e resolvia ressuscitar os cadernos, geralmente sob uma forma mais ampla (tratando de mais assuntos culturais), até que, mais uma vez...
Bem, tentemos pensar um pouco sobre os dois assuntos. 
Primeiro, a concorrência com a Internet, que é o pretexto de hoje, como já foram o rádio e a televisão. 
Jornal que tentar concorrer com a Internet, com a rapidez e o caráter sintético das notícias que são veiculadas por ali, já perdeu a parada antes de começar a corrida. Por aí não vai, e os próprios jornais já montaram seus sites com as “últimas notícias” na capa. Mesmo assim estão perdendo a concorrência com os portais, que oferecem outros serviços aos internautas e links para uma diversidade maior de assuntos. Quem ainda se sustenta nessa história é a Folha de S. Paulo, não por conta do jornal, mas por causa do seu portal UOL, que tem essas características de amplitude. 
Também não adianta rechear o jornal com colunistas (ou palpiteiros). A Internet pulula com esses personagens (como eu), que são lidos ou por um segmento especializado de leitores, ou por afinidades políticas ou sociais. E, como os jornalões em grande medida publicam os mesmos colunistas (coincidência ou afinidades eletivas?), os palpites estão espalhados pela rede.
Aparentemente a solução que funciona é a que mantem a qualidade editorial e a amplitude da cobertura no jornal impresso, e consegue transferir isso também para a Internet. A rede está cheia de experiências do tipo, mas me parece que o modelo do New York Times é o que está se consolidando. O NYT consegue manter um alto nível de qualidade editorial, com reportagens aprofundadas sobre os temas, que vão além do noticiário cotidiano. Só para citar alguns exemplos recentes, o diário detonou as condições de fabricação de produtos da Apple na China, tem feito reportagens abrangentes sobre o uso de drones nas guerras dos EUA. E mantêm o New York Times Book Review, o suplemento literário dos domingos. Às sextas feiras os assinantes cadastrados (grátis) recebem um e-mail com o conteúdo integral do suplemento. E podem ler, também gratuitamente, vinte matérias completas por mês. Se passar disso, tem que pagar. 
Essa e outras experiências de divulgação do conteúdo do jornal impresso pela Internet estão em processo. Ninguém sabe, exatamente, qual será o modelo que irá realmente vingar. Mas, pelo que acompanho, não é o modelo de reduzir a qualidade do conteúdo e desprezar segmentos como o de livros e leitura. 
Outro caso é o dos anúncios para os suplementos. As tentativas de fazer as editoras anunciarem nos cadernos culturais esbarram na mesma lógica econômica dos departamentos comerciais. É muito caro, proporcionalmente, anunciar livros nos jornais. Mesmo com as tabelas promocionais. Calculem só quantos exemplares um livro que custe R$ 50,00 tem que vender para pelo menos pagar o custo de um anúncio, depois dos descontos para todos os segmentos da cadeia. Não sei como andam as tabelas, mas certamente é irreal pensar que um anúncio (sempre pequeno) venda livros em quantidade suficiente para isso.
O caminho, evidentemente, não pode ser insistir nisso.
Marcelino Freire, sempre mordaz, publicou uma crônica em seu blog "Os Ossos do Ofídio" no qual põe o dedo na ferida. Anúncio em suplemento cultural só vai funcionar se, em vez de tentar buscar anúncios de livros, anunciar outras coisas que eventualmente tenham como público alvo os que também são leitores de livros. Não tenho o talento e a verve do Marcelino para advogar que garotas e garotos de programa ganhem bonificações se anunciarem nas páginas de cultura, mas certamente outros anúncios estariam bem melhor colocados ali que nas páginas gerais ou mesmo na dos respectivos segmentos (como telefonia e informática, por exemplo). 
Tenho certeza de que o resultado final dessa dizimação dos cadernos culturais por parte dos jornalões pode até trazer o aumento imediato de sua rentabilidade, medida na relação entre faturamento e custos. Mas isso contribui para o aumento de sua irrelevância e, no final das contas, para que percam a grande corrida pela sobrevivência.

Felipe Lindoso, jornalista, tradutor, editor e
consultor de políticas públicas para o livro e leitura,
para a coluna O X da Questão.
Mantêm o blog O X da Questão.



segunda-feira, 8 de abril de 2013

"Autores Cearenses estão na Pindaíba!!!"

Clique na imagem para ampliar (e saia da frente!!!)


Autores Cearenses estão na Pindaíba!!!

Como até aí não tem novidade? Pera lá, gente, estou me referindo à revista Pindaíba nº 3!!!
Há quem acredite que a Pindaíba esteja na AVONguarde da literatura cearense e do baixo Benfica. Traduzindo, seria dizer que ela é uma espécie de revista “fuleira de luxo” (dizem ser adeptos ao “Phuleirismo”), Bis Coito Fino, como jamais diriam - mas o quereriam - os eruditos.
Numa manhã chuvosa encontrei um cidadão, meio-cidadão na verdade, que atende pelo pseudônimo luso-hispano-cearês de El Escritor del Benfica. Folheamos juntos a obra de, ohs!, 124 acabalísticas páginas. Não, gente, de boa, a revista da editora EdBar está super de plus!, tendo, como editores, Cláudio Bentenmuller, Manoel Carlos, Augusto Nascimento e André Dias (autor da capa e do projeto gráfico) e, obviamente, não tem nenhum jornalista responsável, o que seria incompatível com a natureza do periódico esporádico e esporológico. Os revisores são três, o Poeta de Meia-Tigela, a Babi e a Gracielly Dias, mas, com certeza, nenhum deles chegou a ler (ou quis ler) a revista inteira, pois é incontável a massa e o volume de erros nesta matéria, quimicamente falando... e desatualização do acordo, mas acho eles não entram em acordos (erraram inclusive o endereço de meu blogue, o mais imperdoável dos erros!!!). Poderia dizer que se trata de questão de estilo, ou licença poética, mas seria como lavar a cara com óleo de peroba numa bacia de maçaranduba.
André Alcman abre a revista com “Aqui Jaz um Cidadão”, o que era para ser um necrológio, treze anos depois, do espaço cultural Cidadão do Mundo, se tornou um apanhado do panorama musical (“heavy, punks, blues, MPB, Techno, tutti frutti quanti”) dos finais dos anos 1990 em Fortaleza, além de uma trilha histórico-testemunhológico-musical do Cidadão Instigado, seguida dos quadrinhos “Polícia Cidadã”, uma mensagem em quadrinhos de André Dias (um parente bastardo do Gonçalves) realmente baseada em solidariedade. Depois, a secção “Contos Sujinhos & Poeminhas Sujos”, só a nata (de leite eles não gostam, mas de cervas) com a participação de 34 corajosos (ou sem noção) colaboradores apresentados por Manoel Carlos que os classificam em “representantes da literatura ejaculatória brasileira”, uma boca livre de “sacanagem figurada”: Sr. & Srta. P, a Academia dos Poeteiros (numa produção coletiva, ou suruba literária, sei lá), Airton Lima em “Supunhetamos”, Lisa Lorena em “Então chegou o dia”, Pedro Salgueiro em “Nas pedras do Estoril” (também baseado em fatos reais), El Escriba del Benfica com “Alice Flamboyant no país das maravilhas do Benfica”, “Coito de Contos” (o título impresso errado, claro), de Felipe Neto (que ficaria muito legal na voz de Ricardo Guilherme...),  “Do bombom e outros açucares”, do Senhor G., “Eva”, da Filha de Sade (que nas horas vagas escreve para crianças), “Plano Amoroso”, poesia de Ana Cristina de Moraes, “E sempre SEXO no TUDO é?”, de Eugênia Siebra, “Bandeira dois”, de Cláudio Bentemuller, “A leitura de Lia”, de Cellina Muniz, “Fábula”, do Poeta de Meia-Tigela (um diálogo fabuloso-vérsico entre o pênis e os ciumentos testículos, com direito a moral e tudo), “O aprendiz de feiticeiro”, de Nuno Gonçalves, dentre outros, sempre servidos de uma via sacrassutra por George Alexandre, Wellington Oliveira, Ewerton, Fábio Miranda (Thundercat rô), Nathália Forte, além da participação de Eugênia Siebra, Carlos Nascimento, Átila, Dinéffe Punk e Carlos Jorge. Uma entrevista com Falves Alves, criador de um dos primeiros cineclubes em Natal, um dos membros do “Poema/Processo”, sendo censurado na década de 70, quando participou da Erótica, revista de desenhos da Fundação José Augusto do Rio Grande do Norte. E, finalizando, graças a Deus e ao pastor Infelicianus, a secção “Tô Puto (a)” ou “Tô Put@”, nem sei mas como resolver esse problema de gênero e isso também me deixa puto.
Manoel Carlos, cheio de Raul na cabeça (penso que conheceu a sua música ontem, entre duas aranhas e uma maçã), traz um pós-editorial (era claro que essa revista terminaria em pós) e um poema do poeta breviário Marcelo Bittencourt saudando, carinhosamente, na tércia capa, o leitor (aí é sem noção, meeeesmo).
Pois é, eles podiam estar roubando, matando (outra coisa que não a gramática), sequestrando, mas estão só fuleirando e provando que fazer a Pindaíba é bacana, mas cerveja é melhor.
Quem quiser, mesmo assim, adquirir essa revista, a 15 pratas, entre em contato com:
Manoel Carlos: manoelcarlos@gmail.com
André Dias: diasnoc@yahoo.com.br
Cláudio Bentemuller: cbentemuller@gmail.com

O Ministério da Cultura adverte: a Pindaíba não tem nada a ver com incentivo à leitura ou coisa parecida, então nem inventem esse papo de mané filho que não gosta de ler e tal, e deixem que as crias pratiquem autoconhecimento no banheiro e, se um dia, eles gostarem do espetinho do Bar do Assis, acabam colaborando com a turma do canabisliterobiritis, falou?

quarta-feira, 3 de abril de 2013

"O POVO: 85 anos presente no Ceará VI", crônica de Raymundo Netto para O POVO (3.4)


O Barão de Almofala e a Secção de Grafologia de O POVO


“Eu sou sua constante leitora d’O POVO e, todos os dias, tenho o cuidado de economizar 400 réis para comprá-lo na ocasião da chegada do trem. Além dos excelentes artigos, do serviço telegráfico, da transcrição de capítulos do 2º volume do importante trabalho desse brasileiro extraordinário, desse assombroso Juarez Távora, há a magnífica ‘Secção Grafológica’ dirigida pelo Barão de Almofala. Leio-a continuamente com grande interesse e atenção porque acho-a um excelente desopilativo para o meu espírito que vagueia opresso nesta cidade de carapanãs e de soberbos monólitos, e onde os passatempos e as distrações não quiseram sentar morada. [...] Ao sr. Demócrito Rocha, que nos deu O POVO, uma verdadeira joia do jornalismo cearense; ao sr. Barão de Almofala, que nos proporciona momentos deliciosos com a sua ‘Secção Grafológica’, eu auguro um futuro brilhante, pedindo para o simpático jornal as bênçãos do Céu e o carinho e amor dos filhos da ‘Terra da Luz’” (uma leitora de Quixadá, sob pseudônimo “Sensitiva”, para o “Barão de Almofala”, em maio de 1928)

Pois o tal “Barão de Almofala” era nada mais nada menos do que o irreverente Demócrito Rocha, oculto sob pseudônimo com o qual assinava a “Seção Grafológica” do recém-inaugurado jornal O POVO. O pseudônimo e a secção surgiram, pela primeira vez, quando era “diretor literário” em O Ceará, como confirma o leitor Carlos, de Fortaleza, em abril de 1928: “Fui um constante leitor da ‘Secção Grafológica’ no tempo em que o sr. [Demócrito] colaborava no ‘O Ceará’. Com a sua retirada daquele matutino, privei-me, por alguns meses, desta agradável leitura. Talvez, já com intuito altamente nobilitante, achou que deveria engrossar as fileiras da imprensa independente: ‘eis que surge O POVO’. Agora, como este vespertino possui aquela mesma secção, resolvi endereçar-lhes estas linhas que serão o suficiente para uma análise minuciosa de minha personalidade.”
Demócrito conheceu cedo, em autodidatismo que lhe era comum, os princípios da grafologia. Não sabemos exatamente o que o “fisgou”, qual era o seu interesse, mas julgava-se perito na arte de analisar personalidade e comportamento das pessoas a partir dos signos gráficos. Também não descobrimos a origem do seu pseudônimo, mas sabemos da existência de dois titulares do baronato de Almofala, em Portugal. A grafologia existe desde o advento da própria escrita. Entretanto, o termo foi criado “oficialmente” na França, séc. 19, pelo abade, botânico e historiador Jean-Hippolyte Michon (1806-1881), que defendia que a personalidade e as emoções atuam sobre o gesto gráfico. O ritmo e espaçamento entre as letras e as linhas, a firmeza, organização, “velocidade” e legibilidade da escrita, a assinatura, o uso dos sinais gráficos, a presença de inclinações, as margens, etc., são instrumentais ou pistas utilizadas pelos grafólogos em sua análise.
Demócrito cria nisso e, em 1928, anunciava a “Secção Grafológica” aos seus leitores de O POVO: “Nesta secção, responderemos às consultas grafológicas que nos forem endereçadas por nossos leitores. Quem pretender um estudo de sua letra deverá preencher as seguintes instruções:
a) enviar uma carta de próprio punho ao sr. Barão de Almofala, nesta redação;
b) escrever sem disfarce, com a sua letra natural, em papel sem pauta;
c) juntar à sua carta cinco coupons dos que se encontram abaixo.” [o leitor tinha que comprar, pelo menos, cinco exemplares para conseguir uma consulta com o “Barão”, estratégia de marketing criado por Demócrito para promoção e venda de seu novo jornal].


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Logo, a redação viria a receber envelopes de cupons recortados por leitores de Fortaleza, Crato, Cajazeiras, Iguatu, Quixadá, Guaramiranga, Aracati, Senador Pompeu, dentre outras, o que demonstra a boa repercussão de O POVO no Ceará, mesmo ainda em seus primeiros meses.
Mas Demócrito, o “Barão”, muitas vezes confundido com uma espécie de “guru” ou conselheiro de seus leitores-consulentes, não se restringia à análise grafológica. Enviavam-lhe verdadeiras cartas onde versavam sobre dúvidas de vida, pediam conselhos, remetiam-lhe recortes de jornais, páginas de livros, solicitavam de sua “experiência” — o que ele dizia ser “uma flagrante perversidade” — sobre as coisas da vida... e ele respondia, comentava, publicava, debatia. Numa delas, sobre a relação amor e ciúme, Demócrito dizia que num coração não caberia dois amores e que “neste ponto, o amor que não for egoísta será amor sociedade por quotas de responsabilidade limitada ou sociedade anônima por ações, que é pior ainda...” Mais alguns exemplos, a seguir, nas palavras do Barão Demócrito: “Então, Yolanda, quer fazer de um barão, como eu, um feiticeiro? Apenas posso fazer-lhe um retrato grafológico. Adivinhar seu futuro é que não.”; “Sim, sr. Tibiriçá, merceeiro que já leu Eça de Queirós. Dá-me a impressão do velho Ragueneau do Cyrano de Bergerac. Já leu também Rostand (1), através do sr. Porto Carrero (2)? Não há nenhuma incompatibilidade com as cebolas da mercearia... Mas voltemos a sua grafia. O sr. é um homem direito, de rara bondade, altivo, enérgico, assimilador, tendo gosto especial pelas artes e admirável senso estético. [...]. Quer saber de uma cousa, sr. Tibiriçá? Sua letra indica-me que devo estimá-lo.”
Distribuía conselhos: “Tem se pesado ultimamente?”; “Mais cuidado com objetos que lhe pertencem”; “deixe de fumar e evite o álcool.”; “Vitalina? Pois se é vitalina, os solteirões não sabem o que estão perdendo... Porque você, Mirazinha, apesar de reservada e desconfiada, é de uma bondade e ternura capazes de fazer a felicidade do mais ranzinza neurastênico [...]”; Outra lhe escreveu apenas uma interrogação enorme: “Então, só aquele enorme ponto de interrogação desenhado no papel? Grafologia ou aula de pintura? Tenho apenas, para estudo, a data e a assinatura. Trata-se de uma criatura muito vagarosa, sem vontade própria, dominada e incapaz de nutrir afeição sincera por ninguém. Ficou zangada?”
Perguntado por uma jovem se deveria seguir a vida religiosa: “Então, Eleonora, você pensa que eu sirvo para diretor espiritual e que eu tenha o faro das vocações sacerdotais? Pergunte-o ao papá e a mamã. Pergunte a si mesma, depois de ouvi-los. [...] Um pedido: se for sentar praça em alguma ordem religiosa, não se esqueça de rezar por mim, sim?”
Entretanto, sua curiosa franqueza nas análises que fazia demonstra a seriedade com que exercia a sua grafologia, pois, ao contrário, elogiaria a todos, dispensaria palavras melosas a fim de angariar admiração, mas não era o que acontecia. O “Barão” era implacável: “V.Ex.a desconfia de tudo e vive numa eterna dissimulação. Por quê?”; “V.Ex.a  é lenta em seus movimentos e fraca de vontade [...] um pouco desarrumada com o que lhe pertence, desconfiada, reservada e sem a menor parcela de gosto artístico ou senso estético”; “falta-lhe energia e sobra-lhe agressividade”; “espírito culto, sem grande inteligência”; “seu ardor é fogo de palha”; “seu espírito é complicado e depressivo, hesitante, agitado e sensível”;  “sua preocupação é apenas estar a conforto, não é? Uma rede, um sono...Veja bem a sua vida”, “Você é um trapalhão! Que história comprida, seu Rogério! Sua concepção é lenta e seu espírito é medíocre, confuso... O sr. não tem gosto artístico, não se preocupa com as belezas do mundo, é desarrumado, sem ordem em seus objetos [...]”, dentre outros. Inclusive, ao receber de um consulente a afirmação de que a grafologia seria apenas um “mito”, após a sua análise, responde: “[...] Veja, portanto, que a grafologia não é um mito, como levianamente adiantou... E quer ter mais uma certeza? Mande auscultar-se por um médico de bom ouvido e ouça o que ele poderá dizer-lhe... Conheceu, papudo?”
Às vezes, a polêmica do “Barão” com os seus consulentes percorria as páginas do jornal, no qual, por exemplo, uma “Verbena da Serra” (leitores também utilizavam de pseudônimos) reclamava de um suposto engano do grafólogo, utilizando-se até de frases em francês, língua na qual ele a respondia, citando o grafologista Crepieux.
Com senso de humor, característica sempre reconhecida por seus amigos e contemporâneos, decerto divertia-se no ofício, como quando respondeu à consulente Marília: “Ótima! Excelente! Não é grafologia, não, é uma carta datilografada!”
Mesmo com sucesso, a “Seção Grafológica” não ultrapassou o ano de 1928. O motivo, supomos, seria, primeiro, a dedicação que ela exigia. Demócrito, ainda sem Paulo Sarasate, era diretor, redator, articulista, crítico literário, cronista, editorialista político, enfim, a equipe inteira de O POVO, e pouco tempo teria para dispensar a tantos “apelos”, além de que a secção passou a tomar um espaço maior no jornal, por vezes, quase meia página, passando a ser desvantajosa, comercialmente falando. Encerrando-se aqui, mais um capítulo de O POVO, daqui a 15 dias, Rachel de Queiroz conhecerá o misterioso Barão de Almofala...

(1) Edmond Rostand (1868-1918), teatrólogo francês, autor de Cyrano...
(2) Carlos Porto Carreiro (1865-1932), poeta e tradutor pernambucano, o melhor da obra Cyrano de Bergerac, membro-fundador da Academia Pernambucana de Letras.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Promoção da obra “João Dummar: um pioneiro do rádio no Ceará”, por tempo limitado



Em 2012 foi bastante comemorada a efeméride dos 90 anos do rádio no Brasil. O marco de inauguração oficial ocorreu em 7 de setembro de 1922, no Rio de Janeiro, por meio de uma estação de 500 W e de uma antena instalados no pico do morro do Corcovado por americanos da Westinghouse Eletric.
Na obra João Dummar: um pioneiro do rádio, do médico e escritor João Dummar Filho, lançado pelas Edições Demócrito Rocha em 2004, encontramos, entretanto, a história de João Dummar (1903-1954), um sírio que, ainda criança e juntamente com sua família, migrou ao Ceará, e aqui cresceu, envolvido pela música, teatro, futebol e o comércio.
Além de contar, de forma simples e prazerosa, a saga da família, o seu desenvolvimento na cidade do Crato e depois em Fortaleza, Dummar Filho esmiúça o surgimento da famosa “Casa Dummar”, apresentando relatos de seus colaboradores (dentre eles o jornalista e biógrafo do Dragão do Mar, Edmar Morel) e amigos; o ideal de divulgação da música e da cultura cearenses por meio da radiodifusão; a fundação, em 28 de agosto de 1931, da Ceará Rádio Clube, associação integrada por amadores da radiotelefonia; os principais programas de auditório da Rádio, os principais speakers (os “locutores”), cronistas e artistas “da casa”; as aquisições tecnológicas da época; o alcance internacional; as principais dificuldades; e os artistas locais e nacionais que se apresentaram em seus estúdios, dentre outras curiosidades.
A obra traz um capítulo de homenagens ao pioneiro do rádio, por meio de textos e relatos de Narcélio Limaverde, Adísia Sá, José Raymundo Costa, Blanchard Girão, Eduardo Campos, Roberto de Carvalho, e outros.
Obra fundamental para entendimento da fundação e consolidação do rádio no Ceará, para pesquisadores, amantes do rádio e curiosos em geral.

PARA SABER MAIS:
João Dummar: um pioneiro do rádio, de João Dummar Filho
Edições Demócrito Rocha
Nº de páginas: 128 p./ ano de publicação: 2003
Preço de capa: R$ 15,00 (quinze reais) 
Promoção válida entre 22 de março a 22 de maio de 2013 ou enquanto durar o estoque.
Pode ser adquirido no café- livraria do Espaço O POVO de Cultura & arte (anexo ao jornal O POVO, na av. Aguanambi, 282, Joaquim Távora Telefone: (85) 3255.6256.)