Caso
queira assistir ao trailer, acesse:
http://www.youtube.com/watch?v=gSxW32C7mjo
Ela
é impressionante. O filme, dirigido e roteirizado por Spike Jonze, é uma dramocomédia.
"Drama", porque expressa a parca existência humana; "comédia",
porque, vaidade às favas, nós somos todos muito ridículos e risíveis.
Ela
se passa no futuro, numa espécie de ficção científica barata, no sentido de
realista e sem aberrações megahard,
onde o mundo virtual cada vez é mais presente, ou seja, as pessoas perdem a capacidade
de discernir o real, o verdadeiro, do que é produto wireless, artificial, meio que uma verdade facebook, onde todos são maravilhosos, se curtem, viajam muito, são
repletos de amigos que, também felizes, não esquecem do aniversário de ninguém.
Assim, como no nosso mundinho egotrip as pessoas nem se percebem e estão cada
vez mais solitárias.
O cenário futurista mostra, num figurino
meio retrôtech e num andamento
melancólico que nos remete a O Brilho
Eterno de uma Mente sem Lembranças, Theodore (Joaquin Phoenix), um
funcionário em uma empresa que vende cartas. Pois é, Theodore, assim como
outros colegas, escreve cartas virtuais, com fontes manuscritas, simuladas em
papéis ilustrados como antigamente, encomendadas por namorados, pais e filhos,
amigos que não se veem há tempos, etc. Ele é triste e solitário e, ao contrário
de suas letters-fake, tem uma grande dificuldade
de expressar os próprios sentimentos em sua vida marcada por uma separação doída
e não resolvida. Sua ex-mulher, Catherine (Rooney Mara), também não aceita com
facilidade a separação, mas é mais "cerebral", professora
universitária, certa de que o ex-companheiro não consegue transitar com
facilidade por um mundo real.
Certo é que o escritor, embora seja
"popular", tem, de fato, apenas uma amiga, Amy (Amy Adams), e fora do
serviço brinca com videogames e é usuário insatisfeito de chats de bate-papo e sexo virtual. Dizendo-se confuso, mal
resolvido, inseguro, não consegue dar passo, encaminhar relacionamentos,
arriscar-se, até adquirir um novo sistema operacional de inteligência
artificial: "Samantha" (a voz de Scarlett Johansson). Uma novidade
comercial, o software é aparentemente humano, capaz de, além de atribuições
mecanicistas, interagir, de ter curiosidade, aconselhar, contar piadas, preocupar-se,
e, numa perspectiva darwinista ciborgue, capaz de evoluir e apresentar uma
individual visão de mundo com muito mais rapidez do que o mísero projeto Homo Sapiens. Então, nada mais natural
que eles se apaixonem, levando em consideração que o amor é uma insanidade
possível e aceitável, assim como acontece hoje nos logros e paixões fantasiosas
das redes sociais.
O comportamento humano e o "quase-humano",
os ciúmes, o amor, o desejo, o sexo, a ilusão, a posse, o divórcio, a dor e a angústia da inconfessável
solidão e todas as mazelas dos que amam e são amados (ou não) são discorridos
de uma forma menos corpórea, mais nua, portanto também mais crua, embora com
tintas otimistas, sem ser piegas ou melodramático.
Não me prendendo à perspectiva da
análise da praxis dos relacionamentos
futuros (leia-se "presentes"), às perguntas óbvias de não se ter
respostas ("Como é estar vivo neste quarto agora?") e o "querer",
verbo dificílimo de resolver e verbalizar sem medos, é um filme sensível, um
romance inteligente, que faz pensar, passando por dentro, ressoando nas paredes
de lembranças e tocando de leve as cúspides de quem vive ou viveu qualquer
dúvida em relação à temática afetiva.
Vale demais assisti-lo sem pressa, se estiver amando ou pensando no suicídio.
Dica:
leve com você uma garrafa d'água!
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