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O livro
de Raymundo Netto, Os Acangapebas, reúne
contos que possuem quase uma temática linear, como uma história única, cheia de
olhares e retratos. Logo de início, é elucidado que “acangapebas” significa “aqueles
de cabeça chata”. Imediatamente me senti impelida a pensar a obra enquanto
cercada de contos que permeavam nosso universo “cearês”. E apesar de
desconhecidos e muitos, os personagens todos me pareceram muito familiares,
como se fossem aqueles vizinhos de beira de calçada ao final da tarde.
Durante
a leitura me peguei aplaudindo algumas narrativas um tanto mais do que outras,
lembrando outros autores, revivendo histórias outras e mergulhando numa
profusão de sentimentos e balanços propiciados pela narrativa que me
entorpeceram.
Minha
próxima afirmação pode parecer engraçada, mas é de um tanto real: Raymundo
Netto tem ginga. Durante a leitura de alguns contos nota-se o quanto eles tem
"samba", o quanto a história fluía como na cadência de uma música. As
palavras rimam entre si de modo a dançarem, rodopiarem, levando a história
consigo.
E o que
falar dos neologismos, quantos tempotodotodotempo, peloamordedeus,
calmacalmacalma... Em cada texto uma peculiaridade diferente.
Raymundo
falou em muitas entrevistas e também nas conversas pessoais, o quanto o livro
foi difícil de sair, um tanto doloroso, pois estava envolto em tantas questões,
pessoais por demais, intensas... Bem, costumo dizer para os que ainda não leram
ou vão ler o livro que essa dificuldade saiu por fim em uma bela obra. De fato,
o mesmo Netto cronista tem uma ótima veia de contista. Dentre as histórias,
temos algumas sombrias, talvez não só isso, agonizantes até. Com a presença de
um riso que mais parece querer disfarçar a dor, o terror, existente em todos
nós...
Alguns
finais me lembraram Nelson Rodrigues, em seu histórico A vida como ela é , cheio de mortes, descobertas sinistras e
alívios sem fim. Já outros me lembraram F. Sabino, como no conto do Juca em
pelo, mas mesmo na lembrança, não havia mistura, era definitivamente outro
autor que estava ali. Era um novo contista contemporâneo que soube muito bem
mexer com as palavras, fazer jus a nossa terra tão cheia de ótimos escritores
desse gênero literário, brincar principalmente com os sons e um ritmo que fez
de Os Acangapebas um excelente livro
para se ler (não a todo momento, talvez não, mas que fará muito sentido para os
bons leitores que sempre desejam descobertas, não necessariamente prazerosas de
si mesmo, mas cheia de possibilidade de um olhar para si).
Tenho alguns contos prediletos,admito. São eles: “Álbum de Fotografias”, “Domingo”, “Condomínio”, “Em Pregos”, “Portas Fechadas”, “Tara”, “Perfumen”, “Tragédia”, “Gêmeas”, “Anúncio ou O Espelho”, “Filho do Cão”, “Os Acangapebas”, “Intermezzo”, “O Circo”, “O Carnavalesco”, “Saudades”, “Cadeiras na Calçada”. Praticamente todos! E coloquei dois na íntegra aqui no blog [devaneios inconscientes].
Tenho alguns contos prediletos,admito. São eles: “Álbum de Fotografias”, “Domingo”, “Condomínio”, “Em Pregos”, “Portas Fechadas”, “Tara”, “Perfumen”, “Tragédia”, “Gêmeas”, “Anúncio ou O Espelho”, “Filho do Cão”, “Os Acangapebas”, “Intermezzo”, “O Circo”, “O Carnavalesco”, “Saudades”, “Cadeiras na Calçada”. Praticamente todos! E coloquei dois na íntegra aqui no blog [devaneios inconscientes].
Se eu
for falar do livro inteiro, de cada um, um por um, não terminarei tão cedo.
Tenho mesmo é que parabenizar Netto, pelo seu novo livro... e que venham mais.
E, além disso, dizer que fiquei mesmo muito feliz de poder estar em contato com
esse novo autor, dessa nova geração cearense que expande os horizontes para
além do que se produz nas terras alencarinas. Que bom para todos nós.
O livro
terá seu segundo lançamento amanhã no Teatro Emiliano Queiroz do SESC, a partir
das 19 horas, vale a pena ir, conhecer o autor, adquirir o seu exemplar, enfim
mergulhar nesse mesmo mar/sertão de histórias fabulosas, de mim, de você, de
Netto.
Sabrina Ximenes,
estudante de Psicologia,
estagiária
do Escritório de Práticas Jurídicas da UNIFOR e, acima de tudo, leitora.
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