terça-feira, 28 de agosto de 2012

"Os Acangapebas", por Sabrina Ximenes



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O livro de Raymundo Netto, Os Acangapebas, reúne contos que possuem quase uma temática linear, como uma história única, cheia de olhares e retratos. Logo de início, é elucidado que “acangapebas” significa “aqueles de cabeça chata”. Imediatamente me senti impelida a pensar a obra enquanto cercada de contos que permeavam nosso universo “cearês”. E apesar de desconhecidos e muitos, os personagens todos me pareceram muito familiares, como se fossem aqueles vizinhos de beira de calçada ao final da tarde.

Durante a leitura me peguei aplaudindo algumas narrativas um tanto mais do que outras, lembrando outros autores, revivendo histórias outras e mergulhando numa profusão de sentimentos e balanços propiciados pela narrativa que me entorpeceram.

Minha próxima afirmação pode parecer engraçada, mas é de um tanto real: Raymundo Netto tem ginga. Durante a leitura de alguns contos nota-se o quanto eles tem "samba", o quanto a história fluía como na cadência de uma música. As palavras rimam entre si de modo a dançarem, rodopiarem, levando a história consigo.

E o que falar dos neologismos, quantos tempotodotodotempo, peloamordedeus, calmacalmacalma... Em cada texto uma peculiaridade diferente.

Raymundo falou em muitas entrevistas e também nas conversas pessoais, o quanto o livro foi difícil de sair, um tanto doloroso, pois estava envolto em tantas questões, pessoais por demais, intensas... Bem, costumo dizer para os que ainda não leram ou vão ler o livro que essa dificuldade saiu por fim em uma bela obra. De fato, o mesmo Netto cronista tem uma ótima veia de contista. Dentre as histórias, temos algumas sombrias, talvez não só isso, agonizantes até. Com a presença de um riso que mais parece querer disfarçar a dor, o terror, existente em todos nós...

Alguns finais me lembraram Nelson Rodrigues, em seu histórico A vida como ela é , cheio de mortes, descobertas sinistras e alívios sem fim. Já outros me lembraram F. Sabino, como no conto do Juca em pelo, mas mesmo na lembrança, não havia mistura, era definitivamente outro autor que estava ali. Era um novo contista contemporâneo que soube muito bem mexer com as palavras, fazer jus a nossa terra tão cheia de ótimos escritores desse gênero literário, brincar principalmente com os sons e um ritmo que fez de Os Acangapebas um excelente livro para se ler (não a todo momento, talvez não, mas que fará muito sentido para os bons leitores que sempre desejam descobertas, não necessariamente prazerosas de si mesmo, mas cheia de possibilidade de um olhar para si).

Tenho alguns contos prediletos,admito. São eles: “Álbum de Fotografias”, “Domingo”, “Condomínio”, “Em Pregos”, “Portas Fechadas”, “Tara”, “Perfumen”, “Tragédia”, “Gêmeas”, “Anúncio ou O Espelho”, “Filho do Cão”, “Os Acangapebas”, “Intermezzo”, “O Circo”, “O Carnavalesco”, “Saudades”, “Cadeiras na Calçada”. Praticamente todos! E coloquei dois na íntegra aqui no blog [devaneios inconscientes].

Se eu for falar do livro inteiro, de cada um, um por um, não terminarei tão cedo. Tenho mesmo é que parabenizar Netto, pelo seu novo livro... e que venham mais. E, além disso, dizer que fiquei mesmo muito feliz de poder estar em contato com esse novo autor, dessa nova geração cearense que expande os horizontes para além do que se produz nas terras alencarinas. Que bom para todos nós.

O livro terá seu segundo lançamento amanhã no Teatro Emiliano Queiroz do SESC, a partir das 19 horas, vale a pena ir, conhecer o autor, adquirir o seu exemplar, enfim mergulhar nesse mesmo mar/sertão de histórias fabulosas, de mim, de você, de Netto.

Sabrina Ximenes, estudante de Psicologia,
estagiária do Escritório de Práticas Jurídicas da UNIFOR e, acima de tudo, leitora.

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