João Felipe Melo, 17 anos, cearense
http://www.youtube.com/watch?v=Jo_2PyjMa4w&feature=player_embedded#!
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Cena final de filme,
filosofia de vida em para-choque de caminhão: “Espere o melhor, prepare-se para
o pior e aceite o que vier!”
Difícil definir vidas,
tão diversas em essências e existências que, desprezando os frios conceitos
fisiológicos e/ou filosóficos, dentre elas não há uma igual.
Penso na vida sempre como
um “ponto zero”. As pessoas não sabem a que vieram, chegando indefesos, via
impulsos primitivos voluntários ou não de seus pais, e sem condições de escolha.
Vivem, simplesmente, porque existem, com a garantia de que “existir” não
significa “viver”. Para alguns, sem dúvida, o parto é o certificado de sua
condenação eterna. Certa mesmo na vida, sem exceção, apenas a morte, figura
malquerida por uns, ambicionada por outros, experimentada todos os dias pelos
mais afoitos e relaxados, mas também por todos nós, a cada dia cumprido. A
vida, sem engano, nos apresenta a morte.
Tive e tenho amigos
suicidas. A maioria apenas praticante — os “bungee jumpers”, outros poucos,
entretanto, alcançaram êxito em seu ritual de adeus. São pessoas solitárias e
ensimesmadas, mesmo quando entre amigos — muito seletos — aparentam
espirituosidade e alegria. Em geral, são queridíssimas, gostam de dar
conselhos, preocupam-se com outros, distribuem esperança. Irônico isso:
distribuem aquilo que não trazem ou será que assim se esvaziam de toda ela?
Para mim é claro que a recusa
dessas pessoas não é à vida, mas, sim, à Humanidade, este ser misterioso,
interesseiro e hipócrita, semeador de mentiras, ganâncias, vaidades, exploração
e maldade misturada com a mania de ter e consumir. Os seres humanos, coitados,
em milhares de anos de uma discutível “evolução”, tornaram-se mecânicos,
frívolos, capazes de acreditar e repetir discursos manipuladores e clichês, de
defender avidamente os mais torpes princípios dos outros, inconsistentes, incapazes
de pensar por si, de entender os outros, de perceber a essência das coisas e
das pessoas, de descobrir que a vida é colorida pela diferença e não pelo
padrão.
Da mesma forma, muitos
vão, religiosamente, aos seus templos sagrados movidos pelo supremo egoísmo, rogando
apenas por si e pelos familiares, esperando com as suas “bocas escancaradas e
cheias de dentes” a gloriosa salvação de céu doirado, enquanto fora do
vestíbulo navicular chutam cachorro magro, acumulam seu usufruto, fecham os
olhos ao sofrimento alheio e espalham o preconceito e a superficialidade.
Quando me empaterneci, passei
a sentir todas as crianças ao redor como minhas. É uma sensação engraçada.
Emocionam-me as crianças, mesmo as desconhecidas, com uma ternura que antes não
conhecia, de forma que o sofrimento do filho alheio passou a tocar-me
profundamente. Talvez esse amor pelos filhos seja o único que nos consiga desviar
o pensamento do absoluto ego.
Assim, o caso do garoto
João Felipe, de 17 anos, brasileiro, arrastado pelo mar revolto e frio da Nova
Zelândia enquanto escalava uma rocha do Parque de Paritutu, com amigos e
instrutores de uma escola, deixou-me inquietado.
Hoje, “dia dos pais”,
data festejada e alegre, não consigo deixar de pensar como seu pai, o Célio,
deve estar se sentindo. Li sua declaração na confiança de ainda encontrarem o
filho: “Ele (o filho) é um cara danado”. Nesse momento, sei, tantas imagens
passaram-lhe à frente, coisas que o mar não conseguiria levar. Como deve ser
difícil soltar a mão delas e simplesmente ultimar o aceno à esperança. Eu
também acredito na volta de seu filho. Como acredito. Porque a volta nada tem a
ver com a partida. A volta é simplesmente um nó que não se desfaz, onde o
tempo, o espaço e a matéria não existem. A volta é a certeza do reconhecimento
de um amor verdadeiro e dedicado por toda uma vida. Vi um vídeo do garoto na
internet e percebi que ele já conhecia o que muitos procuram, em vão, por
longeva vida... e era muito feliz!
Cronica muito bonita. um presente no dias dos pais. obrigada. Clelia
ResponderExcluirCom todo sentimento, Clélia.
Excluir"Talvez esse amor pelos filhos seja o único que nos consiga desviar o pensamento do absoluto ego."
ResponderExcluirTalvez justamente o contrário, talvez o próprio ego, afinal, nos eternizamos em nossas criações, e o filho é uma delas.
Contudo, isso não tira o fato do ser humano se compadecer com o próximo, filho ou não.
Achei muito perspicaz a parte dos suicidas, gostei bastante.
Tenho minhas dúvidas se os conceitos fisiológicos ou filosóficos são tão frios assim, há tanta admiração e deslumbramento em descobrir a verdade. Ou não, talvez o mundo seja frio mesmo.
Gostei, em especial, desse trecho que tenho de citá-lo: "Vivem, simplesmente, porque existem, com a garantia de que “existir” não significa “viver”."
Massa!
Marcos, não sei se você é pai. Tem que ser para entender o que digo. Mas concordo que muitos, pelo ego, transformam os filhos numa espécie de continuum ego... rsrsrs Mas a doação de pais aos filhos, a atenção voltada ao outro, mesmo que por uma volta a si, é um movimento que pouco encontro de outra forma.
ExcluirQuanto ao descobrir a verdade, desconfio que isso seja possível. Parece-me que verdades são muito pessoais sempre. Podem rotular-se no senso comum ou não, mas o que se conceitua, geralmente se condena. As palavras são pequenas para coisas grandes demais.
Obrigado pela leitura, Marcos.
Bonito.
ResponderExcluirSingular é a analogia entre suicidas potenciais e o dia dos Pais.
Imagina por quê?
ExcluirSuas crônicas tem sempre um toque muito pessoal (quais não tem?), mas muito mais num sentido de que você sempre se deixa levar e nessa todo seu potencial paterno ainda falou mais alto... Muito bonita essa esperança pelo novo apesar de tudo que ele (não)revela.
ResponderExcluir“Espere o melhor, prepare-se para o pior e aceite o que vier!” Sempre fez muito sentido pra mim esse pensamento, acho até que me peguei um pouco sendo citada nos exemplos (não revelarei qual momento)... Passarei a esperar essa volta (em tudo talvez), nunca a tinha pensado assim...
A volta é um sentido de vida. Voltar nada tem a ver com a partida. Voltamos todos os dias ou não, mesmo quando estamos no mesmo lugar. É meio que quando desistimos de viver, algo inconsciente que nada tem a ver com a morte, como se vivesse por meio de aparelhos, como celulares, TVs, carros... rsrsrs Meio louco isso.
ResponderExcluirParabéns. Texto muito bonito. Eu moro na NZ e tenho 2 filhos. Eu também me sensibilizei bastante pelo que aconteceu a este menino e tem sido difícil tirar da minha cabeça como somos vulneráveis e como temos tão pouco (ou nenhum) controle sobre as coisas da vida e da morte. Não paro de pensar no sofrimento dos pais do Felipe. Ë muito triste. :-(
ResponderExcluirJeanine, você mora na Nova Zelândia? Como tomou conhecimento desse texto e do blogue? Por curiosidade... Agradeço pela leitura e pela sensibilização. Humanidade e empatia são avlores indispensáveis. Abraço.
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