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Lançamento
Data: 23 de agosto de 2012, às
19h
Local: Av.
Dom Luiz, 1010 (Shopping Varanda Mall)
Sobre a Obra:
Acabo de chegar de uma
fantástica viagem ao mundo encantado da ilusão. Passageira de primeira classe,
sorvi cada detalhe desses caminhos tão doces, tão densos, tão misteriosos, tão
únicos. Usando o ritual que se deve exercer ao tomar um bom vinho, assim procedi.
Absorvi as paisagens desta Avenida dos
ventos com recolhimento, atenção e respeito. Fiquei abastecida. O livro,
singular e belo, nos toca a alma, transmutando-nos em andarilhos sedentos e
curiosos ao que nos conta esta artesã do conto.
Thereza Leite resgata do
esquecimento a Avenida dos ventos numa
alegoria de prazeres, encantos, dores e surpresas. Cuida, outrossim, que o
tempo não caduque, temerosa de que percamos de vista essa avenida e suas ruas,
oficinas, parques, sobrados, domingos, ribeirões, labirintos e ventos. Esses,
mencionados na quase totalidade dos contos, o que vem a conferir unidade à
obra.
Destaque ao feliz emprego
das metáforas, certamente responsáveis pela beleza, iluminação e movimento das
estórias. Ressalte-se no conto primeiro o perfeito emprego metafórico: “A
avenida já queria se mostrar, mas ainda não tinha sido peneirada”. Ou ainda na
“Oficina do segredo”: “As flores inquietas no vestido”. Passagem de igual
beleza no conto “Ribeirão do tempo”: “A casa tinha sido amordaçada”.
Thereza Leite, já
consagrada contista, detentora de vários prêmios literários, convida-nos ao
encantado mundo “onde nascem os ventos gemidos”. Toma-nos a mão para galgarmos
“O Sobrado”. De lá, “As visões do labirinto” ultrapassam “O ribeirão do tempo”.
Portanto, não há pressa. A Avenida dos ventos
ai está. A nossa espera. Cheia de encantos...
Neide Azevedo
Escritora e membro da Academia Cearense da Língua
Portuguesa
Thereza Leite é uma
contista urbana. Canta a cidade pelo viés da memória. Ganha prêmios literários
aqui e em outros estados. Agora nos aparece com essa sua coletânea de contos
com o sugestivo título de Avenida dos ventos.
Apesar de ser produto de elaboração ficcional, percebe-se, ao longo das
narrativas, a presença de logradouros fortalezenses que nos são familiares. O
principal desses espaços sugeridos é a avenida Desembargador Moreira.
Essa avenida, no entanto,
é fantasiada como espaço onde o vento faz seu ninho para anunciar situações
fantásticas. São sobrados, casarões e prédios antigos que falam pelos
corredores, suam e sangram. Há uma permanente personificação de velhas
construções, onde a vida ainda lateja, apesar do abandono. Há uma poética
brotando de cada espaço. Os compartimentos são os personagens mais importantes,
porque os que ali habitaram, deixaram suas falas que foram incorporadas pelas
paredes, pelas escadas.
São histórias tão
próximas entre si que parece estarmos diante de um romance e não de um livro de
contos. Os aconteceres se entrelaçam e nos transportam para situações sombrias
onde a atmosfera de um fantástico aliciado nos põe diante de um iminente
aparecimento de fantasmas. Toda a fantasia ali bordada só poderia provocar o
nome de “Labirinto”, para o prédio. Mas o próprio texto que se ergue é um
prédio abandonado em que o tempo e o vento instauram labirintos.
Essas narrativas de
Thereza Leite trescalam corporeidades adquiridas em estruturas de cimento e aço
que perdem sua ossatura original e se põem no papel em forma de mitopoéticas
imagens. É preciso, pois, que o leitor adentre os compartimentos do texto
porque é nele onde todas as velhas construções criam fôlego e falam, verberam e
chegam a protestar contra a especulação imobiliária que se torna uma
especulação linguística, onde cada palavra pensada precisa do aval do vento, do
tempo e das argamassas.
Essas argamassas são
antolhos que protegem paredes espiãs, sempre vigilantes diante dos aconteceres
no casarão. Nada fica impune aos olhos da casa. A tragédia que ocorre em
“Ribeirão do tempo” parece ter depositado nas fundações do mistério, a
verdadeira autoria do crime. Entretanto a velha casa presenciou tudo e não
perdoa. E mesmo amordaçada, sua voz se liberta pelo alfabeto do vento, diante
das inúmeras obrigações herdadas. As pistas para a elucidação do crime são
dadas pelas coisas.
Numa tarde de sábado a
casa presenciou a tragédia. Pai e mãe mortos a tiro e dois irmãos também
assassinados, ficando incólume apenas o filho doente, com a arma na mão e o
caçula que não se fez presente. Muito estranho, muito claro, aquele filho
doente com a arma na mão. Então para o deslindar do mistério entra o fantástico
como explicador. “O crime chocara a cidade, e, dentre os muitos conhecidos que
fizeram parte do cortejo, dentro do cemitério, alguns estranharam que os
caixões de madeira nobre, que não podiam vazar, seguissem pingando sangue!
Porque, dizia a superstição, quando na hora do enterro os caixões vazavam, isto
significava que o assassino estava presente.”
“Avenida Feita de Ventos”
propõe-se, principalmente, ser classificado como um livro de contos. E
consegue, mas nem totalmente. É como alguns livros de contos de Clarice
Lispector que trazem na ficha catalográfica o aviso de que é de contos, e o
leitor termina por identificar, no seu interior, algumas crônicas. No caso de
Thereza Leite, esse fenômeno ocorre em alguns momentos como em “Oficina do
Segredo”, “As três Marias” e “Azul com tarja vermelha”. Nesse último, o leitor
identifica logo, o fato ocorrido na avenida e de que a crônica policial se
alimentou por alguns dias. Esse comportamento da escritora não desmerece a
qualidade de seus textos. Não é preciso rotular e sim reconhecer seu mérito de
narradora. Verdadeiras ou fantasiosas, suas narrativas se impõem pela lapidação
utilizada na arte de contar.
Mesmo com o foco sobre “A
avenida dos ventos”, o que aparece em todos os contos, o que caracteriza as
narrativas de Thereza Leite é sua diversidade de abordagem. Ela demonstra
conhecimentos tão variados que até parece ter feito pesquisas antes de escrever
cada texto. Um bom exemplo é “Base para Unhas Fracas”. Esse é um conto
antológico, a culminância do livro. Há tantos conhecimentos antropológicos em
torno da condição feminina em várias partes do mundo, que o leitor às vezes
suspende sua atenção ao enredo para mergulhar no ensaio em que se torna o
texto. Entretanto emerge para a narrativa porque a rebeldia da personagem é
exemplar ao se posicionar nua repintando um outdoor.
O que cativa mais nas
narrativas de Thereza Leite é seu pendor por apresentar saberes. Não são
intertextualidades. São conhecimentos que surpreendem o leitor, e que se
revestem de um aspecto até didático. O livro ensina além do que se propõe. Há
conhecimentos de Antropologia, de Comunicação, de ambientação e dos meandros da
linguagem. Sua arte de narrar envolve todos esses aspectos. Avenida dos ventos é
um livro saboroso, sinestésico, com gosto de maresia. Nele, o leitor entra pela
ficção e sai pela realidade, pois seus signos nos remetem a uma paisagem que
termina por nos ser familiar: Fortaleza.
Batista de Lima
Escritor, professor e membro da ACL
Eu poderia dizer um monte de algos, mas fico mesmo só no hummmmmmmmmm que bom.
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