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As
eleições se abancaram em nossa porta mais uma vez. Que droga!
Período
feliz, entretanto, para as empresas que trabalham com assessoria de comunicação
— principalmente aquelas que não se vexam com o abuso da capacidade de mentir e
enganar por trinta e poucas moedas; que pagam discretos silêncios dos colegas
nos meios de comunicação; que patrulham aqueles a revelar o já tão sabido: tudo
é espetáculo! O que importa é o partido e o poder. Só! Aliás, não deveriam se
chamar “partidos” e, sim, “unidos”, tão iguaizinhos se tornaram nessas P-bandas,
só se denunciando após desquite amigável e temporário.
Também
felizes aqueles que compensam o marasmo de um ano inteiro na geração de renda
palanqueal, tamanho o investimento dos candidatos. Os cabos eleitorais, aqueles
geralmente chatos e inabilidosos em quaisquer outras coisas, senão em assediar
eleitor, que ficam pendurados nos quadros de gabinetes de órgãos públicos e
ninguém sabe exatamente o que fazem, para que servem e ao que vêm, também se
alegram, pois finalmente “mostrarão trabalho”, lembrando ao gestor-quadrilheiro
a razão de ser carregado no dorso e na cangalha do povo por anos a fio.
Também
felizes aqueles que não deram certo na vida e que veem na política a sua
redenção — uma megasena em prestações não tão suaves —, a oportunidade de, com
certo investimento, conseguir a almejada independência financeira, não pelo
salário parlamentar, claro, mas pelas negociatas ad referendum e favores em frágeis licitações no exercício do sacrifício
público, prática colonial arraigada com naturalidade, inclusive, na mentalidade
do eleitorado que faria exatamente a mesma coisa, tivesse disposição, tempo e
dinheiro para investir nessa empreitada. Aliás, que lógica há para que se gaste
tanto, desfazendo-se inclusive de patrimônio pessoal para apenas servir ao
povo? Da mesma forma, o que faz com que esses capitalistas ferozes, que não
investem em nada que seja de outrem, abram, de repente, as portas de seus
cofres para eleger alguém que vai APENAS servir ao povo?
Igualmente
felizes as strippers e seus bundões de protesto, os palhaços, os empresários —
que o povo inocente acha que por ter dinheiro não hão de precisar “roubar” —,
os apresentadores de programas baratos e de audiência na canela — cujos
ouvintes e telespectadores foram formados para não ter crítica —, além dos
pastores milagreiros e líderes de associação envenenados pela popularidade
transversa, todos beneficiados pelo sem noção “voto obrigatório”, grande
responsável pelas centenas a milhares de votos que, num passar de vistas de
jornal, seriam improváveis. Fosse o “voto livre”, os eleitores “kamikazes” de
todos nós — cidadania é conquista e não obrigação — correriam no feriado para ir
à praia, beber cachaça, comer caranguejo, ralar na boquinha da garrafa e
discutir a bunda poliédrica da Gabriela. Deixaríamos lá, onde seriam felizes, enquanto
cairiam nas urnas apenas os votos dos que pensam no coletivo, que acreditam em
alguma coisa e que trazem algum critério na seleção desses caras. Imagino
campanhas e debates, um dia, mais qualificados para, então, eleitores conscientes
e não tão fáceis de levar no bico por promessas tradicionais.
Assisto
à propaganda política, faz tempo. O roteiro não muda! Os candidatos, canastrões
sorridentes, cruzando vielas sujas, esgotos a céu aberto, beijando crianças
desnutridas — as primeiras a serem traídas —, brigando por mãos magras, “ouvindo”
os idosos — os mais perigosos tentam andar de skate, sobem em jumento, dançam
forró... Chego a ver a indignação daquele, suando demais em estranha favela, e
percebo uma lágrima quase a cair de seu rosto. Deve pensar: “E ainda existe
lugar assim? Eu, hein? Se for eleito, Deus me livre aparecer por aqui outra
vez!” Mas ele voltará, sim, e o quadro não estará diferente... Talvez, pior.
Cinegrafistas
presentes, muito dinheiro gasto em campanhas, no palanque todos adesivados sorriem
muito, pactuando a futura vaga no gabinete. O candidato, inexperiente, cospe no
microfone quase sem voz: “Isso tudo vai acabar, meu povo!”. É aplaudido pela
multidão que ri e sabe: “Mas é claro que não!” Por ora, pedem uma camiseta, tijolos
ou telhas, uns espelhinhos e colares de contas e uma foto banguela ao lado
daquele que nunca mais verão, quando apertam-se afetuosamente para o retrato: “Ah,
doutor, que nós vamos votar é em você... também!”
Bem interessante seu texto, excelente reflexão e os eleitores ainda continuam duelando em prol desse ou aquele partido....
ResponderExcluirpura verdade,fazer o que.
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