Confesso:
sou um feio!, assim como também é feio, às vezes, quem me diz, e não é feliz,
nem poderia ser, a não ser que fosse também muito egoísta e, então, seria
defeito demais para uma criatura só.
Entretanto,
sou um feio aceitável, pelo menos penso que sou, nem horrendo nem bizarro, como
alguns de nossos colegas, profissionais involuntários da careta, que se exibem
nas ruas da cidade, nos terminais de ônibus, nas praças ou nas emissoras locais
de TV.
Não que
eu acredite no ideário grego de perfeição, nem vou citar “Don Giovanni”. Pelo contrário.
Para mim, ser feio é uma bênção: a beleza se perde, mas a feiura é permanente,
e com o tempo e o costume, passa a ser compreendida junto com a paisagem. Já os
faustos e belos, coitados, estão fadados à decadência ou ao redesenho hediondo
do bisturi. É encontrar aquela mocinha que na juventude era a namoradinha do
bairro e tomar susto pelo seu mal traçado destino: “Meu Deus, está acabada...
Do que me livrei!” Já o feio, não. O costume e o pouco de atrativos lhe conferem
certa jovialidade e simpatia. Eterno em sua rotineira capacidade de passar
despercebido e de não gerar expectativas, nos faz parecer até que está
“melhorando”...
Temos o
feio relativo, aquele que nem é tão feio quanto pinta, e no qual se é possível,
ainda, sinalizar que “quem ama o feio, bonito lhe parece.” Há, porém, de
encontrarmos por aí o feio vaidoso, aquele cuja feiura não lhe é suficiente,
sendo imediatamente valorizada por meio de brinco, cabelo, piercing, óculos
(todo feio, geralmente, utiliza-os) ou roupas coloridas e escandalosas.
O “feio
inteligente” — tem-se o “feio burro”, um descuido do controle de qualidade
divino que não deveria permitir o nascimento de tais seres, assim como também
não deveria o “belo inteligente” — tem como ordem do dia conhecer o íntimo das
pessoas. É, como forma de defesa, a princípio, um observador por natureza.
Presta tanta atenção à sua volta que termina por conseguir decifrar mentes, prever
acontecimentos, bolar planos maquiavélicos. Quase — em alguns casos, todo — um
bruxo! Muitas vezes, por essa característica, se torna escritor. Este, quando
mais famoso, ainda consegue, para insatisfação de seu editor, exigir sua triste
estampa na capa de sua obra. Invés disso, os mais inteligentes estudam, prosperam
na vida e compram imensos carros e namoradas festeiras: “Sou feio, mas eu
posso!” Por questão de ética, nem vou citar exemplos de horrendos na literatura
que ainda colocam suas esquálidas imagens em capas. Um real desserviço ao
leitor a guardar o livro de bruços na cômoda ou dentro da gaveta para não
desestimular a leitura das crianças.
Mendel,
que também era um feio, e por isso se divertia no quintal promovendo o coito de
ervilhas, descobrira que a feiura não cabia inteira num único rosto e
metastatizava pelas veias, disseminando e condenando suas futuras gerações, sendo
atenuada apenas quando do encontro casual com aquela bonitinha de pensamento
transcendental a amenizar as marcas de uma herança de feiumes ou a expiar seus
pecados na visão matutina de um feio despenteado a babar o travesseiro
justaposto, no auge da feiura despreocupada e entregue à mosca, de certo, azul.
É
sabido que a maior vitória do diabo foi convencer a todos de que era um feio.
Pois bem, também é sabido que as proprietárias das grandes agências de modelos são
imensas, além de feias. Assim, como vingança, contratam as mulheres mais
bonitas e as convencem de que têm que emagrecer, emagrecer, emagrecer, até que
sumam de vez das vistas humanas, agora, cadavéricas, paranóicas e tomadas de
olheiras.
Mas o
feio presta um grande serviço à humanidade, afinal, a beleza só existe quando ao
lado da feiura. Muitos dos feios, como já disse, se tornam artistas, pois
apenas a arte tem a capacidade de extrair a beleza do feio. Fica, então, a pergunta quase
humbertoecônica: “Será possível que por baixo de uma pátina malfeita possa
existir alguma beleza?”
Você usou a primeira pessoa como se falasse de si próprio. Você, no entanto é bonito e inteligente.
ResponderExcluirEi, Sônia, sou não... Sou feio, mas arrumadinho... rsrsrs Obrigado pela gentileza, viu? Abração.
ExcluirGostei, Raymundo Netto, muito hilária.
ResponderExcluirPenso que quem ama o feio, o bonito lhe aparece.
Taí, Vaz, é mesmo? Rapaz...
ExcluirMe identifiquei com o texto ^^ me senti uma feinha com esperanças ahahahha
ResponderExcluirE concordo esse texto em primeira pessoa está escondendo algo... proposital? porque? não deveria...
Os bonitos e inteligentes muito me deprimem..
Mas no fim, acredito que os feios podem muito mais e eles não são tão feios quando também estão na categoria "feio inteligente" pelo menos =)
De feinha você nem tem nada, Sabrina. Deixe de procurar elogio. Quanto a nós, os feios, agradecemos a solidariedade. rsrsrs Vou procurar me informar a respeito daquele assunto que me enviou, tá? Bjão.
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