O
conto é o gênero literário mais cultuado no Ceará (alguém já afirmou que temos
mais contadores de histórias que bodegueiros). Rara foi a geração que não nos
deu pelo menos meia dúzia de bons contistas. Mas raros são os excepcionais,
visto que o gênero é difícil, escorregadio, enganoso, muitos acham que basta
contar uma anedota interessante, alinhavar bem um caso curioso, para obter
êxito.
Atualmente
temos pelo menos quatro gerações produzindo narrativas curtas de boa qualidade
por aqui. Não sem tempo, a SecultCE editará em breve edição completa dos contos
do saudoso Moreira Campos, trazendo inclusive seu livro inédito “A Gota
Delirante”. Em agosto próximo, o nosso maior contista vivo, o oitentão Caio
Porfírio Carneiro, lançará em Fortaleza (comemorando 50 anos de sua estreia com
o já clássico “Trapiá”) sua nova coletânea: “Veredas da Caminhada”.
Há
poucos meses dois escritores que publicaram pela primeira vez nos Anos 70 nos
presentearam com dois ótimos livros: Airton Monte lançou o longamente
aguardado, “Os Bailarinos”, e Nilto Maciel editou seu nono livro de narrativas,
“Luz Vermelha que se Azula”. Obras importantes que solidificam dois dos mais
importantes nomes de nossas letras.
Depois
de quase 3 décadas afastados da literatura, dois remanescentes dos Anos 80,
Eugênio Leandro (que só havia editado “Rei Piau”, acaba de lançar o pujante “A
Noite dos Manequins”) e Isa Magalhães (que estreou com “Psiu, o síndico pode
estar ouvindo”, editará em breve “O Jogo do Amor”) retornam ao gênero conto.
As
ótimas Inês Figueiredo (que estreou maravilhosamente bem no conto com “Palavras
por Aí À Ventura”) e Maria Thereza Leite (que com seu terceiro livro de
histórias curtas, “Avenida dos Ventos”, a ser lançado brevemente, se solidifica
como uma de nossas melhores contistas) enriquecem com seus talentos este gênero
que no passado recente recebeu importantes contribuições de escritoras como
Margarida Saboia, Natércia Campos, Beatriz Alcântara, Regine Limaverde, Joyce
Cavalcante, Angela Gutiérrez, Lurdinha Leite Barbosa e muitas, muitas outras.
De uma
geração que estreou nos Anos 90 dois excelentes escritores nos trouxeram obras
singulares: os premiadíssimos Joan Edesson de Oliveira, com seu fantástico “O
Plantador de Borboletas”, e Tércia Montenegro, com seu belo “O Tempo em
Estado Sólido”, que recentemente venceu o prestigioso Prêmio Governo do Estado
de Minas Gerais. Geração que já nos deu Ronaldo Correia de Brito, Dimas
Carvalho, Luciano Bonfim, Paulo de Tarso Pardal, Jorge Pieiro, Alano de
Freitas, Astolfo Lima Sandy...
Outro
livro de narrativas breves bastante aguardado foi “Os Acangapebas”, de Raymundo
Netto (vencedor do Edital da SecultFOR e do Prêmio Osmundo Pontes de
Literatura, da Academia Cearense de Letras), digno representante de uma geração
recente que já nos apresentou Fernando Siqueira Pinheiro (com “O Tatuador de
Palavras” e “Ao Lado do Morto”), Carlos Vazconcelos (com “Mundo dos Vivos”), Túlio
Monteiro (com “Dois Dedos de Prosa com Graciliano Ramos”), Carmélia Aragão (com
“Eu Vou Esquecer Você em Paris”), Alan Santiago (com “Lua de Ur num Prato de
Terra”), Renato Barros de Castro (com “Dulcineia em Hollywood”), Brennand
Bandeira (com “Entre Oito Paredes”), Junior Ratts (com “Sweet Dreams”), Dércio
Braúna (com “Como um Cão que Sonha a Noite Só”), Angela Calou (com “Eu Tenho
Medo de Gorki”), dentre vários outros.
Através
de Edital da SecultCE, recentemente foi publicada a coletânea “Quantas de Nós”,
com histórias curtas de Carmélia Aragão, Cleudene Aragão, Vânia Vasconcelos,
Ruth de Paula, Maria Thereza Leite e Inês Cardoso.
De uma
geração ainda mais nova foi editada a seleta “Metropolis” (Edital da
SecultFOR), que traz sete contos de cada um dos sete participantes: Anna Karine
Lima, Fernanda Meireles, Flávia Oliveira, Joice Nunes, Mariana Marques,
Natércia Pontes (que lançou o livrete “Az Mulerez”) e Jorge Pieiro (único
veterano do grupo, que acaba de publicar o livro de contemas, como ele denomina
seus relatos breves, “O Outro Dono do Fim do Mundo”), quase todos inéditos em
livro e que têm na internet seu principal campo de atuação.
Além
dessa quantidade formidável de lançamentos recentes, os contos vêm sendo
incansavelmente publicados nas diversas revistas literárias (Corsário,
Pajeurbe, Pindaíba, Literapia, Caos Portátil, Singular, Para Mamíferos,
Aldeota, Pechisbeque etc.), mas principalmente nos muitos blogs e sites na
internet (dentre os quais destacaria os textos em prosa de Ruy Vasconcelos no
seu excelente http://afetivagem.blogspot.com//).
P.S.:
Não podemos nos esquecer de cearenses que residem há muitos anos em outros
Estados, como Caio Porfírio Carneiro, Sérgio Telles, Adriano Espínola, Carlos Gildemar Pontes,
Ronaldo Correia de Brito, Rinaldo Fernandes, Everardo Norões, Majela Colares, entre outros, que
continuam publicando bons livros de contos com uma regularidade
impressionante.
P.S 2: Quem cita acaba
sempre esquecendo nomes, mas eu jamais poderia omitir três recentes lançamentos: "O Romance que Explodiu", de Carlos
Emilio Corrêa Lima (que já havia publicado Ofos,
de narrativas, nos Anos 70), "Malindrânia",
do poeta Adriano Espínola (que faz sua estreia no gênero conto) e "O Professor de Piano", de Rinaldo de
Fernandes (maranhense hoje radicado na Paraíba, mas que fez faculdade,
co-editou a revista Acauã e publicou
seus primeiros livros por aqui).
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