Foto: Diário do Nordeste
Data: 14 de junho, às 19h
Local: Livraria Cultura
Investimento: R$ 52,50
Sobre a obra: Matéria do Diário do Nordeste
Na
próxima quinta (14), o escritor e jornalista cearense Lira Neto vem a Fortaleza para o lançamento de Getúlio: dos anos de formação à conquista do poder, sobre o início
da trajetória política do ex-presidente da República. Reconhecido por seu
trabalho com biografias, entre elas a de José de Alencar, a da cantora Maysa e
do Padre Cícero, Lira optou por explorar a vida de Getúlio em uma trilogia,
frente à dimensão de sua figura para a história do País e à complexidade do
personagem.
Os
segundo e terceiro volumes já estão em produção e devem ser lançados em 2013 e
2014, respectivamente (com os subtítulos (1930-1945):
do governo provisório à ditadura do Estado Novo e (1945-1954): do retorno pelo voto até o suicídio).
Pouco
usual para um projeto no gênero de biografia, a escolha pelo formato de
trilogia, aliada à importância de Getúlio, já seria suficiente para chamar
atenção do público.
O
impacto do lançamento, porém, foi ampliado a partir de questionamentos
suscitados por outros pesquisadores, historiadores e escritores sobre as
afirmações de Lira Neto quanto ao ineditismo de documentos levantados durante
pesquisa para o livro.
Segundo
o historiador e jornalista Juremir Machado, um dos principais divulgadores do
imbróglio, Lira não poderia afirmar, como fez em entrevistas a diferentes
veículos de comunicação, que foi o primeiro a analisar determinados documentos
citados em Getúlio, ou, ainda, a
trazer à tona os fatos a eles relacionados.
Em
posts publicados nos dias 18 e 23 de maio, em seu blog vinculado ao jornal Correio do Povo (RS), Machado detalha
quando, em que obras e por quais autores esses documentos e fatos sobre a vida
do ex-presidente já foram explorados.
O
também escritor e jornalista Fernando Jorge, Lutero Vargas (filho de Getúlio),
o escritor e roteirista José Louzeiro, o jornalista e historiador Antônio
Augusto de Lima Júnior, o memorialista Ciro Arno e o autor Pedro Rache são
alguns dos nomes citados por Machado.
Um
dos documentos da polêmica é o discurso de formatura de Getúlio, então com 25
anos, na Faculdade de Direito de Porto Alegre, em 1907. Sobre o documento,
Machado ressalta que Fernando Jorge já o havia evocado e analisado no segundo
volume de seu Getúlio Vargas e o seu
tempo, publicado em 1994 e ganhadora do Prêmio Clio, da Academia Paulistana
de História.
O
próprio Fernando Jorge chegou a enviar carta à revista Veja, com o objetivo de rebater informações veiculadas em nota
sobre o livro, na qual era exaltado o ineditismo do teor do discurso.
Os
outros dois casos dizem respeito a acusações por parte de adversários de
Getúlio (em especial o jornalista e político Carlos Lacerda), sobre sua
participação em dois assassinatos - um aos 15 anos, junto com os irmãos, de um
estudante paulista, durante uma briga em Ouro Preto (MG); outro quando já era
político, de um índio no Rio Grande do Sul. Nos dois casos, era inocente; no
segundo o condenado era um homônimo.
Machado
ressalta que, no livro Getúlio Vargas, a
revolução inacabada, de 1988, Lutero Vargas esclarece as acusações, no item
no item "Os quatro crimes da Tribuna
de Imprensa". A passagem é citada pelo próprio Machado, em seu romance
biográfico Getúlio.
"O
processo de Ouro Preto inclusive encontra-se analisado folha a folha no livro
de Augusto de Lima Jr., Serões e Vigílias.
A descoberta de que um homônimo de Getúlio assassinou um índio no RS também
saiu em vários livros", frisa o gaúcho. "Álvaro Larangeira também
publicou no site do Observatório de Imprensa, texto sobre esse falso
ineditismo", complementa Machado. Larangeira é jornalista, professor da
Universidade Tuiuti do Paraná e organizador, com o historiador Décio Freitas,
de Getúlio Vargas - A Serpente e o
Dragão: dissertações acadêmicas (2003).
Discussão
As críticas de Machado e os autores por ele citados dizem mais respeito às declarações de Lira durante a divulgação do livro do que à obra propriamente dita, ou mesmo à velha discussão em torno da oposição do fazer jornalístico e historiográfico.
As críticas de Machado e os autores por ele citados dizem mais respeito às declarações de Lira durante a divulgação do livro do que à obra propriamente dita, ou mesmo à velha discussão em torno da oposição do fazer jornalístico e historiográfico.
"O
livro tem texto agradável, tem riqueza de detalhes, é uma boa obra. Mas não tem
ineditismo. Não tenho nada contra Lira, mas o que não se pode fazer é dizer que
se fez descobertas inéditas quando elas não são", alfineta.
Para
Machado, "um jornalista pode fazer ótimos trabalhos de história, desde que
aceite as regras desse campo. O que Lira está fazendo é tentar requentar
determinados assuntos para transformar em manchete, esquema típico para atrair
leitores. Tem a ver também com a ignorância dos próprios jornalistas, que
compram gato por lebre", complementa o gaúcho.
De
2011 para cá, Lira Neto mudou um pouco o tom de suas declarações, passando do
"ineditismo" para um certo "pioneirismo". Em janeiro de
2011, o cearense concedeu entrevista ao jornal Folha de São Paulo, na qual afirmava, sobre as acusações de
assassinato de Getúlio, que "se tratava de um erro histórico que estava
sendo perpetuado".
Quase
um ano e meio depois, em meio ao lançamento do primeiro volume da trilogia,
novamente em entrevista à Folha, Lira
explica que não foi o primeiro a dizer isso (sobre os fatos envolvendo
Getúlio), "mas o primeiro a fazê-lo com base em provas documentais”.
"Desafio qualquer pessoa a mostrar onde estão as citações ao inquérito
original. Os documentos estavam intactos nos arquivos, fui o primeiro a
manuseá-los", ressaltou.
Ontem,
o autor falou sobre o imbróglio mais detalhadamente ao Caderno 3: "Na
biografia que escreveu sobre o pai e que é citada em meu trabalho, Lutero
Vargas defendeu a tese de homonímia no caso do assassinato do índio Tibúrcio.
Mas não apresentou nenhum documento. Como jornalista, rigoroso no tratamento
das fontes, jamais poderia me contentar apenas com a versão familiar. Localizei
não só os autos do processo como o registro de nascimento do homônimo, ambos
inéditos em livro", esclarece.
No
caso do discurso de formatura, Lira explica que "os fragmentos que se
conheciam desse texto, publicados em outras obras igualmente citadas por mim,
omitiam um dado fundamental: o anticlericalismo extremado do jovem Getúlio,
tema delicado, que até então condenara a íntegra do discurso ao esquecimento da
história. Por fim, no caso de Ouro Preto, o filho do juiz encarregado do
processo, Augusto de Lima Jr., reproduziu em um livro publicado em 1952,
indicado nas notas bibliográficas do meu, frações dos depoimentos das
testemunhas, para tentar absolver o pai da acusação de ter sido conivente com
os Vargas. Mas o conjunto dos autos do crime também permanecia inédito e
desconhecido do público, sem nunca ter sido trabalhado e detalhado antes por
fonte isenta", complementa o escritor.
Trabalho
Polêmicas a parte, a trilogia de Lira Neto sobre Getúlio Vargas promete fincar lugar em meio à coleção de obras já existentes sobre o ex-presidente. Não por acaso, o escritor vem se dedicando ao trabalho desde 2009. "O primeiro ano consistiu em fazer uma exaustiva revisão bibliográfica de tudo o que de mais relevante existe na caudalosa bibliografia em torno de Getúlio", recorda.
Polêmicas a parte, a trilogia de Lira Neto sobre Getúlio Vargas promete fincar lugar em meio à coleção de obras já existentes sobre o ex-presidente. Não por acaso, o escritor vem se dedicando ao trabalho desde 2009. "O primeiro ano consistiu em fazer uma exaustiva revisão bibliográfica de tudo o que de mais relevante existe na caudalosa bibliografia em torno de Getúlio", recorda.
"Outro
ano foi consumido na tarefa de organizar o roteiro geral da trilogia e na busca
de fontes primárias que ajudassem a reconstruir a trajetória do biografado
desde o nascimento até sua chegada ao poder, em 1930. Das 632 páginas do livro,
pelo menos 100 são de notas e referências às fontes de pesquisa", contabiliza
o autor.
A
ideia de biografar Getúlio já era antiga. "É o principal personagem - e o
mais controvertido - de toda a história brasileira. Desde meu livro sobre o
marechal Castello Branco, até o mais recente, sobre Padre Cícero, ele vinha
sendo personagem presente nas tramas. Decidi trazê-lo para o centro da cena
após receber carta branca de meu editor, Luiz Schwarcz, para me entregar ao
projeto da trilogia em regime de dedicação exclusiva", conta.
LIVRO
Getúlio (1882-1930) - Dos anos de formação à conquista do poder
Getúlio (1882-1930) - Dos anos de formação à conquista do poder
Lira
Neto
Companhia
das Letras
2012,
656 páginas
R$ R$
52,50
Mais
informações
Lançamento do livro "Getúlio", de Lira Neto. Dia 14 (quinta), às 19 horas, na Livraria Cultura (Shopping Varanda Mall - Av. Dom Luís, 1010, Meireles). Contato: (85) 4008.0800
Adriana Martins para o Diário do
Nordeste
Ora, pra que tanta polêmica? Na verdade o trabalho do Lira, sem lhe tirar o mérito, é um exercício de compilação. Getúlio já foi estudado por todos os ângulos. Agora, você ter acesso a todo esse material, em três volumes, é muito interessante.
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