Cruviana é
um ventinho que varre o Sertão de “dentro pra fora” – ao contrário do nosso
bendito Vento Aracati, que voa das praias longínquas esfriando nosso calorão
terra adentro. Dizem que o cruviana traz mau agouro, vem cheio de mandingas e
coisas ruins; eu mesmo não acredito, pois que mal pode fazer uma aragenzinha,
senão nos esfriar o juízo, nos trazer sonhos de outras terras e mares,
levantando de quando em vez as saias das sertanejas.
Verdade que
Guimarães Rosa antevia o Diabo redemoinhando nos terreiros, e o sonso
vento-encanado entorta bocas e revira olhos... Nesses casos acho que o ventinho
é mero transporte, grota que traz água boa e ruim.
Mas quem
chegou mesmo de mansinho foi a revista potiguar Cruviana – de contos, como a nossa cearense Caos Portátil – assoprada pelo escritor e editor José de Paiva
Rebouças, que antes da quinta edição em papel já havia mostrado quatro números
na internet. Revista com cara de livro, variação de temas e estilos em seus
bons relatos.
E esse
norte-rio-grandense casado com uma bela cearense chega, como o vento que dá
nome à sua publicação, de mansinho mas procurando companhia: quer interagir com
escritores de outras terras e convoca os contistas cearenses para participar
com nossas histórias e ideias, com nosso jeito bom para agrupamentos e
convivências fraternas.
Aproveitemos,
pois, essa saudável ventania, essa atitude rara entre literatos, de diálogo
franco, de ir juntos com os outros, de mãos dadas: que a subida é pedregosa, e
longa demais para se ir sozinho.
LITERATURA
CEARENSE
Semana passada aconteceu o I
Simpósio sobre Literatura Cearense, trazendo o tema “Para onde vai a
Literatura?”, como parte integrante do o X
Encontro Interdisciplinar de Estudos Literários, do Programa de
Pós-Graduação em Letras, da Universidade Federal do Ceará. Foi capitaneado pela
estudante (e jornalista) Lilian Martins, com apoio de Raymundo Netto (que
juntou mais de uma centena de livros nossos para serem sorteados com os
estudantes*) e outros abnegados.
O evento propiciou diálogos saudáveis entre nossos esquecidos escritores
cearenses e jovens estudantes universitários; os debates, que aconteceram no
auditório José Albano, vivificaram um pouco a nossa literatura, pois trouxe
para dentro dos muros acadêmicos um pouquinho de nossas letras.
Quem sabe com repetição de encontros como esses as nossas instituições
de ensino consigam se manter mais próximas do que é feito aqui fora dos muros
acadêmicos, o que acredito contribuir muito para o engrandecimento não só da
literatura cearense, mas da própria instituição, que necessita dialogar mais e
mais com os diversos segmentos sociais do nosso estado.
(*) na realidade, o blog AlmanaCULTURA disponibilizou cerca de 200 exemplares distribuídos entre 170 títulos, aqui divulgados.
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