Fonte: O POVO (Deivyson Teixeira)
“Incêndio!”
O verbete vaporava vespertino num arrebol domingueiro.
Corria
os olhos em busca de notícias, logo elas, pela internet. Uma cortina de fumaça
cobria os acontecimentos em tempo real. As fotos postadas angustiavam. As compridas
chamas lambiam o céu de uma Aguanambi que ardia.
Também
não sabíamos que o legado de Prometeu seria tão afeito a livros. Devorou-os um a
um, deliciando-se de uma sentada só, num repousante lusco-fusco de uma tarde de
domingo. Passantes alegavam até receber as suas migalhas, em flamas, a pousar
nas ruas aledoras de arredores.
E,
foi no calor da hora, sem trocadilho, que os jornalistas e outros profissionais
se reuniram e, dirigindo-se à redação da TV, se obstinariam a encerrar a edição
de segunda, que bem ou mal sairia às ruas. E saiu!
Esse
espírito de coragem é uma das marcas presentes na redação de O POVO, conforme
lemos nos históricos ou mesmo ouvimos nos corredores nas histórias saborosas de
vida contadas pelo Gutemberg ou pelo Mauro Sales. Nem sempre, entretanto, as
coisas aconteciam como se queria, pois muitas foram as vezes que o jornal foi
impedido de sair ou saiu sobre a pressão de obstáculos ou da intolerância,
causando desabores e roendo, aos poucos, o ânimo daqueles que abraçavam o jornal.
Logo nos seus primeiros anos, por exemplo, O POVO passou por querelas de foro
jurídico por conta de artigos ineditoriais e por salvaguardar as suas fontes
fornecedoras, além de ser perseguido politicamente pelo governo cearense por
sua ação a favor da Revolução de 30, como também sofrera a censura
estadonovista e, futuramente, a censura militar dos “anos de chumbo”, quando,
em 1971, ao noticiar a prisão de José Vasconcelos Dantas, a Polícia Federal
recolheu toda a sua edição, o que fez O POVO enviar um indignado telegrama ao,
então, ministro da Justiça, Alfredo Bussaid. Foi criticado e malvisto quando estampou
o anúncio comercial de Luiz Carlos Prestes, na época, exilado em Buenos Aires.
Sofreu com a economia desmantelada pela quebra da bolsa em 1929, e durante
longos anos, amargou a desvalorização da moeda brasileira e o alto custo dos
insumos e do papel, ou, muitas vezes, a dificuldade de encontrá-los nas
condições de produção do jornal, razão pela qual teve de, durante o seu
percurso, criar formatos diferentes sempre que não os conseguia. No período da
II Guerra Mundial, buscava papel em estados vizinhos, ou mesmo os pedia emprestado
aos concorrentes – só começou a trabalhar com estoque em 1943. Pela necessidade
de atualizar seu maquinário, vários foram os momentos que não pôde imprimir sua
folha – poucos jornais da década de 1928 tinham uma gráfica própria. O POVO já
começava com a aquisição de uma “Alauzet”, de segunda mão, que com o tempo foi
substituída pela alemã “Planeta”, seguida pela rotaplana “Duplex”,
posteriormente, pela rotativa MAN, trocada pela Goss – a primeira do tipo
off-set –, e assim por diante, sempre comemorando a sua renovação, assim como
também a compra da primeira sede-própria, na rua Senador Pompeu, 1082, cuja fachada
foi desenhada por Emílio Hinko. Duras
sempre foram, mesmo quando exitosas, as campanhas em busca de assinaturas e de
novos anunciantes, que consolidavam o jornal no mercado e popularizava o seu
“Populares”. A distribuição também era prejudicada pelas malqueridas quedas de
energia de dia inteiro, como em 10 de novembro de 1947, na época da “Light”. Não
poderíamos deixar de registrar a alteração de ânimos a cada perda de um de seus
líderes, como foi com Demócrito Rocha, Paulo Sarasate, Creuza Rocha, Albaniza
Sarasate e, ao fim, de Demócrito Dummar.
Entretanto,
curiosamente, vasculhando as memórias de O POVO, é notório perceber que, após o
lamento da crise, seguiam-se as comemorações das boas novas e de grandes conquistas.
Neste
domingo, a cena parecia triste, mas trazia a feliz surpresa na solidariedade
das pessoas a se manifestarem por e-mails, ligações telefônicas, nas redes
sociais ou mesmo nos seus portões. Pequenas declarações de reconhecimento que,
o próprio fundador, no aniversário em 1941, parecia já assistir: “Temos a
impressão de que o Ceará inteiro, numa edificante demonstração de
solidariedade, porfia em estimular este órgão da imprensa, evoluindo em suas
relações com O POVO, compreendendo-lhe a sua alta finalidade e cooperando, de
maneira ativa, na realização de seus melhoramentos.”
Os
46 nomes que figuram na segunda página da edição de 7 de outubro de 2013, a de
nº 28.613, têm agora uma história “cujo valor somente os que lutam podem
devidamente estimar”.
E O
POVO, ainda febril, vai recebendo de volta todos os seus colaboradores. Em seus
olhos a temática “é de cortar coração”, o que sobra na disposição do recomeço, na
força de criar e garantir a edição de amanhã, a notícia no ar, sempre presente,
contando a história de todos nós para as futuras gerações. Que viva O POVO!
Parabéns pelo belo blog ! Abs.
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