Ontem tive a oportunidade de assistir à película norte-americana "Gravidade".
Tinha receio do filme ser muito enfadonho, afinal, a história se passa no
espaço orbital da Terra, onde a vida nem a graça são possíveis.
Nele, a atriz Sandra Bullock interpreta a dra. Ryan
Stone, uma mulher apática, em missão de conserto do Hubble com
uma equipe composta, dentre outros, por Matt Kowalski (interpretado pelo
inexpressivo George Clooney de sempre. Anteriormente, fora pensado em Robert
Downey Jr, mas...). Durante a operação uma imprevista "chuva de
destroços", consequência da destruição de satélites por um míssil, claro,
russo, destrói também o telescópio, além de estações espaciais de apoio e os
coloca num perdido e silencioso espaço sideral. Os momentos seguintes, com
ajuda de muitos jogos e alternância de planos de câmera, são de angústia, de
quase asfixiar-se com a dra. Ryan. A partir daí, a NASA se cala, e o deus "às
cegas" Houston sai de cena. O experiente (personagem, não o ator) Matt consegue
encontrar a Ryan. Então, a reboca, a acolhe e, aos poucos vai nos mostrando dela
a vida vazia, sempre a dirigir a esmo, em extrema solidão e silêncio, e a perda
da filha num acidente banal. Sem marido, sem namorado, sem família. Nada. Nem
saudade, pois, claro, saudade é coisa para quem tem alma.
O roteiro e a direção do filme é do mexicano Alfonso
Cuarón (diretor de alguns filmes, dentre os quais, "Harry Potter e o
Prisioneiro de Azkaban").
O enredo, apenas descrito, nos parece simples, mas o
roteiro e a narrativa fazem o serviço que vale à pena - aliás, na arte é sempre
o "como" que faz a diferença. Ah, aos românticos: não há nada de
historinhas adocicadas ali. Nada mesmo. Ainda bem.
O contraponto da grandeza da conquista humana e de sua
fragilidade diante do todo e do imprevisível são marcantes. Há uma metáfora que
acompanha com muita gravidade o filme desde o princípio, além de momentos quase contínuos de grande tensão e desesperança. Algo que no reporta à
escolha de viver ou não, seguida pelo momento uterino até o (re)nascimento, a
presença de nossos "anjos", o consolo da vida e da morte, o prêmio
para aqueles que resistem e optam pela vida, mesmo quando tudo nos empurra para
o fosso negro do esquecimento e abandono de nosso eu. A cena final nos remete a
isso: reaprender a caminhar. Sempre necessário. Mesmo sem Coca-Cola e amendoins
achocolatados, mesmo sem sorrisos e com muito silêncio. Pipocas!
Nenhum comentário:
Postar um comentário