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Hoje (24 de maio), no Programa "Autores & ideias", da FM Assembleia,
especial comemorativo dos 100 anos de Moreira Campos, dentre as falas, uma me
chamou atenção, a que se refere à ligação de Moreira Campos com o início do
Modernismo literário no
Ceará. E por quê? Porque já ouvi de muitas pessoas a afirmação de que o início
do movimento modernista no Ceará se deu na década de 1940 com o grupo Clã, do
qual Moreira faria parte.
Entretanto, o que
poucos sabem, é que o modernismo cearense teve sua primeira manifestação, na
verdade, com Mário da Silveira (1899-1921), autor do poema "Laus
Purissimae", composto entre 1920 a 1921, ou seja, antes mesmo da Semana de
Arte Moderna, a de 1922. Ainda em 1922, Jáder de Carvalho e Edigar de Alencar,
na coletânea Os Novos do Ceará no
Primeiro Centenário da Independência, também apresentavam poemas com
características modernas.
O jornalista Gilberto
Câmara, pai do nosso querido musicólogo Christiano Câmara, acolheu em sua casa
(a mesma em que ainda reside Christiano), em 1925, Guilherme de Almeida, que
aqui veio para palestrar no Theatro José de Alencar sobre o movimento
modernista do qual fazia parte e era um dos mais ferrenhos defensor.
O certo é que no ano de
1927 seria publicado o livro O Canto Novo
da Raça, de Jáder de Carvalho, Franklin Nascimento, Sidney Netto e Mozart
Firmeza (irmão do Estrigas), considerado o MARCO INAUGURAL DO MODERNISMO NO
CEARÁ, afirmação do crítico, ensaísta e poeta Sânzio de Azevedo, o maior
pesquisador e historiador da nossa Literatura Cearense.
Não é à toa que Assis
Brasil, em sua pesquisa, indica que: "O Ceará é um dos primeiros estados a
tomar conhecimento da Semana de Arte Moderna de 1922, deflagrada em São
Paulo."
Em 1928 e 1929, o
jornal O POVO, de Demócrito Rocha, assumiria o papel de veículo de difusão do
modernismo cearense, trazendo em suas páginas vários autores modernos, como
Mário de Andrade (do Norte), Filgueiras Lima, Heitor Marçal, Martins D'Alvarez,
Antônio Garrido (pseudônimo do próprio Demócrito Rocha), Rachel de Queiroz e alguns
dos demais autores já citados anteriormente. Culminou esse processo com a
elaboração e divulgação para todo o país do suplemento Maracajá (1929). Mas
essa é outra história.
Apesar de a produtora e
apresentadora Lílian Martins ter afirmado durante o programa, em uma fala posterior,
a correta posição do grupo Clã, ou seja, a de CONSOLIDAÇÃO do Modernismo no
Ceará, achei por bem lançar esse alerta, pois percebo que muitos ainda insistem
em divulgar esse equívoco, da mesma forma que muitos ainda apontam, desprezando
a vasta literatura existente a respeito, a Padaria Espiritual como um movimento
modernista, que é outro absurdo.
Tive o privilégio de
ser editor da 2ª edição de O Canto Novo
da Raça, com ilustrações de Audifax Rios e a apresentação de Sânzio de Azevedo, pela Secretaria da
Cultura do Estado do Ceará, 84 anos depois do lançamento da primeira edição,
assim como um dos editores da segunda edição de O Modernismo na Poesia Cearense: primeiros tempos, de Sânzio de
Azevedo, pelas Edições Demócrito Rocha (EDR). Aconselho a leitura de ambos,
assim como aconselho que assistam à reprise do Programa "Autores & ideias", na terça-feira, dia 27 de maio, às 20h, com a participação de
Sânzio de Azevedo, Odalice de Castro, Neuma Cavalcante, Geraldo Jesuíno, Leite Jr, Pedro Salgueiro, Carolina Campos e Paulo Linhares
(representando a curadoria da Bienal Internacional do Livro).
O programa, como
sempre, está ótimo.
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