A
Universidade Federal do Ceará me surpreendeu desta vez, tenho que admitir.
Entre
os dias 10 e 13 de dezembro de 2013, acontecerá a 10ª edição de seu tradicional
“Encontro Interdisciplinar de Estudos Literários do Programa de Pós-Graduação
em Letras”, realizado por meio de seus alunos de pós-graduação e reunindo pesquisadores,
professores e escritores, não apenas locais, e que, dentre seus objetivos, visa
promover o diálogo entre a produção acadêmica sobre estudos literários com as
demais áreas de conhecimento, o que é muito edificante, sabido que a literatura
é, dentre as artes, a que mais facilmente usa de empréstimo todas as
possibilidades de uma vida e, com emprego das palavras, as acolhe e as transfigura
em beleza.
O
tema do Encontro é “Para onde vai a literatura?” Claro, se Chauí estivesse aqui
talvez nos perguntasse: “E ela precisa ir para algum lugar?”, “E o que nos
interessa para onde ela vai?”, “E se ela vai, ela volta?”, “Afinal, e para que
serve a literatura? Para nada - nos responderia -, e defenderia o direito de ela
ser assim, desse jeitinho...” ou coisas do tipo Marilena clarividente de ser. Mas,
até aí, nenhuma novidade...
O
que me tomou de feliz assombro foi a realização, integrando o evento, do “I (primeiríssimo)
Simpósio sobre Literatura Cearense”, que “contemplará os estudos sobre a
produção crítica e literária de autores cearenses, contribuindo com o estímulo
ao conhecimento e pesquisa dessa vasta e importante produção bibliográfica, retirando-a
do ostracismo e ressaltando seu caráter original, irreverente e pioneiro [...]”
Ou seja, além de contar com a presença de alguns autores e fomentadores da
literatura cearense, teremos oportunidade de conhecer os novos pesquisadores da
produção local, além de abrirem espaço para lançamentos de obras contemporâneas
e realizarem sorteios de livros raros da nossa bibliografia do “Siará Grande”.
Sinceramente,
eu já vinha perdendo as esperanças com a UFC, desde as últimas ausências de
oferta da disciplina (infelizmente ainda) optativa de Literatura Cearense I ou
II ou de ambas, o que, diante da semestral incerteza, ainda é um problema. Também
nos é preocupante que muitos dos professores de literatura não tenham afinidade
nenhuma com o passado literário do Ceará, e perceber que raros são os que
encontramos em eventos literários na cidade. Também difícil constatar a
ignorância de alguns jovens alunos das disciplinas de pós-graduação a
investirem contra a literatura cearense, por birra, preferindo ostentar no
peito a mineira, a paulista, a carioca, a baiana, a do Sri Lanka, mas quando se
fala na cearense, torcem a boca azeda de papagaio: “Isso é bairrismo!”
Imagino
o quanto deve estar sendo difícil para esses corajosos estudantes da comissão organizadora
ousarem falar em literatura cearense logo onde: no Ceará! Deus os livre! Mas
cabe a nós, CEARENSES, e afins da literatura, que assistimos todos os dias a
essa ausência, que nos apropriemos dessas iniciativas, que as incentivemos, que
estejamos lá, participando, dando a nossa cara ao que é nosso e que até pouco tempo
parecia ser quase um tabu.
Entendamos
que estamos levantando a bandeira de um patrimônio, o literário, que as
editoras se negam a publicar, pois acusam não ser do interesse leitor, e que,
certamente, aos poucos, vão se resumindo em obras raras de bibliotecas, também
abandonadas pelo poder público, simplesmente porque a elite tabletizada e
ebuquizada não precisa delas. Melhor seria investir em mais parques aquáticos
ou aquários. Muita água, de deixar um Ceará inteiro sequinho.
Bem,
gente, o evento é aberto a todos e as inscrições também. Para nós, ouvintes, o
valor é uma ninharia. Vamos participar, divulgar e compartilhar.
E
quando nos perguntarem “Para onde vai a literatura?” Que possamos dizer: “Para
onde nós quisermos que ela vá!”
É incrível como seu texto reflete bem as questões que levantei ao criar a identidade visual e as peças gráficas desses dois importantes eventos.
ResponderExcluirEnquanto Designer Gráfico, peguei-me pensando nas infinitas possibilidades criativas que a literatura nos oferece. São tamanhas. Tanto que parece que embarcamos em uma longa viagem sem destino ou fim, na qual somos presenteados, a cada página, com experiências e situações sempre ricas de significados e interpretações.
"E quando nos perguntarem “Para onde vai a literatura?” Que possamos dizer: “Para onde nós quisermos que ela vá!”
Que encerramento mais perfeito!
Netto, parabéns pela reflexão!
Obrigado, Helton, e parabéns pelo seu trabalho também, como sempre, muito bonito. Sensibilidade não é pra todo mundo, não...
ExcluirNetto, sinto-me de alma lavada e coração leve com suas palavras! Diretíssimas. Você tem sido testemunha desta verdadeira "odisseia" na UFC. Felizmente com imensa acolhida aqui do lado de fora da academia, do lado real da vida. Como idealizadora e coordenadora da organização responsável pelo Simpósio, eu agradeço imensamente sua (e agora tão minha) crônica-resposta! Gostaria de tê-la escrito, mas assim só poderia ter vindo de você! Sensibilíssimo. Muito agradecida (sempre)!
ResponderExcluirLilian, você sabe bem o que é isso, pois tem a oportunidade de conviver dentro da academia, conhecer de perto nossos maiores pesquisadores e nossos autores contemporâneos (muito deles sofrem reflexos do nosso passado), e por isso percebe bem o tamanho do problema. Esse semestre, mais uma vez, não ofertaram a disciplina de Literatura Cearense. A solução é torná-la OBRIGATÓRIA, mas, claro, há quem se negue a ver. Enfim, parabéns pela iniciativa e espero que ela dê frutos. A meu ver, já está dando.
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