O
rato roeu a rolha do rem... não, gente, isso é coisa do passado. O rato entrou
mesmo foi numa garrafa de Coca-Cola. Dentre todos os refrigerantes, ele, que é
rato mas não é besta, escolheu o melhor, o que “dá vida a tudo!”, porém, não
leu o manual de instruções, inebriou-se de caramelo IV até as fuças, tal qual um
d. Ratão da história da dona baratinha, que morreu porque enveredou com a cara
e a coragem num latão fervente de feijoada, tendo semelhante e trágico final. Acho
que era isso que o poeta Fernando Pessoa queria dizer quando escreveu o slogan
luso da xaropada: “Primeiro,
estranha-se; depois, entranha-se", o que convenceu o diretor de
saúde de Lisboa a jogar uma carga inteira de Coca no infante mar português, que
de salgado ficou doce, feito as lágrimas das raparigas.
A
Coca-Cola tem diversos defeitos, mas há um mais imperdoável de todos: ser
sucesso! A Pepsi, por exemplo, “pode ser”, mas a Coca “é isso aí”. Tem mais de
120 anos – foi criada em 1886, mas apenas em 1893 foi registrada –, tempo este
em que ostenta, com certa adaptação, a belíssima caligrafia original da
logomarca.
Nos
começos, ninguém nem queria pagar por aquilo, era dada de graça, depois vendida
em lojas de doces (com tampas de rolha), em bar, sorveteria, em farmácias, no
meio de rua, afinal, quem conseguia classificar o que diabo era aquilo: remédio,
refresco, enfeito? Só se sabia que fazia umas cosquinhas no nariz e ventava à
boca. Só em 1916 ela viria naquela garrafinha bojuda que conhecemos. O designer
queria fazer algo parecido com a fruta do cacau. Vai ver pensava que aquilo era
de chocolate.
Nos
anos 30, foi a Coca a enrolar as criancinhas com o gordo (de tanta Coca) Papai
Noel rubro-negro. Durante a Segunda Guerra, numa estratégia brilhante e pra lá
de curiosa, a Coca convenceu o governo dos Estados Unidos a levar na bagagem
das tropas americanas, ao invés da foto de cabeceira da família, uma
megareserva (e pequenas fábricas móveis) de Coca, o que fez dos soldados “cabeças
de papel” os seus maiores divulgadores por todo o mundo. Inclusive, em
Fortaleza, as mocinhas modernosas, fãs de cinema, comedoras de pop corns e fãs de pracinhas
estrangeiros do Cassino do Estoril, logo, logo seriam rotuladas, como as
garrafinhas, de “coca-colas”, sendo criticadas pela Igreja – sempre equivocada
com as “boas novas” – e pelos rapazes da vizinhança que descobriam não ser a
última Coca-Cola do deserto e que nem de longe beijavam como o Gable e o
Bogart... “Eu tomo uma Coca-Cola, ela pensa em casamento”.
Contam-nos
as línguas marrons que o Ministério da Saúde getulista teve de aumentar, nos
seus protocolos, a quantidade aceita de ácido fosfórico em refrigerantes para
que a Coca pudesse ser liberada no país. Na época, em experiência com ratos,
sempre os melhores degustadores da Coca, os ossos esfarelavam. O problema,
enfim, não é a Coca-Cola, é a falta de coador, gente. Tá vendo se vou parar de
tomar esse troço... Já não fumo, não bebo, não como açúcar, não ouço funk nem
forró de plástico... desse jeito vou viver muito e eu não quero não, ó. Viver
dói demais...
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