sábado, 23 de novembro de 2013

"Kennedy: a história recontada, 50 anos após Dallas", por João Soares Neto


“A mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou o presente irão com certeza perder o futuro.” (JFK)
Hoje, 22 de novembro, é data forte na história recente da humanidade. Há 50 anos, John Fitzgerald Kennedy- JFK, presidente dos Estados Unidos, morria assassinado na cidade de Dallas, Texas, vítima de um isolado atirador ou de complô, até hoje não bem esclarecido.
O menino “Jack”, seu apelido de família, era o segundo filho de Joseph Kennedy, empresário descendente de irlandeses, poderoso e, segundo muitos, sem escrúpulos. Joseph ganhou dinheiro de forma não republicana, como muitos ainda o fazem hoje no Brasil e no mundo. Achega-se a políticos, apoia-os generosamente, e, posteriormente, cobra, com denodo e ágio, o que doou. Joseph Kennedy chegou a ser, em uma das contrapartidas aos seus favores, embaixador dos Estados Unidos na Inglaterra. Quis que o filho JFK chegasse a Presidente. Assim aconteceu, mas as tragédias que se seguiram consumiram quase toda a sua família.
Joseph criou os filhos para o sucesso, mas a vida é caprichosa. O seu primeiro filho, também Joseph, morreu prematuramente na Segunda Guerra e coube, a John, educado com rigor e aprumo, com distinção na Harvard University, a honra de ser o primeiro escolhido, embora fosse tímido, mas brilhante. “Jack” também esteve na Segunda Guerra e dela saiu como herói da marinha por ter salvado colegas em um naufrágio. Assim, tempos depois, ingressa na política, elege-se deputado federal, senador e, em 1960, concorre com Richard Nixon à presidência. Sai vitorioso, ao lado da bela e elegante esposa, Jacqueline Bouvier, Jackie, descendente de franceses, que dava “finesse” ao casal. Segundo alguns historiadores, a vitória apertada foi discutível do ponto de vista ético.
Eleito, proclamou, na posse, um discurso histórico, feito a muitas mãos. Acercou-se de secretários (ministros, no Brasil) de alto nível e começou a governar. É bom lembrar, de passagem, que o mundo vivia a Guerra Fria, os EEUU brigavam com a URSS pela hegemonia espacial e a entrada dos soldados americanos no Vietnã foi respaldada por JFK.  Além disso, Fidel Castro, que derrubara Fulgêncio Batista, o velho ditador de Cuba e amigo da América, assume ser comunista e recebe total apoio russo, inclusive com a entrega de mísseis apontados para os Estados Unidos. Asilados cubanos nos EEUU, especialmente Flórida e de outros estados, em abril de 1961, tentam, com discreto apoio de JFK, uma invasão (Baía dos Porcos) atabalhoada para aniquilar Fidel e são derrotados. JFK fica silente. A tensão aumenta, mas o governo americano fica quieto, apesar de impor embargo econômico total – e ainda vigente – sobre Cuba, a pequena ilha, calo eterno do gigante americano. Quase houve uma guerra nuclear.
 Por outro lado, JFK e Jacqueline deixaram que se criasse o mito do casal perfeito, ressurgindo a lenda do castelo do Rei Arthur (século VI), conhecido pela peça “Camelot”, baseado no livro de Geoffre de Monmouth. JFK admitia que seu governo fosse uma espécie de Távola Redonda, com muitos Cavaleiros. Assim, a Casa Branca, tornou-se requintada e receptiva, fazendo convites a chefes de Estado, intelectuais, celebridades, escritores, poetas, personalidades e artistas. Acreditem, até a grupo de jovens líderes/estudantes universitários brasileiros - que estava cumprindo estudo na mesma universidade que ele cursara - e do qual eu fazia parte, foi convidado e bem recebido. Conversamos com ele, nos jardins internos, local onde recebia os chefes de Estado. Isto é, entretanto, mero e irrelevante detalhe.
O fato é que a reconhecida e proclamada virilidade de JFK foi despertada por muitas beldades, destacando-se Marilyn Monroe que teve a audácia de cantar, de forma adocicada, os parabéns no aniversário do Presidente, em festa palaciana, na presença da primeira dama, a cuidar de dois filhos pequeninos. Marilyn morreria logo depois, sem “causa mortis” esclarecida.
Assim, chegamos a novembro 1963. A administração de JFK, louvada pela maioria, sofria oposição dos republicanos e de parte da imprensa. Já em campanha para a reeleição, o casal sorridente e belo, chega ao Estado do Texas. O Texas fora tomado, narra a História, em batalha no século XIX, do território do México e, regularizado, posteriormente, por um ridículo acordo financeiro entre os dois países.
Na bela e trágica manhã/tarde de 22 de novembro de 1963, ensolarado e ameno outono, em carro aberto, desfilava em Dallas, o casal “Camelot”, elegante e radiante, acompanhado pelo governador Connaly e Nelly, sua mulher, era aplaudido pela multidão, cercado por carros e motocicletas com policiais e dois agentes dentro do veículo. JFK foi morto, na Praça Dealy, com tiros certeiros de fuzil, provavelmente por Lee Oswald.
Hoje, 50 anos depois, centenas de teses, estudos e biografias – autorizadas e não autorizadas, filmes de ação e documentários, levantam dúvidas sobre o fato, sequer esclarecido pela Comissão Warren, sobrenome do então presidente da Suprema Corte americana, equivalente ao Supremo Tribunal Federal. O relatório foi apenas conveniente e nada profundo. A maioria dos americanos acredita, ainda hoje, em conspiração. Máfia? Cuba? URSS? Texanos? Adversários/ L. Johnson?
Faço-me longo, mas não poderia deixar de me repetir, pois já escrevi – e escreverei  sobre JFK. Ele, aos nos receber, risonho e jovial, disse: “Quantos de vocês serão candidatos a presidente do Brasil?”. E a conversa foi bem além disso, apesar do protocolo.

Finalizo: Charlei Bartlett, jornalista americano, ganhador do Prêmio Pulizter, a maior honraria da imprensa, escreveu, ainda em fins de 1963: “Nós tivemos um herói como amigo. A coragem dele era incomum. Tinha ele um senso de humor incrível, uma inteligência penetrante marcada pela curiosidade e, em geral, uma incomparável galhardia. Ele era o que possuíamos de melhor... e, vamos com o passar dos anos recontar a história, com um pouco de assombro”. Foi o que tentei.

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