Raymundo, seu texto é excepcionalmente
bom. Um dos grandes prazeres em trabalhar com leitura crítica é justamente a
oportunidade de me deparar com textos como o seu.
Para começo de conversa, devo dizer que
tenho uma grande simpatia pela narrativa curta. Gosto muito do formato
"conto". Logicamente, apesar dessa "preferência", o que me
agradou no seu livro foi muito mais do que isso.
Sua escrita é impecável. O léxico
utilizado é excelente, inclusive com a ousadia (especialmente se tratando de um
autor iniciante) de criar neologismos, como um "aprendiz (ou antes,
discípulo) de Guimarães Rosa". Você maneja as palavras com desenvoltura e
criatividade, explorando toda a gama possível de significados.
Sem dúvida alguma, sua maneira de
escrever deixa claro que você é um leitor treinado, íntimo de textos de autores
sofisticados.
Sua linguagem é bastante expressiva e os
temas tratados têm o caráter universal da "grande literatura". Cada
conto é um mergulho na alma humana com suas peculiaridades, seus segredos, como
o da mulher que guarda uma singela boneca no sótão, deixando a todos
intrigados, ou o da cruel velhinha que, como a bruxa de João e Maria, cuida e
alimenta os gatos para poder devorá-los. Há um desfile de personagens que nos
emocionam com suas frustrações, decepções, seus despertares para um
auto-conhecimento triste e para a sua invisibilidade e insignificância para o
mundo que os cerca.
Podemos encontrar também contos que
trazem uma amarga ironia, como o da mulher que, no fundo, no fundo, fica feliz
por descobrir que o marido tinha um caso com a empregada, por sentir-se livre
de um fardo: o sexo com um homem a quem não ama mais.
Enfim, seus contos exploram a
complexidade humana de uma forma profunda e criativa.
Eu analiso os textos em dois níveis: o
da forma e o do conteúdo. Os seus contos são excelentes nos dois aspectos da
leitura.
Não me admiro nada com o fato de você
ter recebido o prêmio da Academia Cearense de Letras.
Se seu livro não tivesse sido publicado,
com certeza eu daria uma belíssima carta de recomendação para as editoras.
Não percebi nenhum aspecto negativo no
seu texto e, portanto, tenho apenas uma sugestão a fazer: continue escrevendo!
Um
abraço, Lúcia
Facco.
Lúcia Facco é graduada
em Letras (português-Francês), especialista e mestre em Literatura Brasileira,
doutora em Literatura Comparada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(Uerj), crítica literária e escritora. Tem Várias publicações
técnico-científicas, além de livros de ficção. É autora dos livros As heroínas saem do armário (GLS, 2004),
Lado B (GLS, 2006) e Era uma vez um casal diferente (Summus,
2009). Ganhadora do Prêmio Alejandro Cabassa (Melhor Livro de Contos), da União
Brasileira de Escritores, e o Prêmio Arco-Íris de Direitos Humanos, na categoria
“Literatura”. Editora da “e-mosaicos”: Revista Multidisciplinar de Ensino,
Pesquisa, Extensão e Cultura do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da
Silveira (CAP-UERJ)
Amigo, sou fã de Lúcia Facco, da mesma forma que sou tua fã de carteirinha. Ambos são ótimos escritores!
ResponderExcluirOi, Lucineide, não havia visto. Viva a amizade.
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