Ninguém
consegue explicar nos EUA como aquilo pode ter acontecido, como foi possível
que o Batman não tenha chegado a tempo de evitar a tragédia que se aproximava em
seu cenário de ficção, uma sala de cinema em Denver, Colorado. Mas o certo é
que até o próprio herói mascarado, surpreendido no dia de sua estreia, foi
incapaz de reagir a tão contundente ataque, logo de um de seus milhares de fãs.
Talvez ele estivesse esperando outro tipo de inimigo, além dos famigerados e
antipáticos Coringa, Charada, Pinguim ou da fatal mulher gato: provavelmente
esperava um hollywoodiano “terrorista” árabe ou iraniano, um guerrilheiro
colombiano ou zapatista mexicano, um agente russo ou chinês que, como os
terroristas de 2001, tivessem conseguido burlar todas as agências de segurança
nacionais do império para, invejosos que são, atacar em Gotham City. Mas também
não é a primeira vez que o “nosso” herói Batman se equivoca.
O
jovem James Holmes é apenas o último nome de uma extensa lista de assassinos de
pele branca ou clara com sobrenome irreprimível de “boa família” tradicional
ianque, que não precisou burlar qualquer controle de segurança para entrar em
território norte-americano e perpetrar sua matança porque já estava sendo
gestado dentro das entranhas do próprio monstro e também porque, provavelmente,
nunca saiu de lá para conhecer outras realidades socioculturais, como a
mexicana, a colombiana ou brasileira. Para que, se a “América” é
auto-suficiente e com o olhar da CNN e da Fox News ele podia “entender” as
coisas em outras latitudes?
James
Holmes é, afinal de contas, como muitos outros compatriotas seus, a própria imagem
e semelhança do “Batman”, do “Superman”, do “Spiderman” ou do “Rambo”, sempre
preparados para enfrentar e vencer os “inimigos da América” e também deve ter
passado a maior parte de sua infância e juventude em “Lan House” ou mesmo em
casa jogando “game” com seu super herói preferido. Povo que elege Arnold Schwarzenegger
governador da Califórnia é povo que vive a realidade como os personagens de
ficção. É a arte imitando a vida, afinal de contas. Não será ao contrário, no
caso?
O
nosso personagem James Holmes, ao matar 12 cinéfilos e ferir dezenas de outros
numa sala de Denver, não era nem de longe originário do Yemen ou do
Afeganistão, muito menos membro de uma célula dos “arquiinimigos” adeptos de
Bin Laden e de sua Al Qaeda (finalmente “eliminado” por Obama e jogado em alto
mar), esses que causaram, em “conluio” com Saddam Hussein, o derrubamento
sincronizado das Torres Gêmeas em 2001. Ele é um típico gringo nascido no
pós-guerra fria e no estado do Tennessee.
Holmes
(é ou não é nome de araponga?) muito menos professava a religião muçulmana ou a
hinduísta, nem se dedicava aos cultos satânicos, muito populares naquelas
terras nórdicas. Com seus viçosos 24 anos ele era, isto sim, de uma família de
classe média e fiel da igreja protestante, estudava medicina na Universidade de
San Diego, Califórnia, onde frequentava o núcleo de neurociências. Logo de
neurociência? Ao contrário, não vestia babuchas nem colocava turbantes, e sim o
clássico “jeans” e bonés com emblemas esportivos tão popularizados mundo afora
até chegar a terras tupiniquins dos acangabepas. Muito menos assistia a
programas de televisão de canais árabes como Al Yazira, e, sim, a CNN.
O
nosso cowboy ianque não comia quibes ou pão árabe. Para que, se para ser feliz
é suficiente abocanhar diariamente hamburgueres, sanduíches e batatas fritas
acompanhadas com uma dessas populares garrafinhas de cerveja ou da
“insubstituível” Coca-Cola. Essa sim, não pode faltar de jeito nenhum, nem lá
nem cá. Claro que também não calçava sandálias, mas o tênis de US$ 400,00 ou
US$ 1.000. Para nem falar em celebrar coisas “exóticas” como o ramadã ou o ano
novo chinês. Para que se o 4 de julho é “superior” a qualquer outra “coisa” que
se comemora em outros “obscuros rincões” do planeta? Holmes nunca leu ou sequer
ouvir falar no Corão, mas sua família provavelmente assina ou lê o Washington Post ou, se for um pouco mais
exigente intelectualmente, o New York
Times.
O
nefasto personagem James Holmes nunca foi um estudante meritório de nenhuma
madrassa talibã ou escola corânica, e, sim, frequentador de “campus” de uma
simples e comum universidade ianque. Não era mesmo simpatizante da Al Qaeda ou
da Jirad Islâmica, muito pelo contrário, aprendeu desde cedo a odiá-las como os
piores inimigos da humanidade, invejosos obstinados em destruir o “american
dream” e impedi-lo de frequentar seu cineclube local.
Nunca
jamais imaginou ou desejou algum dia peregrinar na cidade sagrada de Meca ou
tomar banho no rio Ganges. De qualquer maneira, Holmes já tinha feito algumas
excursões de montanha como “boy-scout”.
O
super herói (ou será vilão?) James Holmes não foi sequer detectado em nenhum
aeroporto, mesmo com as sofisticadas medidas de segurança de que dispõem as
autoridades do país dos ianques para prevenir ataques terroristas estrangeiros,
porque ele é um típico estúpido homem branco, um típico Homer Simpson, com
idade mental entre 6 e 12 anos, mas que adquire armas legalmente com a
facilidade de quem compra farinha nas feiras livres de Fortaleza e do interior,
bastando apresentar a identidade. E nem ouse Obama ou qualquer democratazinho
financiado direta ou indiretamente pelo intocável lobby representado pela
poderosa Associação Nacional do Rifle, falar em restringir o acesso a armas de
fogo a que “qualquer” cidadão, constitucionalmente, tem direito, um tabu
inexpugnável naquela sociedade alienada de tangedores de boi, cheiradores de pó
e fumadores de Maria Juana.
José
Alves
Professor,
tradutor e pesquisador em América Latina
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