quinta-feira, 26 de julho de 2012

"Batman contra James Holmes", por José Alves, para o AlmanaCULTURA.


Ninguém consegue explicar nos EUA como aquilo pode ter acontecido, como foi possível que o Batman não tenha chegado a tempo de evitar a tragédia que se aproximava em seu cenário de ficção, uma sala de cinema em Denver, Colorado. Mas o certo é que até o próprio herói mascarado, surpreendido no dia de sua estreia, foi incapaz de reagir a tão contundente ataque, logo de um de seus milhares de fãs. Talvez ele estivesse esperando outro tipo de inimigo, além dos famigerados e antipáticos Coringa, Charada, Pinguim ou da fatal mulher gato: provavelmente esperava um hollywoodiano “terrorista” árabe ou iraniano, um guerrilheiro colombiano ou zapatista mexicano, um agente russo ou chinês que, como os terroristas de 2001, tivessem conseguido burlar todas as agências de segurança nacionais do império para, invejosos que são, atacar em Gotham City. Mas também não é a primeira vez que o “nosso” herói Batman se equivoca.
O jovem James Holmes é apenas o último nome de uma extensa lista de assassinos de pele branca ou clara com sobrenome irreprimível de “boa família” tradicional ianque, que não precisou burlar qualquer controle de segurança para entrar em território norte-americano e perpetrar sua matança porque já estava sendo gestado dentro das entranhas do próprio monstro e também porque, provavelmente, nunca saiu de lá para conhecer outras realidades socioculturais, como a mexicana, a colombiana ou brasileira. Para que, se a “América” é auto-suficiente e com o olhar da CNN e da Fox News ele podia “entender” as coisas em outras latitudes?
James Holmes é, afinal de contas, como muitos outros compatriotas seus, a própria imagem e semelhança do “Batman”, do “Superman”, do “Spiderman” ou do “Rambo”, sempre preparados para enfrentar e vencer os “inimigos da América” e também deve ter passado a maior parte de sua infância e juventude em “Lan House” ou mesmo em casa jogando “game” com seu super herói preferido. Povo que elege Arnold Schwarzenegger governador da Califórnia é povo que vive a realidade como os personagens de ficção. É a arte imitando a vida, afinal de contas. Não será ao contrário, no caso?
O nosso personagem James Holmes, ao matar 12 cinéfilos e ferir dezenas de outros numa sala de Denver, não era nem de longe originário do Yemen ou do Afeganistão, muito menos membro de uma célula dos “arquiinimigos” adeptos de Bin Laden e de sua Al Qaeda (finalmente “eliminado” por Obama e jogado em alto mar), esses que causaram, em “conluio” com Saddam Hussein, o derrubamento sincronizado das Torres Gêmeas em 2001. Ele é um típico gringo nascido no pós-guerra fria e no estado do Tennessee.
Holmes (é ou não é nome de araponga?) muito menos professava a religião muçulmana ou a hinduísta, nem se dedicava aos cultos satânicos, muito populares naquelas terras nórdicas. Com seus viçosos 24 anos ele era, isto sim, de uma família de classe média e fiel da igreja protestante, estudava medicina na Universidade de San Diego, Califórnia, onde frequentava o núcleo de neurociências. Logo de neurociência? Ao contrário, não vestia babuchas nem colocava turbantes, e sim o clássico “jeans” e bonés com emblemas esportivos tão popularizados mundo afora até chegar a terras tupiniquins dos acangabepas. Muito menos assistia a programas de televisão de canais árabes como Al Yazira, e, sim, a CNN.
O nosso cowboy ianque não comia quibes ou pão árabe. Para que, se para ser feliz é suficiente abocanhar diariamente hamburgueres, sanduíches e batatas fritas acompanhadas com uma dessas populares garrafinhas de cerveja ou da “insubstituível” Coca-Cola. Essa sim, não pode faltar de jeito nenhum, nem lá nem cá. Claro que também não calçava sandálias, mas o tênis de US$ 400,00 ou US$ 1.000. Para nem falar em celebrar coisas “exóticas” como o ramadã ou o ano novo chinês. Para que se o 4 de julho é “superior” a qualquer outra “coisa” que se comemora em outros “obscuros rincões” do planeta? Holmes nunca leu ou sequer ouvir falar no Corão, mas sua família provavelmente assina ou lê o Washington Post ou, se for um pouco mais exigente intelectualmente, o New York Times.
O nefasto personagem James Holmes nunca foi um estudante meritório de nenhuma madrassa talibã ou escola corânica, e, sim, frequentador de “campus” de uma simples e comum universidade ianque. Não era mesmo simpatizante da Al Qaeda ou da Jirad Islâmica, muito pelo contrário, aprendeu desde cedo a odiá-las como os piores inimigos da humanidade, invejosos obstinados em destruir o “american dream” e impedi-lo de frequentar seu cineclube local.
Nunca jamais imaginou ou desejou algum dia peregrinar na cidade sagrada de Meca ou tomar banho no rio Ganges. De qualquer maneira, Holmes já tinha feito algumas excursões de montanha como “boy-scout”.
O super herói (ou será vilão?) James Holmes não foi sequer detectado em nenhum aeroporto, mesmo com as sofisticadas medidas de segurança de que dispõem as autoridades do país dos ianques para prevenir ataques terroristas estrangeiros, porque ele é um típico estúpido homem branco, um típico Homer Simpson, com idade mental entre 6 e 12 anos, mas que adquire armas legalmente com a facilidade de quem compra farinha nas feiras livres de Fortaleza e do interior, bastando apresentar a identidade. E nem ouse Obama ou qualquer democratazinho financiado direta ou indiretamente pelo intocável lobby representado pela poderosa Associação Nacional do Rifle, falar em restringir o acesso a armas de fogo a que “qualquer” cidadão, constitucionalmente, tem direito, um tabu inexpugnável naquela sociedade alienada de tangedores de boi, cheiradores de pó e fumadores de Maria Juana.

José Alves
Professor, tradutor e pesquisador em América Latina


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