O coração pulsava no seu
bolso, via-se.
Tangia as cordas
bicúspides e sangrava por dentro, passava num quase acreditar, num quase que
morrer de amor. Vinha.
Debulhado em sonhos,
postos com talheres à mesa, servido em ilusão cozida, ali, na hora, ao ponto de
gritar a bulha rouca e derradeira.
O coração pulsava em seu
bolso, o esquerdo, alto com listas vermelhas.
Era de dar dó, de dar ré
e, não para trás, mi. Fá solar sem dó.
O coração lhe estava a
pensar a vida, doente dela, apatiático, apertando o punho amargo de lembranças
como a chuva, no sereno ciano de um céu de entrelinhas de papel.
No cardial desejo
ruminava o vão do corredor da horta, e da porta, o trinco.
Gritava o grito mudo como
estalo dos cascalhos largados no fundo mais profundo de seu esquecimento de não
(mais) amar. Gritava ao mar.
As ondas respondiam-lhe
sempre que não, enquanto o céu deitava em suas costas no horizonte expectante
de uma tarde em solidão: Não!
As calçadas o guiavam na
mosaicidade de passos e pensamentos, corpos enlevos de volúpias, corpos nus de
alabastro, garatujas forrando papéis amarelos, deitadas em camas pequenas cobertas
por colchas desfiadas por patas de gatos sonolentos.
O coração inda pulsava em
seu bolso, numa incerteza arteriosa e dolente, absolvido de suas culpas venais,
não tão suas, não tão duras, não tão quentes, envolventes e coisas e tais.
Maçado em seu ponto, o
contraponto, o marcapasso e compasso, a sentença de sua costelação sem luz d’alva.
O sangue bruto vinha-lhe
vermelho, a amiudar o amor mais de perto, tornando tintas as paredes e teto, os
encanamentos e encantamentos, mole como doce do açúcar, molhado como beijo de
saudade, inesquecível quanto bilhete marcando página de agenda.
Ah, e era então quando o
coração calava o peito tão sincero, a ouvir de ela chegar, no zero, a ultrapassar
a porta e o olhar, o sorriso derramando da boca, a voz do bom-dia, e a razão do
incerto desse mundo a suturar seus cortes com fios de única alegria.
Lindo. Ferozmente apaixonante e lindo. Acho que tem de haver um bom motivo para esse tal pulsar...
ResponderExcluirÉ bom talvez esse começo desconcertante da descoberta. Uma descoberta para muitos ainda desconhecida, é com um sorriso e um toque que desejaria sentir esse mesmo coração pulsar...