O jovem Lustosa da Costa
Nos finais dos anos sessenta, o
Lúcio Brasileiro, o Lustosa da Costa, o Frota Neto, o Fernando Távora, o Dário
Macedo e alguns poucos mais formavam uma turma que se dividia, no começo das
noites, entre os restaurantes do Ideal Clube e do Náutico. Tive a honra de
participar desse grupo que, etilicamente ou não, discutia política e os
costumes da provinciana Fortaleza. A
esse tempo, Lúcio (Sociedade), Lustosa (Política) e eu (Administração&Negócios)
escrevíamos, diariamente - e por anos - no Correio do Ceará, dos Diários
Associados. Não contei as vezes em que fui deixá-lo na casa do Sr. Costa, seu
pai, na Piedade.
Depois, já nos princípios dos setenta, Lustosa,
Anastácio de Sousa e Eduardo Augusto Campos fundaram uma agência de
publicidade. A primeira reunião foi na minha casa. A meta era ter como cliente
maior o grupo Crédimus, do qual eu fazia parte. Destarte, assim foi feito.
Em seguida, Dorian Sampaio, abruptamente novel
cassado, achega-se a mim com a ideia de reeditarmos o Anuário do Ceará que
havia parado de sair com a morte de Waldery Uchoa. Do jeito doriano de ser, ele
me disse: quero que você entre. Pedi para ele fazer um projeto. Ele retrucou:
você me paga o trabalho? Claro, respondi. Dias depois, o Dorian volta com o
projeto. Li, estudei, paguei o combinado e falei: Dorian, arranje um sócio da
área. Assim, surgiu a sociedade Dorian-Lustosa para o "revival" do
Anuário do Ceará.
Em um dos sábados na cobertura do Lúcio
Brasileiro, no Iracema Plaza Hotel, Lúcio, Lustosa e eu fizemos um “pacto para
o futuro”, que já se faz quase passado. Prometemos que nos ajudaríamos
mutuamente em caso de necessidade. Isso não foi preciso. Cada um fez o seu
caminho, com luz própria.
No dia em que Lustosa resolveu mudar-se para o Rio
de Janeiro, perpetramos um bota-fora no San Pedro Hotel. Quem encabeçou a
homenagem foi Danilo Marques. Ficamos lá até a hora do seu embarque dorido para
o apartamento de fundos, na Av. Nossa Senhora de Copacabana,” Ali Lustosa fez
pouso, com o apoio do Orlandino Rocha,irmão do Ayrton, antes de se definir por
Brasília. Pouco tempo depois, Danilo e eu fomos visitá-lo no Rio e tive a quase
impossível incumbência de ensiná-lo a dançar, pois ele estava no mercado
afetivo carioca.
Jornalista diário, escritor compulsivo, integrante
da Academia Brasiliense de Letras, com quase 30 livros publicados, orgulhava-se
dos "atestados" que lhe deram Jorge Amado, José Saramago e Mia Couto,
para ficar nos mais notáveis. Por outro lado, mantinha lá, como aqui, grupos de
amigos que o festejavam sempre. Lá, Wilson Ibiapina e Fernando César Mesquita
expressam, em nome dos demais amigos cearenses-brasilienses, esse círculo
afetivo que se fazia permanente nas suas idas diárias ao Congresso Nacional,
sempre de paletó e gravata, e à sucursal do "Diário do Nordeste".Era
cioso de sua amizade com o Senador José Sarney e D. Marly, comensais recíprocos
em suas residências.
Vinha ao Ceará todos os meses. Aqui, entranhou-se
no anárquico-literário Clube do Bode onde, com sua voz anasalada, sob o olhar
cúmplice do Sérgio Braga, provocava Juarez Leitão, o irmão confidente eleito na
maturidade, para soltar o Juca Bacurim nas manhãs calorentas de sábado, que,
anos após, foram sendo amainadas em uma mesa redonda no climatizado bar do
Ideal.
Daqui partia de ônibus para Sobral onde ouvia as
conversas no Beco do Cotovelo, esmiuçava jornais, conversava com colegas de
seminário e, há alguns anos parar, perplexo, e admirar a Biblioteca Lustosa da
Costa, seu amor em forma de paredes e livros.
Em janeiro de 2007, convidei-o para integrar o meu
livro “Gente que Conta”, em que entrevisto dezesseis personalidades cearenses.
Ele respondeu a todas as perguntas que fiz em vinte páginas, com o coração
aberto, claro e sincero.
Há alguns dias, Juarez, Teles, Sérgio, Edmo e
outros demonstraram afetividade genuína para os mais de trezentos amigos que
estiveram no Ideal no lançamento da reedição de "Sobral do Meu
Tempo", 30 anos após 1982. Era, ao meu olhar, apenas um pretexto para que
gravássemos mensagens ao vivo, não tão brilhantes como os discursos do Juarez e
da Isabel Lustosa, sua irmã, mas tão enternecedoras como o texto da filha Sara
lido por sua tia, Lúcia Lustosa Benevides, na presença de D. Dolores e de seus
irmãos. Gente madura em preito de reconhecimento e benquerença.
Estes retalhos não são para demonstrar intimidade,
mas apenas dizer da longevidade de uma amizade que Brasília surrupiou. Casado
com Verônica, formou ali uma família que sempre fulgurava em suas crônicas,
pelo saber, a poliglotice dos filhos e as suas vidas independentes, brilhantes
que são. Isso eleva e enleva o esforço que ele fez para viver um ano e meio
sabático em Paris com toda a família, certamente atiçado por seu amigo e colega
de Faculdade de Direito, Paulo Elpídio.
Faço-me longo. Uso Leon Tolstoi para fechar esses
meus alinhavos com uma mensagem ao próprio Lustosa, à D. Dolores, seus irmãos,
Verônica e filhos: "Para se viver com honra é preciso consumir-se,
perturbar-se, lutar, errar, recomeçar do início e jogar tudo fora, e novamente
recomeçar... A calma é uma covardia da alma".
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