Amo por me pensar amante
(amo dizendo que amo pra testar se
amo de fato)
mas há um cansaço absurdo
ecoando lá fora e há também a
distância dos corpos
Amo tão arrebatado
que de tão ofegante não aguento fazer
planos)
É visceral, é sanguíneo
Não há amanhã
Te quero agora
Amo muito antes que chegues ao local
de encontro
Amo no retorno
na curva
na virada brusca
amo acidentalmente
amo na liquidez do cotidiano
ralo
frágil
pós-moderno
fragmentado
Amo na poesia engajada
e na inútil também
seja de Mallarmé ou de tom Zé
amo por me saber mulher
Amo desde a padaria
do teatro até a coxia
amo na encenação óbvia
amo de forma andrógena
sem tocar no sentimento
mas vivido gota a gota
e por isso tão impotente
como um lamento
ao primeiro gole de café
amo na fome
na fartura
desde os agrados
até a tortura
amo intacta de aproximação
amo de amores desconhecidos
dentre eles, tu, eu, a desilusão
amo de palavras fáceis
porque amor mesmo é tão difícil de
encontrar
Amo numa tosse contida
amo como gatos de olhos despertos
silenciosa, na luta consentida entre
mim e o que desejo ser um dia
e o que mereço ser
Amo em caminho ensolarado
ardendo em meus olhos o suor
o caminho longo
pernas quebradas
Amo na ópera das paixões sós
na acidez do cotidiano
na ironia com que convivo a anos
amo, porque antes
esqueci de amar mais a alguém
quem sabe a mim
E por amar dedico os versos mais
sentidos
que poderia ofertar
amo em Eneida, em Julieta, em Isolda
sou capaz de amar todas as outras
e esquecer quem sou
Amo nas enchentes dessa cidade
que em chuva de verão
transforma o dia todo em tarde
Amo coqueiros altos
que avisto ao longe
imponentes se revelarem
Amo em cerca de arame farpado
que de fronteiras a ultrapassar
saio cortado.
Enfim, amo
Das fugas cansei
das procuras também
É que te esperava há anos
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