Panela: Carlos Vazconcelos, Frederico Régis, Manuel Bulcão, Silas Falcão, Tércia Montenegro,
Poeta de Meia-Tigela, Pedro Salgueiro e Glauco Sobreira.
Quase
todos nós temos (ou tivemos), desde criança, nossas inevitáveis e fundamentais
“panelinhas”.
Primeiro,
pra mim, veio a “patota” da escola, seguimos juntos até a oitava série, com
raras baixas, uns poucos repetiram o ano, outros mudaram de cidade. Ainda hoje
quando nos vemos o coração bate mais forte, saudoso...
Depois
veio a “turminha” do futebol, amigos antigos que dividiam sonhos e pelotas.
Quase nunca os vejo, empurrados que foram para o “Sul” em busca da
sobrevivência. Enorme também é a alegria nos raríssimos reencontros. Vez em
quando sonho jogando com eles, os mesmos anseios, as mesmas emoções. Geralmente
acordo triste, um vazio fundo cala no peito.
Na
cidade grande as “cambadas” se sucedem com rapidez: veloz que a vida é por
aqui. Fugazes se foram os amigos do Colégio São João, da Agronomia, da História
e da Pedagogia. De quando em vez ainda encontro alguns até do tempo da
residência estudantil Réu 125, ali da Paulino Nogueira, na testa da Praça da
Gentilândia. Lá aprendi o equivalente a duas faculdades e meia, ou mais, na
antiqüíssima escola da vida.
Hoje
já coroa, barriguinha proeminente, cabelos poucos e grisalhos, não perdi a
mania de “corriolas”, qualquer motivo é válido para reencontrar os novos e velhos amigos. Uma vez por mês algum de
nós convoca o restante com um e-mail desabusado, não raro cheio de pilhérias e
grosserias. São os malfadados “Poetas de Quinta”, que começaram a se reunir no
Assis da Gentilândia às quintas-feiras e, devido ao barulho ensurdecedor do
referido bar, hoje vivem a migrar de bodega em bodega.
Alguns
levam livros para trocas, verdade que alguns tão ruins que sobram para os
garçons. Fala-se um pouco mais sério no início, mas depois se caminha
inevitavelmente para as amenidades.
Na
turma boa não há preconceito de credo, time ou cor (muito embora sejam
raríssimos os alvinegros ou fumantes). Não é fechada, muito pelo contrário,
está sempre aberta a novos penetras. A variação de pensamentos e ações é
notória: mas todos bebem ou dizem alguma coisa nociva. A gozação chega às raias
do quase intolerável. Vez em quando os “meninos crescidos”, para não dizer
“quase murchos”, perdem a compostura e saem da linha. Depois da terceira ou
quarta cerveja desatam a querer discutir sobre tudo o que é inutilidade pública
ou privada.
Nada
sério, felizmente, mas algumas rusgas ainda resistem ao tempo e ao perdão.
Nenhum dos velhotes se trata pelo nome verdadeiro: pulula uma variedade de
apelidos infames, mas geralmente pertinazes com (ou “ao”) o temperamento ou o
tipo físico do agraciado.
Uns
morrem de raiva, até o próximo encontro quando poderão enfim se vingar.
— Tu
lá entende de Maçonaria.
—
Entendo, sim, muito mais que você.
—
Deixa de ser ignorante!...
Alguém
toma partido só pra atiçar os litigantes. Logo mudam de assunto e daqui a pouco
já estão falando besteira a respeito de outro assunto.
***
Sei
que vou (se não morrer antes, claro) ficar velhinho procurando amigos para
encontrar e conversar besteiras, seja no alambrado do PV, no “Banco do
Pau-Duro” da Praça do Ferreira, no sofá da Livraria Arte & Cultura, ou num
boteco qualquer dessa imensa e sonsa loirinha desmilinguida pelo sol.
Às vezes a panela é de pressão; fumaça, chia e vez por outra explode. Onde estava o Netto nessa hora?
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